Pagando a aposta pro meu primo. Parte 62
Dar um tempo. Para alguns, é apenas uma pausa necessária, um respiro para organizar pensamentos e sentimentos. Para outros, é o começo do fim — um lento desligamento que, mesmo sem ser definitivo de imediato, deixa marcas irreversíveis.
E então vem o recomeço. Não porque se quer, mas porque é preciso. Retornar ao ponto de partida nunca significa voltar ao que era antes. A cidade pode ser a mesma, as ruas podem ter os mesmos nomes, mas quem retorna já não é mais quem partiu.
Meu retorno para Volta Redonda demorou uma eternidade. Os minutos pareciam horas. Com o olhar fixo na janela do avião, tentei me concentrar naquelas nuvens brancas lá fora, mas Anderson insistia em invadir meus pensamentos.
Eu não conseguia aceitar como, de repente, tudo o que vivemos se tornou algo descartável. Entendo que ele esteja magoado, que tenha o orgulho ferido. Afinal, ele se sentiu enganado. Acredito que, no meu caso, omitir não é o mesmo que trair.
Até porque eu e Anderson nos envolvíamos, sim, mas, naquela época, não era algo tão sério. Era isso que eu tentava compreender: por que ele estava tão ferido se não tínhamos algo definido? E ele pede tempo e termina?
Isso me decepcionou profundamente. Para mim, "pedir tempo" é só uma desculpa esfarrapada — uma maneira conveniente de ficar sozinho, depois com outra pessoa e, no fim, querer voltar como se nada tivesse acontecido, sem estar com a consciência pesada.
Eu sei que não vai ser fácil. Sei que será um processo difícil porque eu vou sentir falta. Vou sentir falta de falar com ele todos os dias, das mensagens trocadas, de vê-lo na videochamada. Até da sensação de saber que o tinha, mesmo que distante. Eu sentirei falta, mas esse processo de abstinência será importante. É não tendo ele no dia a dia que vou começar a desapegar.
Agora, pela primeira vez, eu não tinha nenhum dos dois. Estava aqui, sozinho. Porque, até então, quando um terminava, eu tinha o outro. Agora, era diferente. Mas era preciso seguir e quando eu disse para o Anderson que não o esperaria, acredito que ele sentiu, que doeu nele. Mas tenho ainda mais certeza de que doeu mais em mim.
Enquanto aguardava na rodoviária do Rio para pegar o ônibus de volta a Volta Redonda, decidi que, pelo menos por enquanto, não contaria a ninguém sobre o término. Resolvi ser ainda mais radical: ficaria em casa, quieto, sem avisar a ninguém da minha chegada. Nem meus pais, nem meus amigos.
Eu simplesmente não queria dar explicações. Já bastava o desgaste emocional — ter que dar satisfação seria demais. Precisava de um tempo para mim, longe de perguntas incômodas.
Ao chegar em casa, tomei um banho demorado, como se a água pudesse lavar não só o cansaço da viagem, mas também a angústia que carregava. Olhei para a mala no canto do quarto e resolvi que, em outro momento, eu colocaria as roupas para lavar. Naquele instante, tudo o que eu queria era ficar deitado, em silêncio, sem receber nenhuma informação do mundo lá fora.
Acabei dormindo por horas sem contar. Quando acordei, já havia anoitecido. Vi que havia uma mensagem de Anderson, todo preocupado, querendo saber se eu tinha chegado bem, se estava tudo certo comigo. Ele pedia notícias. Primeiro, pensei em não responder. Mas, logo depois, lá estava eu, digitando uma resposta.
"Anderson, não vou dizer que estou bem, porque não estou. E respondendo sua pergunta, eu cheguei na medida do possível. Mas estou seguindo o baile. Você teve seus motivos para terminar, e eu respeito isso. "
Depois de responder, me arrumei. Precisava ir ao mercado comprar algumas coisas. Afinal a bicha tinha que seguir em frente, plena. Comprei o básico: itens de higiene pessoal, carne e até um sanduíche feito pela casa, de pão brioche, eu ainda não estava animado o suficiente para enfrentar o fogão e a cozinha.
Finalizei a noite em frente à TV, vendo séries, e por vez ou outra, mexia no celular, vendo vídeos engraçados e posts de pessoas pelo qual eu sigo, como os meus amigos.
No dia seguinte, acordei por volta de dez horas, e comecei então a lavar as roupas da viagem e arrumar a casa. Eu não tinha muito o que fazer, mas preferi ocupar meu tempo. Até que recebo uma mensagem de Gil. Ele era uma das poucas pessoas que me conheciam de fato. Gil, me conhecendo, sabia que eu não ficava muito tempo sem postar nada, nem se fosse no status, e foi por isso que ele desconfiou que estava acontecendo alguma coisa. A mensagem dele dizia: “Oi Amigo! Como está aí em Joinville? Não estou vendo mais suas postagens,espero que esteja bem. Saudade. Bjos.”
Como resposta eu mandei um emoji de coração com a seguinte mensagem: Relaxa amigo. Eu estou bem. Em breve vamos nos ver. Bjos.
Apesar de ser meu segundo dia em Volta Redonda, eu já estava começando a ficar entediado, trancado. Estava louco pra eu sair, mas eu não queria ser encontrado, ser visto por algum conhecido. Então, a minha rotina ainda era internet e TV. Mais tarde, Pedro me ligou. Eu não esperava por aquilo, porém não atendi, pois sabia que naquela altura do campeonato, ele já estava sabendo do meu término com o Manuel. E apenas mandei uma mensagem, dizendo... “Boa tarde, Pedro. Se você estiver me ligando para falar sobre o Manuel, saiba que eu não estou a fim de falar deste assunto. Pelo menos, não por agora. Espero que você respeite esse meu momento. Se for algo em relação ao serviço, me mande uma mensagem que eu lhe respondo. ”. E Pedro não me mandou mais mensagem. Ou seja, ele queria realmente falar sobre o filho.
À noite, recebi mais uma mensagem de Anderson. Desta vez, ele demonstrava preocupação. Reforçava a ideia de que, apesar de termos terminado, eu não precisava passar por aquilo sozinho. Ele disse que éramos parceiros de vida. E isso, para mim, era algo que não se encaixava. Terminou comigo, e agora estava preocupado? Sendo que, lá em Joinville, ele não tentou entender o meu lado. Não quis ter uma conversa mais profunda sobre o assunto.
Eu sei que ele foi bombardeado por informações, que era muita coisa para a cabeça dele. Mas, mesmo assim, eu esperava um mínimo de consideração. Um pouco mais de esforço para tentar entender o meu lado da história, e todo o contexto dela.
Desta vez, resolvi não responder. Eu agora estava querendo o tempo que ele havia proposto. Ou seja, só estava fazendo aquilo que ele havia começado. E, nessa de não respondê-lo, me senti pra baixo. Um sentimento de insignificância tomou conta de mim. Já não havia mais forças para chorar — eu havia chorado a viagem inteira no dia anterior.
No outro dia, acordei com alguém batendo forte na porta e gritando meu nome em alto e bom som. Como assim? Para alguém estar batendo na porta, no mínimo, essa pessoa teria que passar pelo portão, que estava trancado. Foi quando me lembrei: era o Pedro. Afinal, ele tinha a chave reserva e também havia me ligado no dia anterior.
Me levantei às pressas, gritando:
— Calma! Já vou abrir!
Lavei o rosto rapidamente, penteei o cabelo e corri para a porta. Ao abrir, me deparei com Ricardo. Ele estava ali, todo preocupado, e mal me viu já perguntou:
— Você está bem?
Sem esperar resposta, veio me abraçando.
Ainda abraçado comigo, meu irmão disse:
— Eu já sei de tudo. Anderson me contou.
Havia uma vontade enorme de chorar, mas não havia mais lágrimas para tal. Convidei-o a entrar, perguntando como ele havia conseguido passar pelo portão trancado. Ele riu e respondeu:
— Cara, uma vez eu pulei o portão achando que Anderson estava abusando de você. Acha que não pularia de novo sabendo que você está numa vibe ruim?
Agradeci, e ele foi me contando que Anderson havia ligado para ele na noite anterior, preocupado. Disse que me mandou mensagens, mas eu não estava respondendo. Ricardo, sem entender nada, pois achava que eu ainda estava com Anderson, perguntou:
— Mas ele não está com você?
Foi então que Anderson percebeu que eu não tinha contado a ninguém sobre minha volta. E assim, revelou toda a verdade para o meu irmão: falou da traição de Manuel, do nosso término e de tudo o que havia acontecido.
— Pois é, Ricardo! Acabou! E o pior é que a traição de Manuel respingou em mim. Ele se voltou contra mim, falando coisas que aconteceram no passado e que, de certa forma, fizeram com que Anderson não só terminasse o relacionamento com ele, mas comigo também.
Ricardo seguia atento, sério, sentado à mesa. Ele me olhou nos olhos e perguntou:
— Por que você não procurou a mim ou nossos pais?
Respondi, com um suspiro:
— Queria ficar sozinho. Esse lance de ficar se explicando é pra quem tem culpa no cartório.
Ele balançou a cabeça, como se não concordasse, e disse:
— Você sabe que se isolar não vai adiantar nada. Sabe que sempre é bem-vindo e que lá em casa você tem apoio.
— Sim, eu sei, Ricardo. Mas eu não quero deixá-los preocupados, nem atrapalhar. Eu tenho que lidar com isso sozinho.
Ele olhou firme para mim e respondeu:
— É por isso que eu estou aqui. Vim só pra te buscar, você vai pra casa. Nossos pais, mais cedo ou mais tarde, vão ficar sabendo. Eu vou conversar com eles para que esse assunto seja abordado só quando você se sentir à vontade para falar sobre. Mas aqui, sozinho, você não vai ficar. Nem que eu te pegue no colo e te leve à força.
Hesitei um pouco, mas ele foi insistindo. E brinquei com meu irmão dizendo que só ia porque eu estava sendo coagido.
Enquanto Ricardo foi me esperar no carro, peguei algumas peças de roupa, meu carregador de celular e um tênis, colocando tudo na mesma bolsa de viagem que já estava meio desgastada pelas idas e vindas. Quando finalmente entrei no carro, meu irmão me olhou e perguntou:
— Podemos ir? Tem certeza que não esqueceu nada?
— Podemos — respondi, fechando a porta com um suspiro. — É só isso mesmo.
Durante o trajeto, o silêncio entre nós era pesado, mas não desconfortável. Até que, em um momento, eu decidi quebrá-lo.
— Ricardo, preciso te pedir um favor.
Ele olhou para mim rapidamente, mantendo os olhos na estrada.
— Fala.
— Já que Anderson está mantendo contato com você, peço que fale pra ele evitar me mandar mensagens ou me procurar. Pelo menos por enquanto. Tudo ainda é muito recente, e ainda me machuca pensar que acabou.
Ricardo assentiu, entendendo.
— E quanto ao Manuel? — ele perguntou, com um tom mais sério.
— Ele não vai me procurar. Mas, se procurar, fala pra ele que quero distância.
Meu irmão não fez mais perguntas. Apenas concordou com a cabeça, respeitando meu espaço. E, naquele momento, eu soube que, apesar de tudo, pelo menos eu tinha alguém do meu lado.
Quando chegamos, meus pais estavam na sala. Minha mãe, ao me ver, abriu um sorriso enorme, mas logo perguntou, com aquela voz doce e preocupada:
— Filho, não era pra você estar em Joinville?
Antes que eu pudesse responder, Ricardo interveio. Ele se adiantou e, com uma calma que até me surpreendeu ele, contou a verdade para todos, falando sobre o término. Ele foi direto, mas cuidadoso, e finalizou dizendo:
— No momento, a única coisa que ele precisa é de apoio, de acolhimento. Não de ser interrogado.
Meu pai ficou em silêncio, apenas assentindo com a cabeça, enquanto minha mãe me olhava com aquela expressão de quem queria abraçar o mundo para proteger o filho. Ela se aproximou, me envolveu em um abraço apertado e sussurrou:
— Tudo vai ficar bem, meu filho. Nós estamos aqui.
E, pela primeira vez desde que tudo havia acontecido, eu senti um pouco de alívio.
Depois de receber abraços de todos ali, peguei minha mala e fui para o meu antigo quarto. Apesar de estar um pouco diferente do que era antes, eu ainda gostava de estar ali. Era um lugar familiar, seguro. Claro, algumas coisas me lembravam do Anderson e de Manuel — Era impossível fugir de tudo. As memórias estavam em cada canto, em cada detalhe. Mas eu entendi uma coisa: se eu fosse evitar todos os lugares e coisas que me lembravam deles, teria que parar de frequentar a casa dos meus pais e até mesmo mudar da casa onde eu morava. Afinal, principalmente lá, eu tinha vivido momentos intensos com eles.
Naquele dia, minha mãe decidiu fazer uma lasanha. Um jantar, sem estender a noite toda, mas foi suficiente para nos distrair, interagir e, é claro, encher o bucho. Depois do jantar, ninguém subiu para os quartos. Ficamos todos na sala, em frente à TV, assistindo ao desfile da escola de samba. A gente sempre gostou disso — talvez por ser parte da nossa cultura, ou só pelo clima de festa que trazia. Por incrível que pareça, naquele primeiro dia na casa dos meus pais, todo mundo respeitou o fato de eu não querer falar sobre o assunto. Nem durante a janta, nem depois, ninguém mencionou nada a respeito.
Quando comecei a sentir sono, pedi licença e disse que ia dormir. Meu irmão me deu boa noite, mas, antes que eu pudesse subir, ele perguntou:
— Maninho, qual é o plano de amanhã?
— Ficar em casa — respondi, sem pensar muito.
— O que é isso? Você não pode ficar trancado aqui também.
Foi aí que me lembrei dos meus amigos. Tive uma ideia e falei para o Ricardo:
— Que tal trazer a minha galera para cá? Faz tempo que a gente não reúne a família com eles. Não precisa ser uma grande social, pode ser um churrasco. Tranquilo, sem bagunça.
Ricardo deu de ombros, mas concordou:
— Cara, você que sabe. Você falou, está falado. Eu topo.
— Faz o seguinte, vou mandar mensagem pra eles e combinar alguma coisa.
Desejei boa noite a todos novamente e subi para o quarto. Logo que entrei, peguei o celular e mandei uma mensagem no grupo do WhatsApp dos meus amigos:
"Olá, cambada! Então, estou em Volta Redonda, na casa dos meus pais. Conversando com o Ricardo, pensei na possibilidade de convidar vocês pra vir aqui fazer uma social. Nada muito grande, nada de muita bagunça. É só pra bater um papo e colocar o assunto em dia. O que vocês acham?"
Não esperei as respostas. Já estava com sono e acabei dormindo antes que alguém respondesse.
Quando acordei no dia seguinte, peguei o celular e vi que havia mensagens dos meus amigos. Todos estavam animados com a ideia do churrasco. Já estavam perguntando o que precisavam levar e que horas seria. Mandei uma resposta meio debochada:
"Gente, acredita que nem eu sei que horas vai ser? Mas pode ficar tranquilo, vou ver com meus pais aqui e depois passo a informação pra vocês."
Logo depois, Letícia bateu na porta e entrou.
— Pensei que você ainda estivesse dormindo.
— Não, acabei de acordar — respondi. — O que te traz aqui?
Ela sorriu e respondeu:
— Sua mãe está começando a preparar o almoço. Pensei em te chamar para ajudar e, de quebra, ficarmos batendo papo na cozinha como nos velhos tempos.
— Tudo bem. Só vou tomar um banho e daqui a pouco eu desço.
Ela deu três passos em direção à porta, mas voltou.
— Renato, eu sei que você não está bem. Mas você sabe que aqui sempre teve uma amiga. Quando puder conversar e se sentir confortável, não pense duas vezes em me procurar.
Letícia era muito amada por mim, muito querida. Eu via sinceridade nela. Então, respondi:
— Letícia, não está sendo fácil, de verdade. Mas eu preciso seguir em frente. Pensar no Anderson ainda me traz uma angústia, uma tristeza. Por tudo que aconteceu. Mas esse será um assunto pra outro dia, está bem?
— Claro — disse ela, com um sorriso suave. — Vou te esperar lá embaixo.
Descer para ajudar Letícia e minha mãe foi um dos pontos altos do dia. Enquanto eu picava legumes, minha mãe falava da vida dela quando era mais jovem. Era engraçado ouvir minha mãe contando histórias da sua juventude. Eram outros tempos.
