CYBERLUV 2
2
No sonho era o deserto da Fossa das Marianas.
Antes da revolução.
Quantos anos desse aquilo? Cem? Não, duzentos.
Acordei suado, a cidade cinza abaixo.
Com a luzes diminuindo de intensidade.
Os prédios eram colossais, mas estavam vazios, abandonados.
Era o Distrito do Pó. Tinha esse nome por dois motivos, o primeiro e mais óbvio, porque sem limpeza os ambientes juntava poeira que soprava de fora da cidade.
O segundo motivo era o tráfico.
Abaixo, estrangeiros eram como formigas. Tendas e casebres se confundiam em muitas cores e formas pelas ruas. Muitos dos prédios antigos estavam ocupados. E eles tinham a própria língua, algo entre português, espanhol, e uma língua dos povos do Deserto Negro, do leste, que chamavam sal.
Devido ao colapso da natureza, isso oitocentos anos antes, era impossível viver em pequenas cidades.
O oxigênio de qualidade advinha de sistemas de dutos, e era como água e energia, você pagava ou cortavam. O que resultou na criação de cidades com milhões de habitantes.
O fluxo de migrações aumentava ano a ano, e a dificuldade de respirar fora das cidades também. Em muitos pontos do planeta já não existia oxigênio se não em ambientes controlados.
As torres, espaçadas e espalhadas por toda a cidade, jogavam oxigênio sem filtragem pelas ruas das metrópoles, eram como monumentos, obeliscos com quilômetros de altura entre os prédios.
Mesmo ali, na área abandonada, ainda funcionavam.
O prédio da reunião era todo negro, coberto de areia cinzenta, que antes fez parte do fundo oceânico.
Lá funcionava um comércio que eu apreciava.
Era um clube com strippers, e também um lugar onde se podia usar qualquer droga com as putas. Além disso ainda filmavam pornôs em alguns ambientes.
Estacionei num andar no centro do edifício. A grande câmara recebeu meu veículo, que após sair enviei para fora, para plantar nas cercanias.
Não confiava em ninguém do lugar, apesar de o frequentar desse que mudei para essa cidade.
Desci as escadarias.
Não tinha energia elétrica em todos os andares.
O som da música alta me guiou até uma fila no terceiro andar.
Apenas homens na fila.
Segui, e analisei no visor em meu olho esquerdo, cento e treze homens. Alguns batiam punheta, nos corredores e escadarias mesmo.
Na ampla sala tinha uma câmera, um diretor e uma atriz.
A atriz era uma loira. Mais velha, mas com cirurgias. Os peitos eram enormes, sendo seguros enquanto ela seduzia a câmera. Ao redor dela os homens batiam punheta.
Na frente da atriz, uma taça enorme, alguns homens gozavam na taça. E depois eles passaram, um a um, a se aproximar da mulher. Eles gozavam na boca dela, e na cara.
Era um show e tanto.
O diretor me viu e me ordenou:
— Pro fim da fila!
— Estou procurando meu contato. Miguel. — era o que dizia na mensagem.
O diretor não pareceu conhecer. E os outros tão pouco.
Um dos seguranças se aproximou, e apontou para outra sala.
Estava curioso pelo fim do filme, mas segui, vendo a mulher chupando as rolas gozadas e os caras saindo pelo lugar que entraram.
A taça estava se enchendo rapidamente.
Na sala ao lado, o segurança, alto e forte, um moreno com uma submetralhadora nas mãos, apontou para o bar além de um salão. Lá eu vi o homem.
Ele era mais velho, cansado. Alguém que não se importava com cirurgias ou implantes. Parecia mais pobre que o comum.
— Miguel?
Ele fez que sim com a cabeça.
O olhar preocupado denunciava problemas.
— Sou o Jó. Me conte. Qual é o caso?
— É um dos homens do chefe. — o barman assegurou. E não era mentira. Tinha feito alguns trabalhos para Edgar, o dono desse estabelecimento.
— É um desaparecimento. — Miguel começou. Ele bebia uísque, o que também aceitei num copo ofertado pelo barman. — Minha filha.
Era um homem simples.
De poucas palavras.
Precisa conseguir mais que isso:
— Quando aconteceu?
— Não sei. Ela saiu na sexta. Descobri hoje que não foi onde disse que iria. Você sabe, não posso ir à polícia, tenho meus problemas. E trabalho aqui, como segurança.
O lugar era ilegal. E não se chega a segurança de traficantes com uma ficha limpa.
De certa forma meu trabalho era o trabalho da polícia, porém, para aqueles que não podiam procurar um sistema legalizado.
— Preciso do nome dela. De uma foto. E das redes sociais. Eu vou encontrar sua menina
— Precisa de mais alguma coisa? — ele me oferece a foto pelo smartphone, e depois procurou alguma rede social, mas não teve sucesso:
— Não consigo achar o site dela. — ele tremia ao falar. Estava bem nervoso. Era mais rápido eu mesmo avaliar.
— Tudo bem, já encontrei. — eu procurava com a mente conectada no ciberespaço, que funcionava como a internet, conectada diretamente nos implantes neurais.
Era mentira, só falei para ele se acalmar um pouco.
— Vou ir até a sua casa. Me diz o endereço. E também libera minha entrada se tiver segurança padronizada.
— Não tem segurança nenhuma. — ele me mostrou uma foto de um acertamento, paredes de plástico, improvisadas, e teto de metal, de alguma das ruínas ao redor.
— Vou ver o que encontro nas coisas dela. Se souber, me envia uma lista dos amigos dela. Você tem meu número.
O nome da menina era Valência Garcia, ou, para os amigos Luna.
Enquanto caminhava de volta aos andares acima, reparei na porra na taça, e anotei mentalmente para comprar o filme quando fosse lançado.
A puta loira, irritada, afinal nunca avisavam quantos homens participariam dessas cenas, me encarou enquanto me afastava.
Numa sala ao lado um porco era levado para outra cena.
A mulher, deitada num sofá, era uma morena de peito redondo, duros, claramente artificiais. Ela parecia jovem, vinte ou vinte e cinco anos.
O porco era pesado, então deixaram a mulher deitada enquanto colocaram uma placa metálica em cima dela. Os cascos do animal pisavam na placa e distorciam o metal com o peso.
A rola do bicho estava dura.
A mulher parecia incomodada. Ela falava com o diretor, reclamando do peso, mas ele gritava para ela calar a porra da boca.
Quando o porco encaixou a rola nela, deu para ver que a mulher se arrependeu de tudo que tinha feito na vida. Cabelos mel, longos, lisos, descendo e se espalhando no sofá vermelho enquanto o movimento do animal a movia.
Outros homens riam ao redor.
O porco, rosado, grande e gordo, se divertia.
Sei que é impossível, mas tinha um sorriso no focinho.
Ainda procurava online, e não encontrava nenhuma rede social da menina, o que era estranho. Sai nos primeiros dez minutos de gozada do animal. Ele ainda passaria um bom tempo enfiando porra na boceta da mulher.
Chamei o veículo, e deixei o prédio pelo quanto de cento e noventa andares.
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