Não me perdoo por isso. Mas não me julguem (1)

Viver um ardente, viciante e delirante caso de traição pode até parecer ERRADO. Mas e quando acontece assim? Dá pra impedir?

Eu não sabia que existiam sites anônimos onde poderíamos nos abrir. Sempre tive muito receio de ser descoberta. E nem a minha melhor amiga sabe disso.

Sou casada há doze anos e sou bem conhecida no bairro. E muito respeitada também. Já recibi inúmeras cantadas de vários homens. Até de amigos do meu marido. Mas sempre sou muito cirúrgica nos foras que dou. É pra deixar seu chão mesmo. Principalmente os mais convencidos.

Mas ninguém é de ferro né!

E justamente o cara que eu menos imaginava que fosse me conquistar um dia, que virou a minha cabeça de tal forma que me fez perder o juízo.

Anderson. Meu cunhado. Não o irmão do meu marido. Mas o marido da minha irmã. E eu sempre fui contra o namoro deles. O cara sempre foi um tremendo babaca. Eu até perguntava pra ela o que foi que viu nele. Chegamos a ficar um bom tempo sem se falar, por causa de uma discussão em que eu botei pra fora tudo que pensava dele, na cara dela, durante um churrasco de Copa do Mundo. Foi quando meu marido e ele acabaram se pegando. Foi bem sério.

Passaram-se cinco cinco anos. E eu estava resolvendo umas coisas na cidade. Pedi um Uber, mas não tenho hábito de ficar conferindo. Eu já estava um tempo no carro, quando me dei conta de que ele era o motorista. Quando finalmente deixei o que estava resolvendo no celular. Ele não tinha falado uma palavra. Mas me olhava pelo retrovisor. Estávamos na Linha Vermelha e nem tinha como eu sair do carro. Fiquei furiosa. Fiz um comentário de surpresa desagradável. Foi involuntário. E então ele começou a falar, dizendo não entender o motivo que me levava a não gostar dele desde que eu ele namorava minha irmã. Eu pedi pra ele apenas dirigir ou eu ia notificar abuso para a Uber. Então ele disse que eu poderia fazer o que quisesse, que iria continuar falando. Eu estava a ponto de sair do carro, de tão nervosa que estava. Estava tudo parado. E ele falando no meu ouvido. Até que eu percebi que de fato não tinha motivo pra ter tanta raiva dele. Eu mesma me perguntei o que foi que ele tinha feito. E me dei conta de que eu tinha uma implicância injustificada. Que eu não fui com a cara dele e só. Ele me culpou por quase ter perdido a Ana por minha causa. E isso durante o namoro e pior ainda no fatídico dia em que procurei a briga entre ele e meu marido. Ele disse que achava que eu não passava de uma maluca, mas que essa maluquice só acontecia em relação a ele e ele nunca havia conseguido entender o porquê. Eu continuei em silêncio. Mas me sentindo mal. Ele tinha razão. O que me fazia ter tanto ódio dele? Chegou o meu destino e eu desci. Não me despedi. Mas mesmo me sentindo mal, eu o avaliei mal e fiz comentário de que ele foi abusivo.

Três dias depois eu recebo uma mensagem dê um número estranho. Só dizia: "Muito obrigado tá! Agora eu estou sem meu ganha pão. A Uber me baniu". Eu percebi que era ele. Mas não respondi. Apenas bloqueei. Mas fiquei arrasada com isso. Liguei para a Ana. Mas ela não atendeu. Então enviou uma mensagem dizendo que o Anderson havia contado tudo e que não queria papo nem me ver nunca mais. Contei pro meu marido. E mesmo ele não gostando do Anderson, por minha causa, ele considerou horrível o que fiz. Não sabia que era tão rigorosa assim a Uber. Isso acabou comigo. Fiquei mal por dias.

Então eu resolvi visitar a Ana. Queria sugerir eu ir com o Anderson na Uber e contar que ele não fez nada comigo. Explicar tudo. Ela não estava. Mas ele me recebeu. Ele realmente não estava trabalhando. Estava lavando a louça quando eu cheguei e Ana tinha voltado a trabalhar na loja de uma prima até ele conseguir alguma coisa. Nossa! Eu não aguentei e desabei em lágrimas. Realmente passei mal. Meu coração parecia que ia explodir. Desmaiei. E quando acordei estava no hospital. Eu tive um infarto.

Ele e meu marido acabaram fazendo as pazes nesse dia. Mas Ana jamais me perdoou. Algumas semanas depois eu entrei em contato com ele, o Anderson, perguntando se já tinha conseguido um emprego. Ele estava trabalhando em um aplicativo de entrega, já que estava banido na Uber e na 99. Eu combinei com ele de conversar em particular. Eu precisava muito tirar aquele aperto do coração. Mas não queria que Mauro e Ana soubessem. E também não fazia a menor ideia do que viria em seguida.

Paramos num restaurante na Tijuca. Ele perguntou como eu estava e parecia bem tranquilo. Eu disse que precisava pedir desculpas pra ele por tudo e que era sufocante a culpa que eu sentia. Mas ele ainda disse que eram suas passadas e que a minha recuperação era só o que realmente importava. Estava cheiroso. Muito cheiroso! Um perfume suave, que era preciso puxar forte o ar para sentir o cheiro. Mas eu nunca tinha sentido um cheiro tão gostoso. Ia perguntar sobre o perfume. Mas achei que ele poderia interpretar mal. A gente começou a comer. Ele super simpático. Boa conversa. Despretensiosa. Mas o jeito como falava, gesticulava e aquele perfume delicioso... Eu pedi licença e fui no toalete. Lavei meu rosto e me encarei no espelho. Era estranho! Mas eu estava mesmo sentindo algum tipo de atração por ele. Seria o perfume? O jeito dele, que parecia tão diferente. A forma como virava a cabeça e os olhos enquanto falava. Seus lábios se mexendo e a forma como a língua batia nos dentes e nos lábios. Até o jeito que segurava o copo e os talheres. O nosso de madrugar Tudo nele era atraente. E aquilo era inconcebível. E até aquele ponto eu não tinha deixado escapar nada. Como todos aqueles detalhes tinham passado desapercebido por mim durante tuas as vezes em que tivemos contato? Eu sabia que não tinha a menor chance de continuar alí. Tinha que ir embora. Ou...
...
Vou continuar depois pra não ficar muito longo. Eu precisava contar todo o contexto ou não faria sentido.