Quando chegou a hora do almoço, enquanto todo mundo estava comendo, eu perguntei:
— Pai, que horas vai ser o churrasco? Meus amigos querem saber.
Ele respondeu:
— Ah, fala pra eles virem por volta das sete horas da noite. Geralmente é quando a gente faz alguma coisa aqui, né, Renato?
Mas ele acrescentou:
— Fala pra eles trazerem as bebidas e meio quilo de carne cada um.
— Tranquilo — afirmei.
Aproveitando o momento, Ricardo falou:
— Então, o que vocês acham de eu chamar o pessoal do meu trabalho para participar do churrasco?
Meu pai não achou uma boa ideia.
— Ricardo, queremos uma coisa simoles e pequena. Sem muita bagunça. Então, deixa pra próxima. Tudo bem?
Ricardo nem insistiu.
Quando ele foi ao mercado comprar as coisas, me convidou para ir junto. Notei que Ricardo tinha essa preocupação de me fazer interagir com o mundo, de sair de casa, o que achei fofo da parte dele. Depois de pegar todas as coisas, ao passar no caixa, ele pegou o cartão para pagar. Mas eu não deixei.
— Deixa que eu pago.
— O que é isso, Renato? A gente pode dividir.
— Não. Eu já estou na casa de vocês, já estão tendo gastos comigo. Não é justo vocês pagarem. Meus amigos também vão vir. Deixa que eu pago.
Peguei meu cartão e insisti. Ricardo acabou cedendo.
No caminho de volta, ele comentou:
— Um dia desses, te levo pra conhecer a minha casa. Você vai ver como ela é maneira, Renato. Está faltando algumas coisas, mas até o casamento vai estar tudo pronto. Se Deus quiser.
Quando chegamos em casa, vi o carro do meu tio estacionado na frente do portão. No entanto, algo já me dizia que a tranquilidade do dia seria interrompida com a visita deles.
Minha tia, assim que me viu, veio direto até mim com uma expressão preocupada.
— O que aconteceu com você e Anderson? — ela perguntou, sem rodeios.
— Como assim?— Perguntei, tentando manter a calma.
O que aconteceu entre você e Anderson? — Ela insistiu na pergunta — Ele disse que acabou tudo?
— Sim, tia — confirmei, sentindo um nó na garganta. — Acabou tudo. Não há mais relacionamento entre eu, seu filho e Manuel.
— Meu Deus, porque você fez isso? Agora ele está lá agora, sozinho naquela cidade — ela disse, com os olhos cheios de preocupação.
Minha mãe tentou interferir mas eu olhei para ela, ainda com os olhos marejados, e respondi com um suspiro:
— Pode deixar mãe.
E olhando para minha tia eu disse:
— Tia, foi seu filho que terminou comigo. Ele quis assim. Ele não te contou isso? Além do mais, seu filho não é mais criança, tia. Ele é um homem. Ele sabe se virar. A propósito, ele deve ter te contado que agora tá morando sozinho. Passou na experiência, se livrou de Manuel.
Houve um silêncio pesado. Minha tia parecia estar lutando para entender tudo.
— Entendo sua preocupação com seu filho. E comigo, você não se preocupa? Afinal, eu sou seu sobrinho também. Eu amo seu filho. Muito. Mas eu não vou insistir mais. É sobre isso.
Ela sentou no sofá enquanto meu tio acariciava as costa dela.
— Agora ele está lá, liga só quando quer…
— Tia, você sabe mais do que ninguém que eu tentei fazer com que Anderson se aproximasse de vocês. Tanto que, assim que cheguei em Joinville, reforcei a ideia dele te ligar. Ele falou que ligaria. Ele te ligou?
— Sim, ontem.
— Ah, então é por causa disso que você está aqui.
Minha tia ainda tentou mais uma vez.
— Renato, me faz um favor. Liga pra Anderson. Tenta garantir que ele vai me ligar, pra eu ficar menos preocupada.
Eu respirei fundo, sentindo o peso daquela situação.
— Tia, eu não vou ligar para o Anderson. Não vou fazer isso, porque decidi não me humilhar mais. Não vou implorar mais por atenção. Peça para outra pessoa fazer isso, como o Ricardo. Mas não eu.
Ela não desistiu. Com um tom mais firme, quase indignado, argumentou:
— Mas ele é seu primo, acima de tudo. Vocês deixaram de ser namorados, mas ele é seu primo. E você vai deixar de se importar assim, do nada? Você não ama tanto ele, como disse agora há pouco?
Respirei fundo novamente, segurei as lagrimas.
— Eu o amo, e não retiro o que eu disse. Todo mundo aqui nessa sala sabe o quanto eu lutei por esse amor. Lutei até contra minha própria família, contra vocês, nadei contra a maré. Mas talvez todo esse esforço não tenha sido suficiente.
Minha voz falhou, e as lágrimas começaram a escorrer.
— Agora, me dá licença, eu não quero falar mais sobre isso. Tanto que eu vim pra casa dos meus pais justamente para distrair minha mente, para não pensar em seu filho, para não pensar em Manuel, para não pensar em ninguém.
Letícia, percebendo que eu estava à beira de um colapso, veio até mim e me abraçou. Sem dizer uma palavra, ela me levou para a cozinha, onde eu pude chorar longe dos olhares da minha tia e do resto da família.
Letícia me ofereceu um copo d’água.
— Beba, isso vai te acalmar.
Depois de dar uns três goles, olhei pra ela e perguntei, com a voz ainda trêmula:
— Me ajuda a entender. Por que Anderson foi falar para os meus tios sobre o nosso término? O que isso mudaria? Me fala, do que adiantaria? Olha o estado da minha tia lá na sala. Meu Deus!
Letícia pensou um pouco antes de responder.
— Talvez ele quisesse garantir que eles soubessem do término através dele, e não por outros. Você está me entendendo? Renato, bem ou mal, daqui a pouco todo mundo vai saber. Você sabe que essas notícias correm rápido.
Olhando por essa ótica, até que fazia sentido. Mas isso não justificava minha tia vir aqui ou falar o que falou.
Fiquei na cozinha até eles irem embora. Foi minha mãe que apareceu, vindo até mim e dizendo:
— Eles já foram, filho.
Demonstrei toda a minha indignação:
— Só que achei uma palhaçada ela ter vindo aqui. Uma palhaçada, porque ela sabe o quanto eu lutei para que Anderson se aproximasse dela. Tanto que o resultado está aí: ele ligou para ela ontem. E isso ela deve a mim.
Minha mãe tentou acalmar a situação.
— Renato, a sua tia está nervosa. Eu também ficaria preocupada se fosse você. Deixa isso pra lá.
— Eu vou deixar mesmo — respondi, tentando me recompor. — Porque daqui a pouco tem um churrasco. Meus amigos vão estar aqui, e isso não vai acabar e muito menos não vai estragar o meu dia.
Letícia, ao meu lado, deu um tapinha nas minhas costas e disse:
— É isso aí, Renato. Bola pra frente.
Aproveitei o momento e mandei uma mensagem para meus amigos, dizendo que eu os esperava às sete da noite era só trazer bebidas. Nada mais que isso, além da animação.
E todos eles vieram. Breno, Dinei, Gil, Jefferson. Todos estavam ali, animados. Jefferson, graças a Deus, tinha criado uma boa aproximação com meus pais, e eu e os outros amigos ficamos ali, juntos, rindo e brincando.
Não demorou muito para eu revelar a verdade a eles.
— Olha, Gil, reparou uma coisa esses dias? A respeito de eu não postar nada nas redes sociais? Pois bem, gente. Vou falar uma vez só, pra deixar vocês a par, mas não quero estender o assunto.
Eles se olharam entre si, curiosos. E eu continuei:
— Eu, Anderson, Manuel... Acabou. Acabou tudo, gente.
Segurei o choro, tentando manter a compostura.
— Não há mais nada.
Dinei, com um olhar de surpresa, perguntou:
— Mas, gente, por quê?
Porém, Gil se intrometeu na conversa, cortando Dinei.
— Você não entendeu que ele não quer falar sobre isso? Renato, eu sinto muito. Não sei o que aconteceu, mas saiba que estou aqui.
Ele então olhou para Breno e Dinei, com um tom firme:
— O nome de Anderson e Manuel está proibido nessa noite. Vocês estão me entendendo? E outra, vamos dançar. pop, axé, samba, até balé. Mas vamos esquecer esses boys. Pelo menos, essa noite.
Dei um sorriso como forma de agradecimento. E assim, a nossa noite começou. Todos, inclusive eu e meus amigos, estávamos bebendo cerveja. Era bom estar ali entre eles. Eles eram animados, principalmente Gil. E, sob o comando dele, começamos a dançar. Aquelas músicas clássicas, que todo mundo conhece, encheram o ar. Foi muito divertido. Era muito divertido estar entre eles.
Letícia também entrou na dança, animada, e por um momento, eu esqueci de tudo ao meu redor. Era bom viver aquilo. Depois de dançar muito, voltamos para a mesa e começamos a falar sobre nosso dia a dia.
— Dinei, fiquei chocado com o seu blog — comentei, tentando mudar o assunto para algo mais leve. — Chocado num ponto positivo, porque eu jamais pensei que você faria aquilo.
Ele deu uma risada e respondeu:
— Já tem mais conteúdo, viu?
Letícia, que estava ao meu lado, ficou estarrecida ao ouvir a história. Mas eu a tranquilizei:
— Não liga não, boba. Eu também fiquei desse jeito.
Gil, no entanto, tocou num assunto um pouco mais triste.
— Minha avó está muito ruim — disse ele, com um tom mais sério. — Piorou, está internada na UTI. Os médicos até desenganaram. Não deram mais esperança.
Ficamos em silêncio por um momento, mas ele continuou:
— Apesar de tudo, tirando isso, está tudo bem. Eu e Jefferson vamos passar a folga em um chalé em Penedo.
— Acho chique — comentei, tentando aliviar o clima.
Chamei Gil para ir ao banheiro. Uma desculpa que inventei para arrastá-lo até o meu quarto. Assim que fechamos a porta, eu disse:
— Amigo, eu preciso contar o que aconteceu pra você.
Gil, sempre compreensivo, respondeu:
— Se você não estiver pronto... Tudo bem, Renato. Não precisa ser agora.
— Mas eu quero. Sua opinião é importante pra mim.
Então, contei toda a verdade. Desde a desconfiança de Anderson até o nosso término de fato. Gil ouviu atentamente, e quando terminei, ele pareceu indignado.
— Gente... Manuel conseguiu uma proeza. Ele conseguiu fazer com que eu ficasse com mais ranço dele do que de Anderson.
Ele continuou, com um tom mais sério:
— Amigo, eu sei que você ama de verdade seu primo. Mas ao meu ver, sua transa com o Pedro não foi legal. Tudo bem, ele é gostoso, ele é lindo. Porém... o que deve ser colocado em pauta é que ele é pai de Manuel. E eu nem estou entrando no mérito de traição.
Tentei me justificar:
— Mas não foi traição, foi em outra época. Em que Anderson ficava com meninas, Manuel também. Eu namorava o Cristiano. Tanta coisa, sabe?
Gil não deixou barato:
— Só que há duas coisas aí. Uma, de seu primo ter usado isso como desculpa, como pretexto para terminar. Algo do passado. Eu sei que ele pode ter se sentido traído, inseguro. O que é irônico pois você traia Cristiano com ele. E outra, não menos importante: será que ele não queria já terminar e usou isso como desculpa?
Ele fez uma pausa, como se medisse as palavras, e completou:
— Não tô querendo botar lenha na fogueira, Renato, mas é uma possibilidade.
— Ele chorou com a traição de Manuel. Ele tinha tudo, prints, áudios, tudo confirmado. Só esperava que César confirmasse com palavras. Ele queria terminar com Manuel, isso já estava nos planos dele, tanto que ele havia até alugado uma kitnet. A gente estava feliz, vivendo de verdade o carnaval. Mas o estopim para que tudo acontecesse foi quando Manuel dançou com o Lucas, o cara com que ele ficou, e piorou de vez depois que Manuel chegou merda no ventilador.
Gil então perguntou, com um tom mais suave:
— E o que você pretende fazer agora?
— Tocar minha vida. Continuar trabalhando. Fazer uma faculdade. Tanta coisa...
Ele aproveitou para mudar de assunto:
— Falando de trabalho... E o Pedro? Ele disse alguma coisa sobre o término?
— Nem te conto — respondi, meio de brincadeira, meio sério. — Ele me ligou, mas eu não atendi. Porém, mandei mensagem falando que, se ele quisesse falar sobre trabalho, eu estava disponível. Mas, se fosse pra falar do filho dele, eu não estava afim.
Gil balançou a cabeça, preocupado.
— E ele não falou mais nada? Claro! Estamos falando de Manuel, filho dele. Você acha que ele ficaria do lado de quem? Lógico que é do filho.
Ele fez uma pausa e finalizou, com um tom de alerta:
— Então, tome cuidado, Renato.
Antes de sairmos do quarto, Gil fez mais uma pergunta:
— Já conversou com eles? Com Manuel? Com Anderson? Qual é a real situação de vocês dois?
Respondi com sinceridade:
— Eu estou com ódio de Manuel. Eu bloqueei ele em todas as redes sociais. Não quero me dirigir a ele, e, se puder, muito menos encontrá-lo. Sim, fiquei chateado por conta da traição, mas o que me fez ficar com ódio, com raiva mesmo, foi ele jogar na roda que eu fiquei com o pai dele. Foi um golpe baixo.
Fiz uma pausa, respirando fundo antes de continuar:
— Agora, Anderson... pelo menos por enquanto, eu prefiro manter a distância. Eu amo ele. Mas... tô seguindo o conselho que você me deu, Gil. Não vou implorar. Não vou pedir migalhas. Eu não mereço isso.
Gil olhou para mim, pensativo, e perguntou:
— Então você ainda vê uma chance de vocês terem um diálogo?
Usei toda a sinceridade que tinha para responder:
— Eu não sei. Anderson, mesmo longe, se mostra preocupado. Até mandou mensagem pro meu irmão perguntando, querendo saber sobre mim. O que posso dizer é que eu não vou esperar por ele. Hoje não quero falar com ele, mas amanhã já não sei.
Gil olhou para o celular e mostrou a tela para mim.
— Dinei está ligando — disse ele.
Gil deu uma risada e olhou para mim atendeu rapidamente:
— Já estamos indo, Dinei. Só falta o Renato arrumar o cabelo, mas já tá quase pronto.
Gil saiu primeiro, enquanto eu fiquei ali no quarto por mais alguns instantes. Foi quando vi que Anderson havia me mandado outra mensagem:
"Renato, dê notícias. Quero saber se você está bem. Fale comigo."
Guardei o celular no bolso, sem responder, e fui para a varanda, onde os outros se encontravam.
Ao me ver de novo, Dinei falou:
— Nossa, eu pensei que você nunca chegaria!
Eu ri e respondi:
— Amigo, também não exagera, né? Nem demorei.
Então, Jefferson me chamou para ficar perto dele.
— Renato, estava falando com seu pai aqui de combinarmos para ele aparecer lá no meu bar. E aí, seu tio também falou comigo no ano novo. Bora combinar esse encontro qualquer dia desses?
— Sim, mano. É só falar — respondi, animado. — Mas e a minha mãe?
Meu pai interveio:
— Não, sua mãe vai ficar em casa. É encontro de homens.
Eu concordei, rindo:
— Até porque eu acho que ela não vai gostar muito.
Jefferson virou pra mim, com um ar de brincadeira:
— Por quê? Meu bar não é pra mulher, não?
— Eu não falei isso, Jefferson — respondi, tentando me explicar. — Eu sei que mulheres frequentam seu bar, mas não mulheres com o estilo da minha mãe. Entende?
Ele balançou a cabeça, rindo, e o assunto mudou. O tempo passou, e a gente ficou lá, interagindo de boa. Mas a maldita mensagem que Anderson havia me mandado não saía da minha cabeça. Eu pensava nela a todo momento. Claro que eu não resolvi compartilhar com ninguém ali, mas ele não saía da minha mente. Era como se aquela mensagem o fizesse presente, mesmo estando longe.
Breno, então, perguntou pra mim:
— Renato, e aí, quando você volta pra trabalhar?
— Por mim, já voltava amanhã mesmo — respondi, pensativo. — Ah, ficar em casa sem nada pra fazer é horrível. Já me acostumei com essa rotina de trabalho. Mas, vista a circunstância... Acho melhor voltar no dia combinado, que é daqui a dois dias.
Gil interveio, rindo:
— Bobo é você voltar agora. Você vai ficar curtindo suas folgas bonito em casa. Tá me ouvindo?
Para fechar a noite com chave de ouro, todos nós nos juntamos para registrar aquele momento. Fizemos uma foto cheia de sorrisos, abraços e aquele clima de confraternização que só amigos de verdade conseguem criar. Eu fiz questão de postar a foto nas redes sociais com a seguinte legenda:
Solteiro sim, mas cercado de amor, família e amizades que valem ouro!
Logo após a foto, meus amigos decidiram ir embora. Breno e Dinei, como sempre, aproveitaram e foram de carona com Jefferson. Enquanto ajudava a limpar um pouco a bagunça, fui até a cozinha para beber um copo de refrigerante, já que estava farto de cerveja. Foi nesse momento que recebi uma ligação de Anderson.
Olhei para a tela do celular, hesitando. A vontade de atender era enorme, mas decidi ignorar. Ele tentou mais duas vezes, sem sucesso, até que me mandou uma mensagem. A curiosidade bateu forte, mas consegui resistir à tentação de visualizar.
Voltei para a mesa, onde Ricardo estava olhando as redes sociais.
— Geral tá curtindo nossa foto — disse ele, rolando a tela do celular.
Peguei meu celular e fui ver as notificações. Havia várias curtidas e comentários. O Naldo tinha comentado um "Como assim?". O Thiagão e Max que fiz questão de segui-los, Daniel, estavam entre os que curtiram. Quando vi que César também havia curtido,mal vi o nome dele, bloqueei de imediato. Não tinha espaço pra gente falsa na minha vida, muito menos nas minhas redes sociais.
Ricardo continuou, mostrando os comentários dos meus amigos e de todos os que estavam marcados na foto. Inclusive Anderson.
— Talvez seja por isso que ele tá me ligando repetidas vezes — pensei comigo. Aquelas ligações não eram apenas uma simples coincidência.
Depois de deixar tudo organizado e dar boa noite para todos, subi para o meu quarto. Ao chegar lá, olhei para o celular. A curiosidade de ler a mensagem de Anderson ainda era grande, mas eu resisti. Preferi tomar um banho primeiro, como se a água pudesse lavar não só o cansaço do dia, mas também a confusão de sentimentos que estava sentindo.
Quando voltei do banho, vi que o celular estava tocando sobre a cama. Corri para atender, e do outro lado da linha estava Anderson.
— Alô? Renato? — a voz dele soou baixa, quase hesitante.
Eu permaneci em silêncio, segurando o celular com firmeza.
Ele continuou, com um tom mais urgente:
— Renato, você está me ouvindo? Fale comigo, por favor.
Vendo que eu não falava, ele desabafou:
— Você não sai da minha cabeça desde que entrou naquele avião. Eu estou preocupado com você. Quero saber notícias suas, não por terceiros, mas por você. Porra, bicho! Ver aquela postagem sua com aquela legenda acabou comigo. Foi um soco no estômago.
Ele fez uma pausa, e a voz dele ficou mais suave, quase um sussurro:
— Eu ainda te amo, Renato. E não tenho raiva de você. Por favor, fale algo.
Foi aí que resolvi falar. Minha voz saiu firme, mas carregada de emoção:
— Sua mãe esteve aqui hoje. Veio questionar o porquê eu terminei com você. Estava toda preocupada porque eu não tinha o direito de deixar o filho dela sozinho em uma cidade. Agora ela sabe que foi você quem terminou, Anderson. Se eu fosse você, eu me aproximaria dela, porque atualmente é a única pessoa que parece querer você por perto.
Fiz uma pausa, respirando fundo antes de continuar:
— Ah, e eu pedi pro meu irmão te falar, mas, caso ele não tenha te dito, não me ligue mais. Dispenso suas preocupações, Anderson. Não quero falar com você. Não faça eu te bloquear assim como fiz com Manuel.
— Por favor, não me peça isso. Eu... — mas eu não deixei que continuasse.
Desliguei a chamada na cara dele.
Quando chegou o dia de voltar ao trabalho, eu estava ansioso, mas também inquieto. O que Pedro queria falar comigo? Que informações haviam chegado até ele? Essas perguntas martelavam na minha cabeça desde que acordei.
Levantei mais cedo do que o normal, a ansiedade não me deixou ficar na cama por muito tempo. Tomei banho rapidamente e, em vez de ir direto para o escritório, chamei um Uber e fui tomar café em uma padaria perto da contabilidade. Eu precisava de um tempo para respirar. Além disso, eu amava o pão de queijo dali.
Em outro momento, eu teria ligado para um dos meus boys para conversar e distrair a mente, mas a realidade agora era outra. Eu precisava encarar o que viesse.
Quando deu meu horário, entrei na contabilidade. Cumprimentei todo mundo, segui até minha sala e comecei meu dia como se nada estivesse acontecendo. As primeiras horas correram tranquilas, mas eu sabia que aquilo não duraria.
E então, Pedro entrou na sala.
— Oi, Renato. E aí, como foi a grande temporada de carnaval? — perguntou ele, com um tom casual, mas os olhos entregavam que havia mais por trás daquela pergunta.
Levantei os olhos para ele. Eu já sabia o que ele queria.
— Bom... não foi exatamente como eu esperava — respondi, medindo as palavras. — Mas também não posso dizer que foi ruim.
Pedro manteve o olhar fixo em mim e, dessa vez, sua voz saiu mais séria:
— Você sabe que a gente precisa conversar, né?
Assenti lentamente.
— Sim, eu sei.
Ele fez uma pausa antes de continuar:
— O que você acha? Um papo agora no meu escritório ou mais tarde no bar do Jefferson?
— No seu escritório — respondi sem hesitar.
Minha escolha foi óbvia. Evitar um ambiente público significava evitar que o assunto se prolongasse ou chegasse a ouvidos indesejados. Eu respeitava Pedro, tinha um sentimento de gratidão por ele, mas não fazia ideia do que estava por vir.
Assim que entramos em sua sala, nos sentamos frente a frente. Ele não perdeu tempo.
— Então, fala. Por que você terminou com meu filho?
O peso da pergunta caiu sobre mim como um bloco de concreto. Pedro repetiu, como se quisesse garantir que eu tinha escutado direito:
— Por que você terminou com o Manuel?
Respirei fundo, tentando não demonstrar nervosismo.
— Gente... ultimamente, só eu tenho terminado relacionamento, pelo visto — soltei, com um leve tom irônico.
Pedro não sorriu. Ele ignorou a ironia e continuei.
— Hum... Vamos fazer melhor. O que o Manuel falou para o senhor?
— Ele só disse que o relacionamento de vocês acabou — respondeu Pedro, avaliando minha reação.
Balancei a cabeça, indignado, mas disposto a falar.
— Eu sei que isso aqui não é uma reunião de negócios, e talvez eu nem devesse estar tendo essa conversa com você, mas... vamos lá. O lance é o seguinte: seu filho me traía. Desde que foi pra lá, ele já tinha outra pessoa. Aliás, não apenas uma. Ele não só estava comigo, não só estava com Anderson, mas também com um cara chamado Lucas.
Pedro ficou pensativo, os olhos vagando por um instante, assimilando tudo o que eu acabara de dizer.
— Como você descobriu isso?
A tensão no ar se adensava.
— Olha — comecei, mantendo um tom firme — eu sei que você não gosta do Anderson, mas nesse ponto eu vou defendê-lo. O único que foi mesquinho e descartável aqui foi o Manuel. Mas não vou entrar nesse mérito agora. O que quero deixar claro é que realmente acabou. Tudo. Meu relacionamento com ele, minha relação com Anderson... porque seu filho é um escroto.
Pedro franziu a testa, mas ficou em silêncio.
Aproveitei o momento para continuar:
— E sabe o que ele fez? Ele contou para o Anderson que eu e o senhor transamos. Jogou isso na cara dele, de propósito. Foi baixo, foi fútil. Eu não quero mais contato com ele. Bloqueei em todas as redes sociais. E espero que o senhor respeite isso.
Pedro me olhava, e, dessa vez, sua expressão não era de choque, mas de algo mais profundo. Como se estivesse encaixando as peças.
Ele soltou um suspiro antes de dizer:
— E qual é o seu plano B? Fala, qual é o seu plano a partir de agora?
Eu resmunguei, irritado.
— Lá vem você com esse plano B... Meu plano é simples: viver minha vida. Sem eles. Investir em mim.
Pedro ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Renato, nem eu esperava que esse fosse seu plano B. De verdade. Achei que você ficaria com seu primo Anderson. Que, uma hora ou outra, dispensaria meu filho.
Ele fez uma pausa, inclinando-se levemente para frente, como se estivesse prestes a revelar algo importante.
— Mas deixa eu te falar uma coisa... Eu conheço meu filho. E eu sei do que ele é capaz. Você não sabe as coisas que ele aprontou em Seropédica.
Antes que eu pudesse perguntar, ele continuou:
— Ele tá puto com você. Me ligou te xingando de tudo quanto é nome. Fez uma série de recomendações. Até pediu sua cabeça, pra eu te mandar embora.
Meu sangue gelou.
Pedro então me tranquilizou:
— Mas isso está fora de cogitação.
Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços.
— Renato, embora a gente tenha uma relação de patrão e empregado... e também de amizade, você é muito bom no que faz. Você tem um futuro brilhante. Sem contar a minha gratidão por você calar a boca do Manuel naquele dia.
Por um momento, fiquei em silêncio, processando tudo.
Jamais imaginei que Manuel pediria ao próprio pai para me demitir. Minha raiva, que já era grande, cresceu ainda mais. Olhei para Pedro e, com a voz hesitante, perguntei:
— Pedro... se a minha permanência aqui pode, de alguma forma, afetar a empresa ou sua relação com seu filho, eu entendo se quiser me dispensar.
Pedro me analisou por um instante e respondeu, firme:
— Renato, eu não tenho motivo para te mandar embora. Pelo menos, não agora.
O peso de sua resposta me fez soltar um suspiro contido.
— Eu só não quero causar problemas... entende?
Pedro percebeu minha tensão. Seu tom suavizou.
— Renato, isso é tudo por hoje. Pode voltar pra sala. Pegue uma água, tome um café, se acalme antes de retomar o trabalho.
De volta à minha mesa, mergulhei nos documentos, tentando canalizar a raiva para algo produtivo. As horas passaram rápido, e, quando me dei conta, já era noite. O dia havia escapado entre papéis e planilhas, e eu mal percebi.
Sem pensar duas vezes, decidi ir para casa. Para a minha casa. Afinal, era mais perto do trabalho... e, naquele momento, eu precisava de distância de tudo isso.
Os dias se transformaram em semanas. O tempo, que antes parecia arrastar-se sob o peso da raiva e da frustração, começou a ganhar um novo ritmo. Foi nesse período que resolvi correr atrás de uma faculdade. Sabia que não havia feito o Enem, o que complicava as coisas, mas a ideia de desistir nem passou pela minha cabeça.
Certa tarde, Leticia me deu uma luz:
— Algumas universidades particulares oferecem provas próprias para quem não fez o Enem. Dependendo do seu desempenho, você pode ganhar uma bolsa de estudos.
Aquilo mudou tudo. Sem perder tempo, mergulhei em pesquisas. Encontrei a instituição que eu almejava e me inscrevi no vestibular. As semanas seguintes foram de estudo intenso. Eu sabia que o tempo era curto, mas cada minuto valia a pena.
No meio desse turbilhão, decidi pedir um conselho a Pedro. Afinal, ele era uma das pessoas que mais entendia da área e sabia o quanto eu desejava continuar nela. Certo dia, após uma reunião, me aproximei dele:
— Pedro, eu quero continuar na área contábil, mas estou em dúvida sobre qual caminho seguir. O que você me aconselha?
Ele olhou para mim com a seriedade de sempre, mas com um brilho de apoio nos olhos:
— Você tem duas opções: pode fazer um técnico em contabilidade ou um bacharelado em Ciências Contábeis. Pelo que vejo, como você já trabalha numa contabilidade e tem experiência prática, muita coisa do técnico você já sabe. Eu te aconselharia ir direto para o bacharelado. Vai te abrir mais portas no futuro.
Aquelas palavras ecoaram em mim. Pedro tinha razão. Eu já estava imerso no dia a dia da área, e o bacharelado seria um desafio maior, mas também uma oportunidade de crescimento.
No dia da prova do vestibular, o nervosismo bateu forte, mas eu me mantive firme. Quando o resultado finalmente saiu, semanas depois, veio a surpresa: minha nota foi alta o suficiente para garantir uma bolsa parcial. Não era 100%, mas era um alívio enorme. Pagar o valor integral seria quase impossível, e aquela conquista significava um passo enorme na direção certa.
Como já estávamos no mês de abril, foi decidido que eu começaria no próximo semestre. Isso, pra mim, foi ótimo. Além de ter mais tempo para me preparar, também estava chegando o casamento do meu irmão.
Nesse tempo, Anderson de fato parou de me procurar. Acredito que, finalmente, resolveu respeitar minha decisão de não manter contato. Mas, mesmo assim, as notícias sobre ele ainda chegavam até mim. Meu irmão, vez ou outra, comentava que Anderson tinha mandado mensagem, que estava bem. Minha tia também mencionava o filho quando nos encontrávamos. No entanto, tanto as informações que vinham dela quanto as do meu irmão eram superficiais, e eu sempre fazia questão de não esticar o assunto.
Nos encontros familiares, às vezes eu e Amanda acabávamos nos esbarrando. Nunca tentei forçar uma simpatia, nunca sorri, nunca lhe dirigi a palavra – mesmo que estivéssemos na casa de meus tios. Aquilo era definitivo. Para mim, Amanda era o capeta em pessoa. E pensar que, antes de eu me envolver com Anderson, ela era minha melhor amiga... Mas isso ficou no passado.
Nem meus pais nem meus tios tentavam incentivar uma aproximação entre nós. Sabiam que qualquer tentativa seria em vão. Amanda tinha mexido em uma ferida que não deveria ser tocada. E, quando falavam dela, eu simplesmente mudava de assunto.
O que eu sabia sobre sua vida era pouco. Trabalhava em uma loja de maquiagem e cosméticos e estava namorando um cara da igreja. Cheguei a vê-lo em um desses encontros. Ele, sim, eu cumprimentei. Não tinha motivos para não ser educado com ele.
Assim como fiz com Amanda, cortei definitivamente todo e qualquer vínculo com Manuel. Eu esperava não ver o Manuel tão cedo. Depois de tudo que aconteceu, a última coisa que eu queria era cruzar com ele, ouvir sua voz ou sequer sentir sua presença. Eu queria distância, e imaginava que o sentimento era mútuo.
Mas, meus planos não deram tão certo. E inevitavelmente, o passado voltou a me assombrar.
Numa quinta-feira, véspera da Sexta-feira Santa, assim que cheguei à empresa, fui abordado por Luana.
— Renato... preciso te contar uma coisa.
Fiquei em alerta.
— O que foi?
Ela hesitou por um segundo e então soltou:
— O Manuel está aqui.
Travei.
— O quê?
— Isso mesmo — ela confirmou. — Ele chegou faz pouco tempo. Está na sala do pai agora.
Fiquei sem reação. Não esperava vê-lo tão cedo. Eu não esperava por aquilo. Um choque me atravessou por completo, porque, bem ou mal, eu sabia que ele iria me procurar. Ele não perderia a chance de me provocar. Eu conhecia Manuel.
Durante as primeiras horas da manhã, nenhum sinal dele. Nenhum movimento suspeito. Nenhuma tentativa de contato.
Eu tentava me concentrar no trabalho, mas, a cada som de passos no corredor, meu corpo reagia automaticamente. Minhas mãos estavam frias, e eu sentia uma tensão crescendo nos ombros.
Quando o relógio marcou meio-dia, decidi ir almoçar. Talvez ele já tivesse ido embora. Talvez fosse apenas uma visita rápida ao pai.
Mas quando voltei, meu coração quase saltou do peito.
Lá estava ele.
Sentado na minha mesa. Me esperando.
Manuel sorriu de lado ao me ver entrar. Era aquele sorriso cínico, presunçoso, o mesmo que eu já tinha visto tantas vezes quando ele queria me manipular.
— Até que enfim — ele disse, cruzando os braços. — A gente precisa conversar.
Meu rosto permaneceu inexpressivo. Nenhuma reação exagerada, nenhum traço de satisfação ou surpresa. Apenas a frieza de quem não queria estar ali, diante dele.
Olhei para Manuel sentado na minha cadeira, como se fosse dono do lugar, e mantive minha postura firme. Não ergui as sobrancelhas, não suspirei, não esbocei um sorriso — nada que pudesse dar a ele qualquer sinal de que sua presença me afetava.
— Você está no meu lugar — disse simplesmente, sem alterar o tom de voz.
Por dentro, eu sentia o incômodo crescer, mas me recusei a demonstrar qualquer fraqueza.
Manuel arqueou a sobrancelha, fingindo surpresa.
— Nossa, que recepção calorosa — ironizou. — Mas tudo bem, vou direto ao ponto. Ouvi dizer que Anderson terminou com você também.
Meus músculos ficaram tensos. Eu sabia onde aquilo ia dar.
— E desde quando a minha vida te interessa, Manuel? — retruquei, mantendo a calma.
Ele riu, cruzando os braços.
— Desde sempre. Principalmente agora. Eu não esqueço de quem me virou as costas.
Senti o tom de ameaça, mas resolvi não entrar no jogo dele.
— Eu preciso voltar ao trabalho. Não tenho tempo pra esse tipo de conversa.
Mas Manuel, é claro, não deixaria barato.
— Ah, Renato, não seja assim — disse, apoiando-se na mesa como se estivesse confortável ali. — Vamos admitir que o assunto Renato e Anderson é bem mais interessante do que qualquer planilha ou documento dessa contabilidade.
Respirei fundo, mantendo o controle.
— Eu estou aqui para trabalhar, Manuel. Não para discutir minha vida pessoal.
Ele sorriu de lado, mas seu olhar entregava uma pontada de irritação.
— Engraçado você falar assim... Parece que esqueceu que está aqui graças a mim. Se não fosse por mim, você nem teria conseguido esse emprego.
Minha paciência estava se esgotando. Olhei ao redor e percebi que algumas pessoas estavam nos observando, mas tentavam disfarçar. A tensão no ambiente era palpável.
Então, resolvi me manifestar.
— Sim, Manuel, graças a você eu entrei aqui, e sempre fui grato a você e ao seu pai. Mas a minha permanência aqui não se deve a isso. Ela se deve a mim. Ao meu esforço, à minha dedicação. Seu pai mesmo admite isso.
O sorriso de Manuel se desfez por um instante. Ele olhou ao redor e percebeu os olhares furtivos. Algumas pessoas rapidamente voltaram a fingir que estavam concentradas no trabalho.
Ele, no entanto, não deixaria aquilo barato.
— Isso é o que vamos ver... Agora no escritório do meu pai.
E sem esperar resposta, virou-se e saiu em disparada.
Fiquei sentado por alguns segundos, tentando assimilar o que estava acontecendo e o que me esperava lá dentro.
Ir ou não ir? Se ficasse, seria covardia. Se fosse, talvez fosse uma armadilha. Mas havia algo pior do que o medo agora: a necessidade de provar, até para mim mesmo, que não era mais aquele garoto que Manuel podia controlar.
Respirei fundo, ajustei o colarinho da camisa e segui seus passos. Cada batida do meu coração fazia meu corpo tremer.
Ao entrar na sala de Pedro, vi imediatamente a expressão carregada em seu rosto. Ele parecia preocupado, como se não quisesse estar ali. Mas pela pressão do filho mimado, ele se viu obrigado a escutar.
— Bom, o que está acontecendo? — Pedro perguntou, direto.
Manuel, cruzou os braços e lançou seu teatro:
— O que está acontecendo? Seu funcionário resolveu me enfrentar na frente de todo mundo.
Revirei os olhos, já esperando essa distorção dos fatos.
— Eu o enfrentei? — perguntei, sarcástico. — Vamos aos fatos, Pedro. Voltei do meu horário de almoço e encontrei Manuel sentado na minha mesa, me esperando. Ele começou a me provocar, perguntando sobre Anderson. Eu disse que não queria falar sobre o assunto. Foi quando ele insinuou que eu só estava aqui por causa dele. E eu apenas esclareci que não, que eu trabalho e que meu esforço também conta.
Pedro me olhou e nem hesitou:
— Renato, você não precisa se explicar. Sim, você está aqui por mérito seu.
Ele então se virou para Manuel e, em alto e bom tom, deixou claro:
— E você, não se envolva na minha empresa. Pelo menos isso ainda é meu. Ou estou enganado?
O choque no rosto de Manuel foi evidente, mas Pedro não deu espaço para que ele retrucasse.
— E outra coisa — continuou Pedro, com um olhar duro —, Anderson nunca fez parte dessa empresa. Portanto, esse assunto não tem nada para ser discutido aqui. Eu esperava que, no mínimo, você demonstrasse um pouco de ética profissional.
Manuel cerrou os dentes, visivelmente irritado. Mas a reação dele foi pior do que eu imaginava. Ele nos analisou por um instante e, de repente, soltou uma gargalhada alta e debochada.
— Tô sacando o que tá acontecendo… — disse ele, malicioso. — Você voltou a comer esse viadinho. Aliás, se é que um dia parou, né?
Senti meu sangue ferver, mas antes que pudesse reagir, testemunhei algo que jamais imaginei ver: Pedro perdendo completamente as estribeiras.
Ele se levantou com um movimento brusco que fez a cadeira cair no chão com um estrondo. Em três passos largos, estava cara a cara com Manuel, o dedo indicador tremendo de raiva apontado para o rosto do filho.
— CALA ESSA BOCA, MANUEL! - rugiu Pedro, com uma voz que ecoou pelas paredes do escritório. Seus olhos faiscavam com uma fúria que eu nunca tinha visto antes. - Você vai me ouvir e vai ouvir bem! Primeiro, você vai aprender a RESPEITAR! Respeitar esta empresa, respeitar este escritório e, principalmente, RESPEITAR O RENATO!
Manuel abriu a boca para protestar, mas Pedro não deu chance:
— NÃO ME INTERROMPA! - ele continuou, a voz cortante como uma lâmina. - Se você ousar insinuar qualquer coisa desse tipo novamente, juro por Deus que não me responsabilizo pelo que posso fazer. O que há entre mim e Renato é uma relação profissional exemplar, e fora daqui, somos amigos. E isso NÃO É DA SUA CONTA!
Manuel, atônito com a explosão do pai, ficou paralisado por um momento. Quando recuperou a fala, sua voz vinha carregada de desafio:
— Então vou ser claro como cristal, pai. Quero a demissão dele. Hoje. É simples: ou você fica com ele, ou fica comigo.
O silêncio que se seguiu foi cortante. Pedro respirou fundo, pegou a cadeira caída e se sentou com movimentos deliberadamente lentos, arrumando meticulosamente os papéis sobre a mesa. Quando finalmente ergueu o olhar, seu semblante era de uma calma aterradora.
— Escute bem, filho - disse ele, com cada palavra pesando como chumbo. - Eu não demito funcionários competentes por capricho familiar. Renato fica. Ponto final.
Manuel bateu o punho na mesa com força:
— ISSO É UM ABSURDO! Eu vim de Joinville justamente por isso! E você prefere um empregado qualquer ao seu próprio sangue?
Pedro soltou uma risada seca que não chegou aos olhos.
— 'Um empregado qualquer'? - repetiu, com sarcasmo cortante. - Renato entrega resultados em uma semana do que você em um ano. Você veio aqui para bancar o dono, mas esquece que aqui você é apenas o filho do dono. Nada mais.
O rosto de Manuel ficou vermelho como um pimentão:
— Você está mesmo defendendo esse oportunista como se...
— CHEGA! - Pedro interrompeu com um golpe de punho na mesa que fez todos os objetos pular. - Vamos falar de oportunismo, Manuel? Quem foi colocado em Joinville por minha causa? Quem sempre teve portas abertas por causa do meu nome? Você quer falar de mérito? - sua voz subiu ainda mais - ENTÃO OLHE PARA O SEU PRÓPRIO UMBIGO ANTES DE FALAR DOS OUTROS!
Manuel recuou como se tivesse levado um tapa. Seus lábios tremiam de raiva quando apontou para mim:
— Esse merdinha se aproveitou da nossa família! Morando na nossa propriedade, trabalhando aqui..
Pedro explodiu novamente:
— FALA MAIS ALTO, MANUEL! QUERO QUE TODOS OUÇAM A SUA VERGONHA! - sua voz trovejou. - Você quer mesmo que eu coloque na balança? Renato conquistou cada centavo que ganha aqui. E você? O que você conquistou SOZINHO na vida?
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Manuel parecia um animal acuado, respirando pesadamente. Quando falou novamente, sua voz vinha carregada de veneno:
— Você vai se arrepender amargamente dessa escolha, pai.
Pedro levantou-se novamente, desta vez com uma calma assustadora:
— Já me arrependo de muitas coisas, filho. Mimar você é uma delas! Mas manter um profissional competente nunca será uma delas. - Virou-se para mim, sua voz recuperando a compostura profissional: - Renato, peço desculpas por essa cena lamentável. Você pode voltar ao trabalho.
Levantei-me sem olhar para Manuel e saí da sala, controlando ao máximo qualquer reação. Mas, antes que a porta se fechasse atrás de mim, ainda pude ouvir Pedro disparar, com um tom firme e reprovador:
— Não precisava disso, Manuel! Sua atitude foi totalmente desnecessária. Agora, já que você quer bancar o valentão, saiba que muita coisa vai mudar.
Segui pelo corredor, sentindo meu coração ainda acelerado. A tensão do confronto ainda reverberava em mim, mas mantive a postura, sem permitir que ninguém percebesse o turbilhão interno.
Ao chegar à minha sala, Luana percebeu de imediato meu estado. Sem precisar que eu dissesse nada, ela se apressou em me trazer um copo d’água.
— Respira — disse ela, suavemente, enquanto me entregava o copo.
Aceitei com um aceno discreto e tomei um pequeno gole, tentando dissipar o nervosismo que ainda tomava conta de mim.
— O que aconteceu lá dentro? — ela perguntou, sua expressão carregada de preocupação.
Engoli seco, sentindo o peso da situação ainda sobre mim, mas balancei a cabeça, evitando entrar em detalhes.
— Nada que já não fosse esperado — respondi, tentando soar tranquilo, embora soubesse que meu semblante provavelmente entregava o contrário.
Luana suspirou, parecendo entender que eu não queria prolongar o assunto.
— Se precisar de alguma coisa, estou por aqui.
Agradeci com um olhar antes de me sentar, encarando a tela do computador sem realmente vê-la. Tentei me concentrar no trabalho, mas as palavras de Pedro e a atitude de Manuel continuavam ressoando na minha mente.
Enquanto tentava me recompor, ouvi passos firmes e apressados ecoando pelo corredor. Olhei de relance pela porta e vi Manuel saindo disparado da sala de Pedro, completamente indignado. Dessa vez, ele não lançou olhares desafiadores para ninguém, não fez piada, não tentou bancar o superior. Apenas passou reto, o rosto carregado de fúria e frustração, como se estivesse digerindo a humilhação que acabara de sofrer.
Observei enquanto ele atravessava o corredor sem olhar para os lados, sem sequer notar que alguns funcionários arriscavam olhares discretos em sua direção.
Respirei fundo e desviei o olhar, voltando minha atenção para a tela do computador. O que quer que tivesse acontecido lá dentro, Pedro tinha sido claro: muita coisa iria mudar. E, pela forma como Manuel saiu dali, essa mudança já havia começado.
Poucos instantes depois, o telefone tocou. Luana atendeu e, após ouvir a voz do outro lado da linha, virou-se para mim:
— Pedro quer que você vá até a sala dele.
O ar na sala estava pesado quando entrei. Pedro já me esperava atrás de sua grande mesa de trabalho, os dedos entrelaçados sobre documentos espalhados. Seus olhos cansados iluminaram-se brevemente ao me ver, revelando a batalha silenciosa que travava consigo mesmo.
— Renato... — começou ele, a voz mais grave que o habitual. — Precisamos conversar.
Sentei-me à sua frente, sentindo o peso daquela introdução. Pedro esfregou os olhos antes de continuar:
— Primeiro, quero que saiba que eu não queria fazer isso. — Sua mão fechou-se involuntariamente. — Mas há coisas... situações familiares que me forçam a fazer coisas que detesto.
O silêncio que se seguiu foi cortante. Eu podia quase ouvir os ponteiros do relógio de parede marcando cada segundo tenso.
— Manuel exigiu sua saída da casa. — Pedro cuspiu as palavras como se lhe queimassem a boca. — E mesmo contra, tive que ceder nesse ponto.
Meu estômago embrulhou-se, mas mantive a expressão neutra. Pedro continuou, sua voz ganhando intensidade:
— Não pense por um segundo que esta foi uma decisão fácil. — Seus olhos queimavam com uma mistura de raiva e frustração. — Mas entre perder um profissional do seu calibre ou ceder nessa questão imobiliária... a escolha, foi óbvia.
Ele inclinou-se para frente, seus antebraços firmes sobre a mesa.
— Quero que entenda algo, Renato: esta empresa é minha vida. E você faz parte disso. Se dependesse apenas de mim... — Mas há dinâmicas familiares que nem mesmo eu posso ignorar completamente.
Pedro respirou fundo antes de finalizar, sua voz agora mais suave:
— Nossos happy hours, nossas conversas depois do expediente, tudo isso que construímos - não deixe que essa situação acabe com isso. Você é mais que um funcionário para mim. É um amigo! Espero que, com tempo, possa perdoar essa atitude necessária.
Seus olhos imploravam por compreensão, revelando o custo emocional que essa decisão teve para ele.
Eu já estava chateado, e ele sabia disso. Mas, no fundo, Pedro estava certo. Aquela casa pertencia a ele, mas, gostando ou não, também pertencia a Manuel.
— Fique tranquilo, Pedro. Não vou mudar nada entre a gente — garanti. — Só preciso de um tempo para sair de lá.
Pedro assentiu.
— Não se apresse. Quando achar que deve sair, saia.
Fiquei parado por um instante, esperando que ele dissesse algo mais. Mas, ao invés disso, ele apenas me olhou e falou meu nome:
— Renato.
Era um tom carregado de significados, mas sem espaço para mais conversa. Entendi o recado e deixei a sala.
Voltei para minha mesa e terminei tudo que estava pendente. Mas, por dentro, uma nova onda de raiva crescia dentro de mim. Eu odiava Manuel. Odiava a forma suja de como ele sempre conseguia o que queria.
Peguei um Uber para o mercado e, no caminho, mandei uma mensagem para meu irmão:
"A gente precisa conversar. Venha hoje à noite na minha casa. E, por favor, leve refrigerante. O jantar eu pago."
A resposta veio rápido:
"O que houve? Posso levar a Letícia? Que horas?"
Depois de confirmar que Letícia poderia ir e combinar o horário, fui direto às compras. Resolvi preparar um dos pratos favoritos do meu irmão: arroz, feijão, bife e batata frita com queijo parmesão por cima.
Chegando em casa, não havia tempo para enrolação. Coloquei o feijão para cozinhar e deixei a panela de arroz trabalhando enquanto os bifes, já temperados, descansavam para pegar mais sabor. As batatas e os bifes seriam fritos na hora que eles chegassem — nada de batata murcha ou bife passado do ponto.
Com o feijão temperado e o arroz pronto, fui tomar banho e me preparar para receber meu irmão e minha cunhada.
Quando eles chegaram, os recebi no portão e os convidei a entrar. Enquanto se acomodavam na mesa, comecei a fritar as batatas e os bifes.
Mas meu irmão, ansioso e curioso como sempre, não conseguiu esperar:
— Renato, por que me chamou aqui? Tá rolando alguma coisa que eu não estou sabendo?
— Está, sim — respondi, sem rodeios. — Mas prefiro que conversemos enquanto jantamos, pode ser?
Ele concordou, abriu o refrigerante e nos serviu. Letícia, sempre prestativa, me ajudou a fritar os bifes enquanto eu cuidava das batatas.
Quando tudo estava pronto e nos sentamos à mesa, depois de nos servirmos, fui direto ao ponto:
— Ricardo... Você sabia que o Manuel está em Volta Redonda?
Ele franziu a testa, claramente surpreso.
— Não fazia ideia.
Continuei:
— Ele apareceu hoje na contabilidade e pediu minha cabeça para o Pedro.
— Mentira que ele fez isso! — Letícia exclamou, indignada.
— Pois é... Na verdade, Pedro já havia me falado sobre isso.
Ricardo permaneceu em silêncio, balançando a cabeça negativamente.
— Ele quer me tirar da empresa e também daqui, onde moro. Pedro conseguiu me manter no trabalho, mas cedeu na questão da casa.
— Filho da puta! — meu irmão xingou, revoltado. — Eu não conhecia esse lado do Manuel.
— Nem eu... Mas agora sei exatamente com quem estou lidando.
Eles continuaram atentos enquanto eu falava. Então, respirei fundo e fiz meu pedido:
— Te chamei aqui porque quero que você desconvide o Manuel como padrinho do seu casamento.
Ricardo trocou um olhar com Letícia, que concordou sem hesitar.
— Por mim, ele seria desconvidado do casamento inteiro. Disse Letícia.
— Não, só tirá-lo da lista de padrinhos já é suficiente. Acredite em mim.
Ele assentiu, mas logo perguntou:
— E o Anderson? Ele continua na lista?
Parei por um instante, respirando fundo antes de responder.
— O Anderson... — dei um meio sorriso sem humor. — Pode deixar ele na lista. Ele nunca me fez nada, ao contrário do Manuel.
Ricardo cruzou os braços, me analisando.
— Você quer que eu tire só o Manuel, então?
— Sim. Eu sei que é chato fazer um pedido desses, ainda mais com o casamento tão próximo, mas não tem como eu fingir que nada aconteceu. Manuel vai sentir o golpe ao perceber que foi o único desconvidado.
Ele trocou um olhar com Letícia, que assentiu.
— Ok, então. Vou falar com ele.
— Obrigado. Agora, temos outro ponto para resolver — continuei.
— Qual? — ele quis saber.
— Meu retorno para a casa dos nossos pais. Pensei em alugar outro lugar, mas, considerando os gastos que terei com a faculdade e o fato de que mal ficarei em casa, acho mais sensato voltar para lá.
— Você sabe que a porta sempre esteve aberta para você. E acho que a nossa mãe vai gostar de te ter conosco.
— Não tenha dúvidas, Renato! Eles vão adorar, inclusive a gente, né, amor? — completou Letícia.
Ricardo, com seu tom característico de humor e deboche, brincou:
— Mais ou menos, né? Tem coisas que a gente é obrigado a aturar por causa de laços sanguíneos…
Letícia tomou um gole do refrigerante e me olhou com um semblante tranquilo.
— Olha, Renato, não esquenta com o Manuel, não. Esse tipo de gente a vida se encarrega de colocar no lugar.
Respirei fundo, sem conseguir conter minha indignação.
— O que me impressiona é como alguém pode se tornar um filho da puta de uma hora para outra. Quer dizer, será que ele sempre foi assim e eu que não percebi? Porque hoje ele fez questão de me expor na empresa, gerando um clima chato não só para mim, mas também para Pedro.
Ricardo balançou a cabeça e soltou um suspiro.
— Eu lamento muito por isso. Pra ser sincero, eu ainda não entendi o que levou ele a agir desse jeito.
Letícia tomou um gole do refrigerante e me olhou com um semblante tranquilo.
— Olha, Renato, não esquenta com o Manuel, não. Esse tipo de gente, a vida se encarrega de colocar no lugar.
Respirei fundo, tentando conter minha indignação.
— O que me deixa mais inquieto é como alguém pode mudar tanto de uma hora para outra... ou será que ele sempre foi assim e eu nunca enxerguei? — soltei um suspiro, sentindo um peso no peito. — Hoje ele fez questão de me expor na empresa, criando um clima péssimo não só para mim, mas também para o Pedro. E, pra ser sincero, eu não duvido que ele tente ir além... Vai que ele consegue envenenar o próprio pai contra mim e, no fim das contas, eu acabo sendo demitido?
Ricardo soltou um suspiro.
— Eu lamento muito por isso. Pra ser sincero, eu ainda não entendi o que levou ele a agir desse jeito.
Foi então que Letícia, tentando me animar, sugeriu:
— Quer saber? Liga pra ele agora e desfaça o convite!
Ricardo arqueou a sobrancelha, pensativo. Depois de alguns segundos, pegou o celular e discou o número.
— Tá bom, vou resolver isso agora.
Eu e Letícia ficamos em silêncio, atentos à conversa. Assim que Manuel atendeu, Ricardo foi direto ao ponto.
— E aí, Manuel, como você tá?
— Tô bem, cara. Tô aqui em Volta Redonda.
— É, eu sei — respondeu Ricardo.
Manuel pareceu intrigado.
— O que foi? Tá me ligando pra quê?
Ricardo pigarreou antes de continuar:
— Olha, o motivo da ligação é meio chato, mas necessário. Estamos fazendo algumas mudanças no casamento e, por conta disso, precisei reduzir a lista de padrinhos, e tive que tirar você.
Do outro lado da linha, houve um silêncio breve antes de Manuel perguntar:
— Deixa eu ver se entendi... Você tá me dizendo que eu não vou mais ser seu padrinho?
— Exatamente. Tive que tirar alguém da lista e esse alguém foi você.
Dessa vez, Manuel demorou mais para responder, e quando o fez, sua voz já não tinha a mesma firmeza.
— Mas... tem um motivo específico pra isso?
Ricardo foi direto:
— Quer a real?
— Sim.
— Eu não concordo com o que você fez com o meu irmão. A partir do momento que você tenta prejudicá-lo, eu simplesmente não te reconheço. Nunca imaginei que você fosse capaz de um papel desses.
Manuel ficou calado por alguns segundos antes de soltar um suspiro pesado.
— Cara, é complicado... Você não sabe de toda a história. Mas enfim, eu ainda tô convidado pro casamento?
— O convite tá de pé, Manuel, desde que você não estrague a festa. Você sabe que Anderson e Renato estarão lá.
— Entendi... — Manuel respondeu, agora com um tom nitidamente chateado. — Mas e o Anderson? Ele ainda vai ser padrinho?
Ricardo sorriu de canto, como se já soubesse que essa pergunta viria.
— Verás na festa. Mas fico feliz que tenha entendido a situação.
Manuel soltou um riso sem humor.
— Tá de boa, Ricardo... Fazer o quê, né?
Depois que Ricardo desligou a ligação com Manuel, ele suspirou fundo e me olhou.
— Pronto. Agora está feito.
Eu assenti, sem dizer nada. No fundo, sabia que Manuel não engoliu aquilo tão facilmente, mas, pelo menos, o recado estava dado.
Conversamos mais um pouco sobre o casamento e outros assuntos, até que combinei de almoçar com eles no dia seguinte — afinal, era Sexta-Feira da Paixão. Mas, depois de um tempo, meu irmão e Letícia se despediram e foram embora.
O almoço na Sexta-Feira Santa foi especial, como sempre. Minha mãe preparou a típica bacalhoada que todos nós amamos — um prato tão colorido quanto saboroso, repleto de azeitonas, batatas, ovos cozidos e, claro, o bacalhau bem temperado. Quando se tratava de comida, minha mãe não poupava esforços, e aquela refeição era a prova disso.
Ela adorava esses encontros, especialmente em dias que tinham um significado religioso. Para ela, era mais do que uma refeição; era um momento de união, de cuidado com a família. Ela se dedicava a tudo, desde os preparos na cozinha até puxar a oração antes de começarmos a comer. E, como sempre, estava tudo incrivelmente saboroso.
Quando pensei que o almoço tinha acabado, Letícia surpreendeu a todos. Ela foi até a cozinha e voltou com uma sobremesa chamada *delícia de abacaxi*. Cada garfada era uma explosão de doce e azedinho, e eu não conseguia parar de elogiar.
Mas o que realmente tornou aquele momento especial foi a conversa. Mesmo depois de terminarmos de comer, ficamos ali, à mesa, rindo e compartilhando histórias. Foi então que meu irmão, Ricardo, decidiu trazer à tona o assunto que eu precisava discutir com meus pais.
— Pai, mãe — ele começou, com um tom sério —, o Renato precisa falar uma coisa com vocês.
Meus pais imediatamente ficaram tensos. Minha mãe, sempre a mais ansiosa, já foi logo perguntando:
— Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?
Ricardo, percebendo a preocupação deles, aliviou a tensão:
— Calma, mãe. Você vai gostar do que ele tem pra falar.
Então, eu expliquei:
— Pedro me pediu a casa de volta. Então, eu queria saber se posso voltar a morar com vocês.
Meu pai foi o primeiro a responder, com aquele jeito prático e acolhedor que só ele tem:
— Nem precisava pedir. Essa casa também é sua.
Minha mãe, emocionada, já veio me abraçar, perguntando:
— Claro, meu filho! Quando você vem?
— Não quero passar muito tempo na casa do Pedro — respondi. — Provavelmente vou sair de lá no próximo fim de semana.
Ricardo e Letícia logo se ofereceram para ajudar:
— A gente te ajuda com a mudança, se precisar — disse ele.
Eu agradeci, dizendo que não tinha muita coisa para levar, mas que não dispensaria a ajuda deles.
Poucos minutos depois, meu pai, ainda com um ar de preocupação, me perguntou:
— Filho, você está tendo algum problema com o Pedro? Por que ele te pediu a casa de volta?
Tentei tranquilizá-lo:
— Não, pai, muito pelo contrário. O problema não é com o Pedro, é com o filho dele, meu ex. Mas está tudo bem, pode ficar tranquilo.
Expliquei para todos que já tinha um plano para a semana seguinte:
— Essa semana eu vou focar na mudança. Vou organizar tudo em caixas de papelão e garantir que tudo esteja pronto. Vai dar certo, não se preocupem.
Foi então que Letícia soltou uma frase que me fez pensar:
— Aproveita sua última semana morando sozinho, porque aqui eu vou te perturbar. Além disso, em breve eu e seu irmão também vamos nos mudar.
O resto do dia eu fiquei com aquela frase da Letícia ecoando na minha cabeça: "Aproveita sua última semana morando sozinho." Era como se ela tivesse colocado uma ideia em movimento, e eu não conseguia parar de pensar nisso.
Eu precisava aproveitar.
E, com esse pensamento fixo na mente, decidi que sim, eu iria aproveitar. Mas não seria naquela sexta-feira. Afinal, eu já estava ali, na casa dos meus pais, e pretendia dormir por lá.
No sábado, depois do almoço, decidi ir embora. Usei a desculpa de que precisava passar no bar do Jeffersson e depois começar a organizar algumas coisas para a mudança. Meus pais entenderam, mas minha mãe, como sempre, insistiu para que eu levasse um pouco mais de comida.
— Leva essa sobremesa, filho. Você adora! — ela disse, empacotando um pedaço da *delícia de abacaxi*.
Agradeci, dei um abraço em todos e pedi um Uber. Assim que entrei no carro, sentei no banco de trás e deixei a mente divagar. A frase da Letícia ainda ecoava na minha cabeça: "Aproveita sua última semana morando sozinho.”
Meu tempo naquela casa estava se esgotando. Então, nada melhor do que aproveitar os poucos dias que me restavam ali.
Cheguei em casa com uma certa maldade no pensamento. Baixei um app de pegação e comecei a explorar os *boys* disponíveis. Afinal, se o Manuel queria me tirar dali, eu faria valer cada segundo antes de partir.
Fiz um cadastro rápido, escolhi uma foto de perfil que me deixava bem e me joguei na rede. Em pouco tempo, os matches começaram a aparecer. Troquei mensagens com alguns caras, mas fui eliminando aqueles que não me interessavam. No final, restaram dois que chamaram minha atenção: um que usava o nome de “Solteiro Afim” e o Otto, que, depois de um papo mais longo, revelou que seu nome verdadeiro era Otávio.
Os dois pareciam interessantes, mas acabei optando por sair com Otávio. Ele tinha 26 anos, era moreno claro, com cabelo no corte disfarçado e sem barba. Além disso, tinha moto, o que facilitaria nosso encontro.
O papo com Otavio atravessou a noite, o clima esquentou de verdade. E, como já era de se esperar, nosso encontro acabou marcado para o domingo.
Combinamos de nos encontrar na praça onde ficava o ginásio onde Naldo dava aula, só depois decidiríamos que rolaria alguma coisa.
Antes de sair, pedi uma foto atual para confirmar que ele era mesmo quem dizia ser. Depois, fiz questão de enviar a foto e o número dele para Gil, avisando que ia sair com um cara. Eu me sentia mais seguro assim — caso algo acontecesse, pelo menos já teriam o contato do dito cujo.
Gil me deu a maior força, e eu fui sincero: disse que tinha decidido aproveitar os últimos dias ali, transformando aquela casa novamente no que ela sempre foi.
Quando cheguei, ele já estava lá, estacionado por perto. Ao me ver, saiu do carro e veio na minha direção.
— E aí? Tranquilo?
— Sim, claro — respondi, tentando disfarçar um certo nervosismo.
Nos sentamos em um dos bancos da praça, e ele logo sugeriu:
— Que tal tomarmos alguma coisa?
— Boa ideia.
Gostei do jeito dele. Não foi logo querendo ir direto ao ponto, mesmo sabendo que esse era o objetivo da noite.
Enquanto caminhávamos em direcao a moto, ele confessou que estava com receio de eu ser fake e que talvez eu não fosse a pessoa da foto. Ri e disse que também tive essa mesma preocupação.
— Que bom que você é o cara da foto — comentei.
Ele sorriu.
— Então tenho chance? Não te decepcionei?
Ri de novo.
— Claro que não.
Me entregou um capacete e ele me levou para um bar próximo ali. Assim que chegamos ao bar, pedimos uma cerveja, e o papo começou a fluir de forma mais íntima. Ele foi direto ao ponto: disse que não estava procurando relacionamento sério, apenas curtição. Também falou que era ativo, como já estava descrito no perfil, e que tinha gostado de mim.
Respondi que tinha terminado um relacionamento há pouco tempo e, por isso, não tinha intenção de me envolver com ninguém agora. Falei que era passivo versátil e que também o achei interessante, então, por mim, rolaria.
Embora já fosse um pouco tarde, achei que ainda valia a pena. Afinal, eu queria aproveitar.
Terminamos nossa cerveja e, Otávio insistiu em pagar a conta. Não discuti. Apenas agradeci e deixei que ele assumisse o gesto.
Depois, ele se levantou, pegou as chaves da moto e disse para eu acompanhá-lo até onde sua moto estava.
Com ele já sentado na moto, antes de me entregar o capacete, me olhou e perguntou:
— E então? — perguntou, me olhando com um sorriso sugestivo. — Topa um motel?
Sorri e balancei a cabeça.
— Não. Vamos para onde eu moro.
Ele riu.
— Só se for agora.
E assim, sem mais delongas, coloquei o capacete, subi na moto e fui guiando-o até minha casa.
Quando entramos em casa, o ar parecia carregado de uma energia que já não dava mais para ignorar. Mal fechamos a porta, Otávio se aproximou, e antes que qualquer palavra pudesse ser dita, seus lábios encontraram os meus em um beijo que parecia ter sido esperado por muito mais tempo do que apenas aquela noite. Otávio além de experiente era carinhoso, atencioso, e cada movimento dele era pensado para me fazer sentir bem.
Seus beijos eram profundos, quase devoradores, mas ao mesmo tempo carinhosos, como se ele soubesse exatamente como me levar ao limite sem pressa. As mãos dele percorreram meu corpo com uma mistura de urgência e cuidado, tirando minha roupa em movimentos lentos, como se quisesse prolongar cada segundo. Eu respondia ao toque dele, deixando-me levar pela conexão que parecia crescer a cada instante.
Quando nossas roupas já não eram mais uma barreira, eu o levei ate a cama, onde nos deitamos, e começamos de fato a nos entregar. Otávio sempre buscava meus olhos como se quisesse ter certeza de que eu estava ali, gostando de tudo.
Otávio era expert com as preliminares. Cada toque, cada movimento era calculado, como se ele soubesse exatamente o que fazer para me levar ao limite. Sua boca e seus dedos trabalhavam em meu corpo, era como se ele já conhecesse meus pontos fracos, cada reação minha antes mesmo que eu soubesse que ia reagir, era como se nós tivéssemos transado antes. E, naquele momento, eu não conseguia pensar em mais nada — só queria curtir aquilo que ele estava disposto a me oferecer.
Ele me conduziu com uma mistura de doçura e firmeza, alternando entre carícias suaves e movimentos mais intensos, ele tinha experiência naquilo.
Ele me puxou para cima, e agora era a minha vez de tomar as rédeas. Aproximei-me do seu ouvido, sentindo o calor da sua pele contra a minha, e sussurrei, com um tom de provocação:
— Que boca gostosa você tem... Mas não é só você que sabe usá-la, viu?
Meus lábios encontraram o pescoço dele, explorando cada curva com uma mistura de delicadeza e intenção. Desci devagar, beijando e mordiscando levemente, até chegar ao seu peito, onde minha língua traçou círculos lentos, provocando arrepios que pareciam ecoar por todo o corpo dele.
Continuei descendo, com uma mistura de curiosidade e desejo, até que minha boca encontrou o que procurava: a pica dele, sem pentelhos, rígida à espera de um mamador. Envolvi-o com os lábios, sentindo a textura e o calor, enquanto minha língua explorava cada centímetro. Ele gemia sem tirar os olhos de mim, cada suspiro dele era a confirmação de que eu estava o satisfazendo.
Perdi a noção do tempo enquanto estava ali, de joelhos, com ele guiando minha cabeça com as mãos, ditando o ritmo. Cada movimento era uma mistura de controle e prazer, e eu me entreguei completamente, sentindo o gosto e a textura dele na minha boca, enquanto ele murmurava palavras de incentivo que só aumentavam a intensidade do momento.
De repente, ele me puxou para cima, nossos corpos se colaram, e me beijou com uma intensidade que me surpreendeu. Quando nossos lábios se separaram, ele respirou fundo e disse:
— Porra! Tá me deixando maluco!
Sem perder tempo, ele me virou de quatro, e eu senti sua língua explorando meu traseiro com uma mistura de delicadeza e desejo que me fez gemer instantaneamente. Cada toque me levava mais longe, até que eu estava completamente entregue, implorando por mais.
Ele colocou a camisinha e se posicionou atrás de mim pincelou sua pica na entrada do meu cu , e eu o, lembrei:
— Tem lubrificante na gaveta...
Ele como quem soubesse do que estava fazendo repondeu:
— Não precisa. — respondeu, com uma voz rouca que deixou claro que ele não queria esperar mais.
E então, passou mais saliva e começou a me penetrar, devagar, com uma paciência que contrastava com a urgência do momento. Cada centímetro que ele entrava era uma mistura de dor e prazer, e eu gemia e rebolava, recebendo aquele pau dentro de mim. Aos poucos, nossos corpos encontraram o encaixe perfeito e ele começou a meter gostoso.
Eu estava amando cada segundo daquilo — a maneira como ele me dominava, a forma como seu corpo se movia contra o meu, a sensação de ter um novo homem se dedicando completamente ao meu prazer era demais, e eu me deixei levar, gemendo e rebolando, completamente perdido naquele momento de pura conexão e desejo.
Ele metia com um ritmo que me deixava à beira do êxtase, cada movimento calculado para me levar ao limite. Mas eu queria mais — precisava de mais. Com a voz embargada pelo prazer, eu pedi:
— Mete mais! Fode gostoso!
Ele respondeu com um gemido rouco, segurando minha cintura com mais força, como se quisesse me prender completamente àquele momento.
— Safado! Então toma.
E foi assim que ele acelerou, o ritmo ficando rápido e intenso, cada investida mais profunda do que a anterior. Eu gemia, completamente entregue, repetindo entre suspiros:
— Isso! Que gostoso...
Mas, em meio a toda aquela intensidade, uma coisa me chamou a atenção: ele só me comeu de quatro e na posição de papai e mamãe. Nada além disso. Era como se ele tivesse suas preferências claras, e eu, embora estivesse adorando, sentia uma curiosidade crescente sobre o que mais poderíamos explorar juntos.
De quatro, eu sentia cada movimento dele com uma intensidade avassaladora, suas mãos firmes na minha cintura, me puxando para trás a cada investida. Na posição de papai e mamãe, nossos olhares se encontravam, e eu via o desejo estampado no rosto dele, enquanto ele me dominava com uma mistura de força e cuidado que me deixava completamente entregue.
Otávio perdeu o controle — suas estocadas ficaram mais rápidas, mais brutais, como se quisesse me atravessar. Suas mãos agarravam meus quadris com força, os dedos cavando na minha pele enquanto sua respiração ofegante ecoava no meu ouvido.
— Eu vou gozar, caralho… — ele rosnou, voz rouca e cheia de tesão acumulado.
Eu me arqueiei contra ele, gemendo alto, minhas unhas enterradas no lençol.
— Goza, seu gostoso! Enche meu cu de leite!
E ele o fez. Com um gemido alto, senti seu pau pulsando dentro de mim, cada jorro quente me preenchendo enquanto seu corpo tremia em espasmos. Ele me puxou pra trás, colando meu corpo no dele, como se quisesse ter cada centímetro de pele em contato.
— Ahhh, porra... Toma tudo, seu puto... — ele sussurrou, ainda ofegante, enquanto os últimos tremores de prazer o percorriam.
Fiquei ali, de costas pra ele, sentindo o calor do gozo dele escorrendo entre minhas pernas e a respiração pesada dele no meu pescoço. Não precisava de palavras — aquele silêncio suado e satisfeito dizia tudo.
Fui até o banheiro me limpar, minhas pernas ainda estavam tremendo da surra de pica que Otávio tinha me dado.
Quando voltei pro quarto, encontrei Otávio deitado na cama, o corpo suado e relaxado, com um sorriso maroto estampado no rosto. Me joguei ao lado dele e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele já puxou meu rosto pra um beijo molhado e preguiçoso. Nossas línguas se encontraram devagar, mas agora com certa intimidade depois da transa que tivemos.
Foi ele quem quebrou o beijo, mordendo meu lábio inferior antes de soltar, com voz rouca:
— Você é um safado do caralho, sabia? Tá curtindo ser fodido assim, né?
Dei uma risada baixa, passando a mão pelo abdômen dele, sentindo os músculos contraírem sob meu toque.
— Curtindo? Estou amando.
Otávio riu, aquele som gostoso que vinha do peito, e puxou meu corpo pra cima dele.
Otávio olhou para baixo, um sorriso malicioso nos lábios, insinuando que estava pronto para mais uma rodada. E, de fato, não demorou muito para que nossos corpos se encontrassem novamente, dessa vez com uma intensidade que parecia ainda mais urgente, como se soubéssemos que o tempo estava se esgotando.
Quando acabou, ele se levantou, esticou o corpo e pediu para ir ao banheiro. Enquanto isso, eu fiquei ali, deitado, ainda sentindo o eco do prazer percorrendo meu corpo. Ele voltou alguns minutos depois, já vestido, e olhou para mim com um sorriso satisfeito.
— Cara, eu super curti. Vamos manter contato, né? Se precisar se aliviar de novo, é só chamar.
Ele se aproximou, me deu um beijo que ainda carregava um resquício do tesão que havíamos compartilhado, e então caminhou até o portão. Eu o acompanhei com o olhar, pensativo.
Se fosse alguns anos atrás, talvez eu me sentisse descartável. Mas, dessa vez, era diferente. Admito que foi um sexo casual gostoso — houve entrega, houve tesão, houve conexão. Só que eu sabia que era apenas um momento, uma experiência, um prazer momentâneo.
Afinal, Otávio foi incrível, mas eu precisava de novos sabores, novas descobertas.
No dia seguinte, acordei mais leve, como se uma noite de prazer tivesse lavado minha alma. Tão bem que, no caminho para o trabalho, parei para tirar uma selfie. Sorri para a câmera, capturando aquele momento de tranquilidade, e postei nas redes sociais com a legenda: "Me sentindo leve."
Mas, na contabilidade, o clima era outro. Pedro parecia carregar um peso invisível, uma culpa que ele não conseguia disfarçar. Em vários momentos, ele simplesmente abaixava a cabeça ao passar por mim, evitando contato visual. Aquilo foi me incomodando cada vez mais, até que, faltando pouco para o fim do expediente, decidi enfrentar a situação.
Fui até a sala dele sem bater na porta. Ele estava ao telefone, então me sentei na cadeira em frente à mesa e esperei. Quando terminou a ligação, ele me olhou com uma expressão curiosa.
— O que te traz aqui? — perguntou.
Fui direto ao ponto:
— Olha, eu sei que a visita do Manuel pegou todo mundo de surpresa, mas você tá diferente desde então. Hoje, por exemplo, você passou por mim e abaixou a cabeça. O que tá rolando?
Ele sorriu sem jeito, como se tivesse sido pego no flagra, e então admitiu:
— Cara, o Manuel me colocou numa posição que eu não queria. Eu não queria te tirar daquela casa.
Tentei tranquilizá-lo:
— Mas você tirou, e está tudo bem! Pedro, você já fez tanto por mim que isso é o de menos. Por favor, não se sinta culpado por ter sido encurralado ou até chantageado pelo seu filho.
Ele pareceu aliviado com minhas palavras e me agradeceu por ter ido até lá.
— Obrigado por vir falar comigo. Desculpa se o clima aqui ficou estranho pra você.
— Tudo bem, de verdade. Acho que só falta um happy hour pra resolver de vez essa tensão. Mas, por enquanto, vai ter que esperar — na outra semana, talvez. Tenho planos de me mudar no fim de semana.
Ele pareceu surpreso:
— Já vai sair?
Tive que explicar:
— Sim, vou voltar pra casa dos meus pais. Não quero problemas com o seu filho, nem quero causar nenhum pra você. Além disso, vou começar a faculdade e vou ter pouco tempo pra ficar em casa.
Ele assentiu, entendendo minha decisão, e então seguimos com o fechamento da contabilidade. No final do expediente, dessa vez, ele me levou para casa.
Quando cheguei em casa, depois de comer algo, fiquei mexendo no celular e fui ver as curtidas que recebi no Instagram. Meus amigos, familiares, meu primo, Thiagão e até o Daniel haviam curtido. Mas o que realmente chamou minha atenção foi um direct do Daniel, com o seguinte comentário:
— Livre, leve e solto... Era o que você está querendo dizer, né?
Reagi curtindo o comentário e mandei uma pergunta de volta:
— Por que não comentou lá na foto?
Poucos segundos depois, veio a resposta:
— Melhor não, senão seu primo ou seu irmão vão achar merda.
— Que tipo de merda? — insisti.
— Você sabe... Vão achar que estou te comendo.
Resolvi aproveitar o momento. Afinal, eu não tinha nada a perder. Joguei uma indireta:
— Então, estou pra mudar para a casa dos meus pais. É minha última semana aqui morando sozinho. Pensei aqui agora... Se você quiser vir aqui, me fazer companhia e a gente curtir a dois, sinta-se convidado.
A resposta dele veio rápida:
— Não viaja, melhor não.
Mandei mais algumas mensagens, mas não obtive resposta. Fiquei um pouco frustrado, mas, ao mesmo tempo, entendi que ele estava tentando evitar complicações. Mesmo assim, aquela troca de mensagens me deixou com um gostinho de "e se?".
Na quarta-feira, ativei meu modo *caçador* e, durante o almoço, entrei novamente no app. Dessa vez, um cara chamou minha atenção à primeira vista. Ele era mais velho, grisalho, com uma pele dourada de sol e um corpo atlético que deixava claro que malhava regularmente. No app, ele usava o nome *MalhadoDot*.
Comecei a conversar com ele ainda na hora do almoço, e o papo fluiu tão bem que passamos a tarde toda trocando mensagens. Falamos sobre nossas vidas, interesses e o que estávamos buscando. Ele se mostrou interessante, divertido e direto — tudo o que eu precisava naquele momento.
No final da tarde, já estávamos marcando um encontro. Segui o mesmo esquema que tinha feito com o Otávio: mandei uma foto e o número dele para o Gil, meu amigo de confiança. Gil vibrou ao ver o cara e até brincou:
— Se não fosse o Jefferson, eu também encararia o MalhadoDot!
O MalhadoDot, que se apresentou como Juliano, parecia ser uma ótima opção para fechar minha semana com chave de ouro.
Quando cheguei em casa, fui logo arrumando tudo e cuidando da minha higiene íntima. Afinal, Juliano chegaria em menos de uma hora. Confesso que estava menos ansioso com esse encontro do que no primeiro — talvez porque já sabia mais ou menos o que esperar.
Quando faltavam poucos minutos para ele chegar, recebi uma mensagem dele. No primeiro instante, achei que ele estava desmarcando, mas, para minha surpresa, ele perguntou:
— Tem problema se eu levar umas cervejas pra gente beber?
Respondi que não havia problema nenhum. Na verdade, achei a ideia ótima, já que poderia ajudar a quebrar o gelo.
Juliano chegou de Uber e me ligou lá da calçada. Quando atendi, fiquei impressionado com a voz grossa e marcante dele — típica de um radialista. Até brinquei:
— Você trabalha em rádio?
Ele riu e respondeu:
— Muita gente fala isso, mas não. Sou metalúrgico.
Convidei-o para entrar, e ele foi extremamente educado. Pediu que eu guardasse as cervejas na geladeira e nos sentamos à mesa enquanto ele bebia uma. Ele perguntou se eu era de Volta Redonda e estranhou o fato de eu morar sozinho tão novo. Não entrei em detalhes, apenas disse que era de VR, mas que gostava de ter minha liberdade.
Aos poucos, ele foi se soltando. Até que, em um momento, ele pegou minha mão e disse, com um sorriso:
— A gente tá perdendo tempo.
Sem mais delongas, ele me levou até a cama. Antes de deitar, me deu um beijo gelado, com gosto de cerveja, mas gostoso. Ele segurava minha cintura com firmeza, pressionando meu corpo contra o dele, como se quisesse deixar claro quem estava no controle.
— Posso tirar a roupa? — ele perguntou, já com as mãos prontas para agir.
Eu concordei, e ele foi tirando tudo, sem pressa. Em seguida, tirei minhas roupas também. Ele se deitou na cama, e notei que estava meia bomba.
Fui até ele, e nos entregamos a carícias e beijos. Juliano era, de fato, muito carinhoso. Suas mãos exploravam todo o meu corpo, e eu me deixei levar por aquele tesão.
Em um momento, ele me pediu para chupá-lo. Desci e coloquei sua pica, ainda meia bomba, na boca, começando a chupar com dedicação. Mas, por mais que eu me esforçasse, ela não endurecia. Comecei a me sentir constrangido, achando que o problema era comigo.
Ele percebeu minha preocupação e sugeriu:
— Chupa minhas bolas enquanto eu me masturbo.
Fiz o que ele pediu, mas ainda assim, nada. Resolvi tentar mais uma vez, mas foi em vão. Ele, visivelmente sem graça, sentou na beira da cama e admitiu:
— Isso nunca aconteceu comigo antes. Nunca broxei. Desculpa.
Tentei disfarçar a frustração, mas era difícil. Aquele homem estava ali, na minha cama, e eu não conseguia acreditar que ele não estava duro.
— Você tem que relaxar — falei, tentando ajudar. — Deve estar tenso.
Ele concordou, mas explicou:
— Eu tô com tesão, mas meu corpo não tá respondendo. E não é culpa sua.
Perguntei se ele queria tentar mais uma vez, mas ele decidiu não arriscar.
— Não quero passar por outro constrangimento — disse, com um suspiro.
Então, ficamos ali, nos beijando e trocando carícias. Eu estava com um tesão absurdo e não queria ficar na mão. Em um momento de ousadia, pedi:
— Me chupa?
Ele prontamente atendeu ao meu pedido.
A boca dele deslizava na minha pica com uma habilidade que me deixou impressionado. Ele me sugava com uma sucção deliciosa, alternando entre movimentos lentos e rápidos, como se soubesse exatamente o que eu gostava. Eu só o observava, admirando a dedicação que ele colocava em cada movimento.
Em um momento de tesão incontrolável, resolvi socar minha pica no fundo da boca dele. Ele aguentou tudo, engasgando algumas vezes, mas sem parar. Era como se ele estivesse determinado a me satisfazer, não importava o quão intenso fosse.
Quando não aguentei mais, puxei-o para perto de mim e o beijei, sentindo o gosto de meu pau em sua boca.
— Você tem uma boca macia — sussurrei, elogiando.
Ele sorriu, segurou minha pica novamente e continuou a chupar, como se quisesse me levar ao limite. No fim, ele parou por um instante e perguntou, com um olhar provocativo:
— Tá gostando?
Eu gemi, quase sem fôlego, e sussurrei:
— Sim...
Foi então que ele me surpreendeu, pedindo com uma voz rouca e cheia de desejo:
— Então me come.
No primeiro momento, eu não acreditei no que tinha acabado de ouvir:
— O quê?
— Me come! — ele repetiu, com um tom que não deixava dúvidas.
— Me mama mais um pouco — pedi, colocando ele de volta para trabalhar enquanto tentava assimilar o que estava rolando ali. Para mim, parecia que ele estava tentando me compensar por ter brochado. Então, resolvi perguntar, mesmo com ele ainda com minha pica na boca:
— Tá querendo me dar porque quer ou porque brochou agora há pouco?
Ele tirou a pica da boca, olhou para mim com um sorriso sem vergonha e respondeu:
— Os dois! Eu queria te comer, mas já que tô aqui, não vou deixar de te dar prazer não.
Eu já estava ali, e não pensei duas vezes. Juliano ficou de quatro, pronto para receber minha pica. Mas, diferente dele, eu usei lubrificante. Após colocar a camisinha, fui penetrando devagar, e ele gemeu como um puto.
Cheguei até a pensar que ele tinha vindo com a intenção de me dar, porque se entregou completamente.
— Mete devagar, por favor! Isso, que gostoso! — ele disse, com uma voz que misturava prazer e súplica.
Mas foi quando ele começou a cavalgar em mim que ele realmente se mostrou um puto. Enquanto quicava, ele se masturbava e me chamava de moleque:
— Você é gostoso! Caralho, moleque...
Eu só observava, impressionado com a forma como ele deslizava na minha pica, completamente entregue ao prazer.
Coloquei ele de frango assado e comecei a meter com força naquele rabo, enquanto ele gemia e dizia:
— Isso, faz gostoso! Que delícia!
A cena era surreal. Ele gozou horrores, e quando eu finalmente tirei minha pica, gozei na bunda dele, completando aquele momento.
— Caralho, você não aparentava ser tão safado assim — ele disse, ofegante, com um sorriso no rosto.
Fomos para o banho, e lá ele tocou no assunto que ainda o incomodava:
— Cara, foi mal... Me senti envergonhado hoje.
Tentei amenizar a situação:
— Até esqueci que você brochou. Você soube me dar prazer de outra forma. E, pra ser sincero, jamais imaginei que um cara grandão como você se transformaria assim levando pica.
Ele riu, veio em minha direção e nos beijamos. E que beijo! Foi então que ele admitiu:
— Sou versátil, mas hoje eu queria te comer.
Logo após o banho, ele se vestiu e se preparou para ir embora. Com um último beijo e a promessa de que nos esbarraríamos por aí, ele foi embora, deixando para trás algumas cervejas que ele havia comprado na geladeira.
Na quinta-feira, eu estava até desenrolando um rolê com um carinha da minha idade — que, inclusive, eu já tinha visto algumas vezes pelo bairro. Enquanto dividia minha atenção entre o trabalho e o flerte no aplicativo, meu celular tocou. O número do Jefferson apareceu na tela. Estranhei, mas atendi na hora.
Ele foi direto ao ponto:
— Você tá ocupado? Pode falar?
— Estou na contabilidade, mas posso falar — respondi.
Foi então que ele me deu a triste notícia: a avó de Gil havia falecido. Ele explicou que tinha acabado de acontecer e que alguém — possivelmente outro parente, ou até o tio abusador — ligou para Gil contando. Jefferson disse que ia ajudar os familiares no que fosse possível e que, naquele momento, já estava indo para a casa da avó de Gil Gil. Quando soube, Gil nem esperou ele fechar o bar e foi correndo para lá.
Pedí para Jefferson me informar o horário e o local do velório assim que soubesse. Pouco tempo depois ele me disse que o local do velório, seria na casa onde a avó de Gil morava — um desejo que ela sempre demonstrou em vida.
Enquanto isso, mandei mensagens para Breno e Dinei, contando sobre a morte e o local do velório.
Depois, informei Pedro sobre o ocorrido e pedi que me dispensasse depois do almoço. Queria ir dar uma força para Gil, e ele aceitou me liberar, ele até me pediu o endereço do velório e o nome da avó Gil, antes de sair encaminhei a mensagem que Jefferson havia me mandado para Pedro.
Fui direto para lá. Quando cheguei, a cena que vi me fez perceber o quanto aquela família era estranha e tóxica. De um lado, estavam Gil e Jefferson. Do outro, o restante da família. Aquilo me doeu a alma, mas fui em direção ao meu amigo e o abracei.
— Aí, Gil... Sinto muito! Eu sei que ela era muito importante pra você.
Gil se desabou em lágrimas, sem dizer uma palavra. Ficamos ali abraçados por um tempo.
Enquanto isso, vi o tio de Gil chorando piedosamente, quase garantindo um certo espetáculo. Jefferson me perguntou se eu havia mandado mensagem para Breno e Dinei. Disse que sim, e foi quando soube que eles ainda não tinham passado por lá.
Peguei o celular e mandei uma mensagem bem sincera para Dinei:
— Gil está passando por um momento delicado. Ele perdeu alguém que amava muito. A família dele está ignorando a presença dele, mesmo no velório. Mais do que nunca, ele precisa de vocês aqui.
Cerca de 30 minutos depois, Dinei e Breno apareceram. Depois de abraçarem Gil e oferecerem suas condolências, ficamos ali conversando. Foi quando descobri que, a pedido de Gil, Jefferson havia custeado todo o velório. Ele comprou o caixão, as flores, as coroas, as velas e até o café e os biscoitos que eram servidos. A única coisa que Jefferson não pôde fazer foi garantir que a avó de Gil fosse enterrada em um jazigo doado por ele, porque os familiares de Gil acharam um absurdo que ela não fosse sepultada no túmulo da família.
Para minha surpresa, meus pais também apareceram no velório, chegando quase no final. Eles ficaram um tempo, ofereceram condolências à família, ficaram ali umas meia hora e foram embora.
Em meio ao velório, chegou uma coroa de flores enorme com uma mensagem fúnebre em nome de Pedro. A cena foi tocante, e até os familiares de Gil pareceram surpresos com o gesto.
Quando o horário do sepultamento se aproximou, o clima ficou ainda mais pesado. Os familiares choravam, e Jefferson agora abraçava Gil com toda a força, como se quisesse protegê-lo daquela dor. Um pastor deu uma mensagem de consolo e fez uma oração, tentando trazer algum conforto para aqueles que estavam ali.
Os homens da funerária chegaram e, após colocar a tampa no caixão, o levaram para o carro. Gil decidiu não ir ao enterro. Jefferson havia conversado com ele, e ambos concordaram que seria um sofrimento desnecessário. Além disso, como Gil mesmo disse, a avó, de certa forma, já não estava mais neste reino.
Sendo assim, fomos para a casa de Gil. Lá, ele nos contou algumas memórias que tinha com a avó. Uma delas foi quando ele estava depilando as pernas e a avó entrou no quarto sem avisar e eles começaram a brigar. Gil teve que correr para minha casa com uma perna lisa e a outra peluda para terminar a depilação. Eu me lembrei do ocorrido, e todos nós rimos muito, aliviando um pouco a tensão do dia.
Aproveitando que estávamos todos reunidos, resolvi contar sobre minhas "pegações" recentes. Falei do cara que broxou, e Jefferson riu muito, dizendo:
— Nem sempre homem com barriga tanquinho tem uma torneira que funciona!
Breno também entrou na conversa e contou que Dinei havia recebido uma proposta na internet, mas eles recusaram. Segundo ele, a proposta era boa e tentadora, mas não era o que eles buscavam.
Depois de um tempo, decidi ir embora. Antes de sair, Jefferson me agradeceu pela força e pela presença. Gil reforçou o quanto minha amizade era importante para ele, e aquelas palavras me tocaram profundamente.
Quando cheguei em casa, meus pais estavam na sala, e assim que me viram, vieram falar sobre o velório da avó de Gil. Eles estavam visivelmente impactados, especialmente com o isolamento que a família impôs a ele durante o velório.
— É inacreditável como eles tratam o Gil — disse minha mãe, com um misto de indignação e tristeza.
Eu expliquei que aquela situação não era nova. Gil enfrentava esse tipo de rejeição desde que revelou que o tio o abusava. Minha mãe, sempre sensível, não hesitou em dar sua opinião:
— Com a perda da avó, Gil praticamente deveria cortar os vínculos com o restante da família. Eles não dão suporte algum e nem o fazem se sentir como parte dela. É uma situação triste, mas ele precisa se afastar de quem não o valoriza.
Depois de um tempo conversando, subi para o meu quarto. Tomei um banho relaxante, deixando a água quente aliviar o cansaço do dia. Quando finalmente deitei na cama, o sono veio rápido, mas não sem antes alguns pensamentos sobre Gil e tudo o que ele estava passando.
Na sexta-feira, acordei atrasado. Olhei para o relógio e vi que, se não me apressasse, perderia o horário. Peguei um Uber e cheguei a tempo no trabalho. Tomei café na empresa mesmo, um expresso forte que me ajudou a acordar de vez. Enquanto estava no PC, focando nas planilhas, meu celular vibrou. Quando fui ver, era uma mensagem do Anderson.
Primeiro, ele mandou um simples "bom dia". Como sabia que eu não responderia logo, continuou:
— Esses dias tenho pensado demais em você. Sério, Renato! Você não sai da minha cabeça. Quero falar com você, ouvir sua voz, ter notícias suas.
E, mais uma vez, eu o ignorei. Só que, toda vez que recebia uma mensagem dele, meu coração batia mais forte, a ansiedade vinha à tona, e meus pensamentos voavam para Joinville. Era como se aquelas palavras mexessem com algo que eu tentava manter guardado.
Passado um tempo, ele mandou outra mensagem, dessa vez mais insistente:
— Por favor, me responde.
Até que me ligou, e eu recusei a chamada. Não estava pronto para ouvir a voz dele, mas, ao sair para almoçar, decidi que era hora de enfrentar aquela conversa. Estava na padaria, tomando um suco de laranja gelado e comendo um sanduíche natural de peito de peru, quando resolvi ligar para ele.
Quando atendeu, ele perguntou, incrédulo:
— Renato? É você?
Confirmei, com um sorriso que ele não podia ver:
— Sim, claro! Quem mais seria, ligando deste número?
Ele riu, e eu pude ouvir o alívio na voz dele.
— Não estava esperando que você ligasse — disse ele, agora com um tom mais alegre.
Então, continuou:
— Anjo... digo, Renato, esses dias tenho pensado demais em você! Quero saber como você está.
Falei a verdade, sem me aprofundar:
— Está tudo bem por aqui. Seguindo a vida, ainda na contabilidade, vou fazer faculdade, em breve estarei motorizado e vou voltar a morar com meus pais.
Ele quis saber o motivo, e eu expliquei:
— É por causa da faculdade. Será melhor ficar com eles.
Perguntei como estava a vida dele, e ele disse que ainda estava na mesma empresa, mas havia mudado de setor e o salário tinha aumentado. Também contou que não morava mais naquele cubículo que eu conheci, mas sim em uma casa de verdade.
Houve um silêncio, até que ele me perguntou:
— E você, conheceu alguém?
— Anderson, não vou falar sobre minha vida pessoal — respondi, tentando manter um tom neutro.
— Conheceu? — ele insistiu, com uma voz que parecia misturar curiosidade e preocupação.
— E se tiver conhecido? — provoquei, deixando a pergunta no ar.
— Você acabaria comigo! — ele disse, com um tom de brincadeira, mas que carregava um fundo de verdade.
Fui além:
— Mas é um risco que a gente corre. Não sabemos do amanhã. E vai que você ou eu nos esbarramos com alguém bacana.
— Cara, nem quero pensar nisso — ele admitiu, com um suspiro.
Então, eu o lembrei:
— Mas deveria pensar, porque foi você quem botou um ponto final entre a gente.
— Renato, saiba que me arrependo até hoje por isso — ele confessou, com uma voz que parecia carregar o peso daquela decisão.
Antes de finalizar, perguntei se ele tinha notícias de Manuel. Ele disse que, às vezes, via Manuel perto do trabalho. Meu primo achava que Manuel ficava de tocaia, pois, pelo menos uma vez por semana, ele aparecia por lá. Anderson, então, me devolveu a pergunta:
— E você, o viu nesse tempo?
— Sim — respondi. — Ele apareceu na contabilidade, tentou puxar assunto, mas não conseguiu.
Anderson riu, e eu pude imaginar o sorriso dele do outro lado da linha.
Eu precisava mentir, pois sabia que meu primo era capaz de ir até Manuel e fazer algo contra ele, e isso não seria legal.
Falei que precisava desligar, mas, antes, ele reforçou:
— O casamento do Ricardo está próximo, e, em breve, nos veremos pessoalmente.
Ele agradeceu por eu ter ligado e, antes de desligar, disse:
— Te amo.
Naquele momento, quem estava sorrindo feito bobo era eu.
Voltei a trabalhar, mas levei comigo aquele pequeno gesto de carinho. E, mesmo que fosse só isso, eu gostei.
Na volta para casa, decidi parar no mercado para comprar alguns itens essenciais e, de quebra, pedi ao gerente algumas caixas de papelão para embalar minhas coisas. Ele me deu umas bem resistentes, e eu agradeci, já imaginando o trabalho que teria pela frente.
Mal cheguei em casa, fui direto para a cozinha preparar algo rápido para comer. Fiz um sanduíche simples, mas que caía bem depois de um dia cansativo. Só depois de matar a fome é que mergulhei de cabeça na tarefa de organizar tudo.
Comecei pela cozinha, separando os utensílios que usava com mais frequência e os que ficavam esquecidos no fundo dos armários. Embrulhei cada item com cuidado, pensando em como aquela mudança marcava o fim de um ciclo. No quarto, separei as roupas: as que eu mais usava foram para uma mala, e o resto — roupas de cama, toalhas e outras coisas — foi para as caixas.
O lugar estava um caos completo. Caixas abertas, sacolas espalhadas, . Era uma bagunça que dava até vergonha. Receber alguém ali naquele estado? Nem pensar. Terminei a noite conversando com o novinho do bairro pelo celular, ainda meio incrédulo de que o último boy que levei para casa tinha sido o Juliano, o cara que broxou. A vida tem dessas ironias.
No sábado, fui para a contabilidade já com a cabeça cheia de planos para terminar a mudança. Mal podia esperar para chegar em casa e dar um fim naquela bagunça.
Na saída, Ricardo me pegou e ofereceu ajuda. Ele tinha uma parafusadeira e sabia mexer com móveis, então topou desmontar o guarda-roupa comigo.
Em meio à correria, Ricardo parou por um instante, me olhou e disse:
— Você tá voltando pra casa num momento importante...
Ergui a sobrancelha, curioso.
— Como assim?
— Em breve, eu e Letícia vamos sair de lá. Pelo menos, nossos pais não vão sentir tanto com sua volta.
Pensei por um momento antes de responder.
— Mas eu quase não vou ficar lá. Só nos finais de semana.
Ele sorriu de leve.
— Mas eles vão ter quem esperar, entende?
Aquilo me pegou. Não era só sobre estar em casa, era sobre a presença, o saber que alguém da família ainda estaria ali.
Enquanto levávamos algumas caixas para o carro, Ricardo confessou:
— Eu tô feliz que tá dando tudo certo pra mim e pra Letícia. Logo a gente casa e vai morar juntos... Mas, às vezes, bate uma tristeza quando penso que vou sair da casa dos nossos pais.
Olhei para ele. O tom da voz entregava a mistura de ansiedade e nostalgia.
— A gente passou a vida inteira ali, né? — ele continuou. — De repente, sair do ninho dá uma insegurança.
Parei o que estava fazendo e o abracei, sentindo o peso daquela mudança para ele.
— Cara, faz parte do processo da vida. Mas é só não sumir! Sempre dá um jeito de aparecer, tomar um café no fim da tarde... Eles vão ficar felizes.
Ele respirou fundo e assentiu, como se aquelas palavras tivessem ajudado a acalmar algo dentro dele.
E, naquele momento, percebi que aquela mudança não era só minha.
Quando foi embora, Ricardo aproveitou para levar algumas coisas para a casa dos nossos pais. A fritadeira elétrica, o micro-ondas e a mala de roupas foram os primeiros a ir.
Foi bom ter a ajuda dele. Além de acelerar o processo, o clima ficou mais leve no meio do caos e diminuiu um pouco ( não muito) da bagunça que estava ali.
Quando escureceu, eu estava lá, no meio da bagunça da mudança, organizando caixas e decidindo o que levar ou deixar pra trás. Foi quando o celular vibrou. Era o Daniel.
Daniel: Boa noite.
Eu: Boa noite.
Daniel: Tranquilo?
Eu: Tudo sim, e aí?
Daniel: Aqui tá suave.
Eu: O que manda?
E então, veio a mensagem que eu mal esperava:
Daniel: Então, quero saber se aquela sua proposta ainda está de pé.
Quando li aquilo, quase deixei o celular cair. Mas, claro, mantive a calma. Nada de demonstrar toda aquela empolgação.
Eu: Mudou de ideia?
Daniel: Cara, está ou não?
Eu: Desde que você não ligue pra bagunça que está aqui. Vou me mudar em breve.
Daniel: Cara, isso é o de menos. Se você entrar no meu quarto, vai ver o que é bagunça de verdade.
Eu: Kkkk. Então você vai se sentir em casa.
Daniel: Que horas posso ir?
Eu: Pô, já são 18:45. Vem por volta das 21, pode ser? Ou está tarde?
Daniel: Tranquilo! Só me manda a localização.
Eu: 🗺
Sem acreditar, perguntei para Daniel se ele realmente viria. Ele respondeu sem rodeios:
— Tô falando sério, pô!
Aquilo me pegou de surpresa. Com a adrenalina subindo, tentei dar uma ajeitada na bagunça, tomei um banho rápido e me preparei para recebê-lo.
Quando ele chegou, eu já estava ansioso, esperando sua ligação no portão. Assim que atendi, fui abrir para ele.
Daniel só saiu do carro depois que abri o portão. Ele desceu, me olhou e sorriu.
— Fala, Renato. Beleza?
— Na correria da mudança, mas tô bem.
Ele me puxou para um abraço rápido, e eu o convidei para entrar.
— Fica à vontade... e, por favor, ignora a bagunça!
Segui até a geladeira e peguei uma das cervejas que o Juliano tinha deixado. Entreguei para ele, e logo começamos a conversar.
— E aí, tá curtindo essa fase de solteiro? — ele perguntou, com um sorriso sugestivo.
Dei uma risada sem graça, abrindo minha cerveja.
— Começando a aproveitar...
Ele ergueu a sobrancelha e soltou um:
— Tô vendo...
Fui até a TV.
— Quer que eu coloque alguma coisa? Ou prefere uma música?
— Tanto faz — respondeu, relaxado.
Foi só então que me dei conta de que não tinha preparado nada para comer. Também, né? Ele avisou em cima da hora.
— Daniel, vou pedir algo no app pra gente comer...
Antes que eu pudesse terminar a frase, ele se levantou e veio até mim. Parou bem na minha frente, encarando meus olhos.
E então, com a voz firme e um olhar cheio de intenções, disse:
— A única coisa que eu vim comer aqui é você.
Senti meu rosto queimar com aquela indireta.
Fiquei sem reação por um instante. Daniel não era assim... ou, pelo menos, nunca tinha sido tão direto comigo.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele lançou mais uma provocação:
— Você me chamou aqui pra quê mesmo? Larga de bobeira.
E então, sem cerimônia, puxou a camisa pela cabeça e a jogou de lado.
— Já que é pra me sentir em casa...
Pegou a cerveja e caminhou até a cama, sentando-se com a confiança de quem sabia exatamente o que estava fazendo.
— Vem cá — ele disse, batendo no colchão ao lado dele.
Meu coração acelerou. Minhas mãos ficaram geladas.
Respirei fundo e fui até ele. Assim que me aproximei, ele me puxou devagar, colando o corpo quente no meu.
Ele se aproximou mais ainda, e nossos lábios se encontraram de novo. Porra, como esse homem beijava bem. Ele me puxou contra ele, uma mão nas minhas costas, a outra firme na minha cintura, como se não quisesse deixar um centímetro de espaço entre a gente. Nossas línguas se enrolavam, e cada beijo era mais intenso que o outro—aquele tipo de beijo que faz o corpo acender.
Depois de um tempo, cheguei perto do ouvido dele, respiração acelerada, e sussurrei:
— Quer que eu use essa boca na sua pica?
Ele soltou um grunhido e respondeu, voz já rouca de tesão:
— Caralho, Renato. Para de perguntar e vai logo.
Ele saiu da cama e começou a tirar a roupa, e eu fiquei ali, deitado, olhando cada movimento. Meu Deus, que homem! Quando a cueca desceu, a pica dele já estava dura, impaciente. Sorri, orgulhoso de ver o efeito que tinha nele.
— Vem cá — ele ordenou, segurando o pau com uma mão enquanto me encarava.
Obedeci, me arrastando de quatro até ele, sem desviar o olhar. Comecei devagar, lambendo a cabeça dele, sentindo o gosto salgado já na minha língua. Desci até as bolas, passei a boca pelo pau todo, deixando ele molhado de saliva antes de engolir ele de volta. Ele gemeu, os músculos do abdômen tensionando.
— Isso... chupa direito — ele ordenou, enfiando a mão no meu cabelo e guiando meu ritmo.
Eu deixei ele usar minha boca, afundando até engasgar, sentindo a garganta abrir enquanto ele metia. Ele não tinha pena—socava com força, os quadris batendo contra meu rosto, e eu adorava cada segundo. Quando puxei pra trás pra respirar, ele me puxou de volta antes que eu pudesse falar qualquer coisa.
— Você acha que eu ia perder a chance de sentir essa boca de novo? ele disse, voz rouca. Ou de ver essa cara de puto que você faz quando tem um pau te fodendo?
Ele me jogou de volta na cama e veio por cima de mim, beijando-me de novo enquanto a mão dele descia até minha bunda. Um dedo entrou no meu cu sem aviso, e eu arqueei, gemendo alto contra a boca dele. Ele riu, baixo e satisfeito, enquanto trabalhava meu cuzinho.
— Gosto de te ver assim! — ele murmurou, os olhos percorrendo meu rosto. Gemendo, se contorcendo... todo aberto pra mim.
E eu sabia que ele estava certo. Não precisava perguntar—dava pra ver no jeito que ele me olhava, no jeito que as mãos dele apertavam mais forte quando eu gemia. Ele adorava me ver assim, e eu adorava ser exatamente o que ele queria, por tanto eu l gemia sem timidez.
Me virei e fiquei de frente para ele novamente, nossos lábios se encontrando em um beijo rápido e molhado antes que eu me afastasse, respirando fundo.
— Vou pegar o lubrificante e a camisinha — anunciei, já levantando da cama.
O difícil era lembrar onde tinha guardado a bendita caixa — eu havia colocado na caixa junto com as cuecas. Depois de fuçar um pouco, finalmente encontrei e voltei até ele, só para vê-lo meio mole, deitado na cama com uma expressão de frustração ele brincou.
— Acho que você vai ter que me dar uma ajudinha aqui — ele disse, batendo levemente no próprio pau.
Sorri, entregando-lhe a camisinha e o lubrificante antes de cair de boca naquela pica novamente. Não precisou de muito — alguns minutos de língua, mão e boca quente, e ele já estava duro de novo, pulsando contra minha língua.
Daniel lubrificou os dedos e passou um pouco em mim, fazendo eu estremecer quando a ponta do seu dedo circulou minha entrada. Ele então posicionou a cabeça da pica, e eu gemi alto ao sentir a pressão.
— Devagar... — pedi, tentando relaxar enquanto ele empurrava com cuidado.
Ele tirou, sim, mas só para adicionar mais lubrificante e tentar de novo, dessa vez entrando aos poucos, me dando tempo para me acostumar. Eu até empinei o corpo, querendo sentir cada centímetro dele me preenchendo.
— Isso... assim mesmo — ele murmurou, as mãos firmes na minha cintura.
Quando ele começou a meter de verdade, foi com uma intensidade que me arrancou gemidos altos demais. Apertei o colchão com força e enterrei o rosto no travesseiro, tentando abafar os sons, mas ele não deixou.
— Tá gostando, né, safado? — ele perguntou, voz rouca, enquanto acelerava o ritmo.
Ainda sendo fodido, levantei o olhar para ele e respondi, desafiadora:
— Você tá aí pra isso, não é?
Ele riu, mas não desacelerou. Em vez disso, me virou de lado, colocou uma das minhas pernas sobre seu ombro e continuou a me comer num ritmo delicioso, cada estocada mais profunda que a outra. Ver aquele homem diante de mim, todo suado, os músculos tensionados enquanto ele se dedicava a me foder, era *perfeito*.
Eu sabia que ali não havia amor, nem paixão — mas havia desejo, um cuidado estranhamente terno. Ele metia com força, sim, mas havia um carinho na forma como suas mãos me seguravam, como ele me observava, como ajustava o ritmo quando eu pedia.
— Deita na cama, eu peço com a voz rouca de tesão — quero cavalgar você agora.
Daniel obedece na hora, deita com aquele sorriso maroto de quem sabe exatamente o que vai acontecer.
Minhas mãos tremem levemente quando seguro o pau dele — que calor, que veia saltada, que delícia — e me posiciono sobre ele, alinhando a cabeça roçando na minha entrada já relaxada, mas ainda sensível.
—Ahhh... porra… -— Eu desço devagar, sentindo aquela pica grossa me abrindo, e preciso parar quando só a cabecinha entra. Respiração ofegante, olhos fechados, concentrado. Daniel não ajuda - só segura minha cintura com força, deixando eu controlar o ritmo.
Quando abro os olhos, encontro o olhar dele queimando em mim -
caralho, ele me come até com os olhos.
— Daniel... você é gostoso demais —murmuro, começando a descer mais um pouco, me apoiando no peito peludo dele. Aos poucos, vou cedendo ao peso do corpo até que desço de uma vez, sentindo ele me preencher completamente.
Começo a cavalgar devagar, subindo e descendo naquela pica como se estivesse tentando decorar cada centímetro. Daniel geme quando rebolo, e eu sorrio, orgulhoso do efeito que causo.
Paro por um instante. Fecho os olhos e suspiro, sentindo só... ele todo dentro de mim.
— Renato, tá tudo bem? — ele pergunta, preocupado.
Abro os olhos e respondo, mordendo o lábio:
— Tô ótimo... adorando dar pra você.
Foi a deixa que ele precisava. Num movimento rápido, Daniel vira nossas posições - agora ele por cima, me fodendo de frente com estocadas profundas que fazem a cama bater na parede. Abro as pernas o máximo que posso, querendo cada centímetro, enquanto minha mão vai pro meu pau, batendo uma no mesmo ritmo animal que ele me come.
— Assim... assim mesmo, Daniel! — grito, sentindo o orgasmo crescer. Nossos corpos suados colam, os gemidos se misturam.
Daniel não perdia o ritmo, me comia freneticamente. Cada socada era uma afirmação de domínio. A cama batia na parede num ritmo obsceno, mas eu já nem ouvia mais. Meu corpo tremia, as pernas fracas, as mãos agarradas nos lençóis como única âncora, mas meus olhos só viam ele: aquele macho suado, os músculos tensionados, o rosto contraído de prazer enquanto depositava toda a sua força em mim naquelas medidas.
E foi assim, vendo ele por cima de mim - completamente entregue e dominado - que gozei.
Daniel respirava pesado quando anunciou, voz rouca:
— Vou gozar, Renato...
Antes que ele terminasse a frase, eu já estava puxando ele pra minha boca:
—Me dá todo esse leite, vai... quero beber até a última gota.
Ele não pestanejou. Agarrou minha cabeça e enfiou o pau até o fundo da minha garganta no exato momento que o primeiro jato quente explodiu na minha boca. Salgado, quente, sabor de macho. Eu engolia com vontade, mamando ele enquanto ele jorrava, e os urros dele ecoavam pelo quarto.
Quando acabou, ele desabou ao meu lado, ofegante. Eu lambi os lábios, ainda sentindo o gosto dele, e ele riu, exausto mas satisfeito:
— Você é um puto insaciável.
E você não gostou nem um pouco, né? —devolvi com um sorriso safado, lambendo os lábios ainda melados dele.
Daniel deu uma risada gostosa, aquela gargalhada de quem tá completamente satisfeito:
—Caralho, mano! O bom é que você não tem essa frescura de mulher. Bombei gostoso e você nem reclamou.
— Reclamar pra que? — respondi, me esticando na cama como um gato satisfeito. — Aliás, tô fechando meu ciclo nessa casa com chave de ouro, e tudo graças a você.
Ele riu, ficou levemente corado - coisa rara pra ele - mas logo recuperou o jeito durão:
— E como você vai fazer pra transar agora que não pode levar ninguém pra casa dos seus pais?
— Local é o de menos... tem motel, tem carro, tem mato… — respondi, encarando ele com malícia.
Daniel olhou pro relógio e fez cara de quem tinha que ir. Eu puxei ele pelo braço, com um olhar suplicante:
— Deixa eu te chupar mais um pouquinho?
Ele sorriu, foi até a geladeira e pegou outra cerveja.
—Tranquilo. Chupa enquanto eu bebo mais uma.
E assim fiz. Ajoelhado no chão, com as mãos firmes nos seus quadris, fui devorando aquela pica com a mesma intensidade de antes. Daniel bebia sua cerveja com uma mão enquanto com a outra guiava minha cabeça, fazendo eu engolir cada centímetro dele.
Quando ele sentiu que eu tava no limite, fez algo inesperado - pegou a cerveja gelada e derramou um pouco no próprio pau.
— Chupa de novo! — ordenou, e eu obedeci, sentindo o contraste do líquido gelado com o calor da pele dele.
Foi rápido. Com poucas socadas profundas, ele explodiu na minha boca de novo. Engoli tudo, sem perder uma gota, enquanto ele gemia baixo, os dedos se apertando no meu cabelo.
Sem cerimônia, Daniel se vestiu, me deu um beijo rápido mas intenso na boca e soltou:
—Você sempre me surpreende, Renato.
Antes de sair, Daniel me segurou pelo braço com uma firmeza que me fez parar no meio do caminho. O olhar dele, sempre tão confiante, agora tinha um tom sério — quase vulnerável.
— Renato... dessa vez, eu tô pedindo mesmo. Não conta nada pra ninguém. Deixa isso aqui só entre a gente.
Fiquei um segundo em silêncio, sentindo o peso daquela frase. Não era só um pedido, era quase um confio em você disfarçado.
— Pode ficar tranquilo. Isso ficará entre a gente. — respondi, batendo levemente no peito dele com o punho fechado.
Daniel segurou meu punho por um segundo, como se quisesse ter certeza de que eu tava falando sério. Depois, aquela risada marota voltou, e ele soltou:
— Tá bom. Mas se eu descobrir que vazou, a próxima foda você que vai ter que explicar pros outros por que tá mancando."*
Dei uma gargalhada, mas ele já estava entrando no carro. Antes de fechar a porta, ainda me jogou um último olhar.
Fiquei parado no portão até o carro desaparecer na curva.
Dormi totalmente leve, ainda lembrando dos gemidos abafados e os barulho da cama da noite. Aquele cara era tranquilo no dia a dia, mas na cama? Um macho daqueles que não deixam a peteca cair — e como eu tinha aproveitado.
O despertador do celular cortou meu sono profundo. Hora de levantar e encarar o grande dia: a mudança para a casa dos meus pais. Estiquei os braços, sentindo aquele misto de cansaço gostoso e satisfação, antes de pular da cama.
Não demorou muito para meu irmão Ricardo aparecer — e, para minha surpresa, meu pai veio junto, pronto para ajudar. Meu pai me olhou com aquela expressão meio séria, meio brincalhona:
— Animado, filho?
— Lógico! Sempre estou — respondi, sorrindo.
Ricardo, sempre o enxerido, completou:
— Bom, pelo menos sua cara tá boa. Dormiu bem, hein?
Mal sabia ele o porquê.
Foram precisas três viagens de carro para levar tudo — e olha que no dia anterior meu irmão já tinha levado os eletrodomésticos. O mais trabalhoso foi organizar as coisas nos seus lugares, mas minha mãe e minha cunhada entraram no ritmo, ajudando a guardar tudo.
Meu quarto, agora repaginado, não era mais o mesmo de quando eu morava ali anos atrás. Assim como eu, ele tinha mudado. Mais organizado, mais meu. E, por incrível que parecesse, era bom estar de volta. Aquele sentimento de recomeço, sabe?
Algumas Semanas Depois...
Eu, Letícia e minha mãe fomos até uma conceituada loja de noivas no centro da cidade. O vestido que ela escolheu era um clássico estilo princesa, mas com um toque moderno: decote delicado e costa pelada, equilibrando perfeitamente o romântico com o sexy.
— Você vai arrasar, Lê, falei, enquanto ela girava na frente do espelho, radiante.
Aproveitei que estávamos ali e resolvi experimentar alguns ternos, já que seria padrinho. Entre um modelo e outro, me vi parado diante do espelho, analisando meu reflexo no terno azul-marinho. Foi então que o pensamento invadiu minha mente como um soco no estômago:
Será que Anderson vai me achar bonito nessa roupa?
O choque de realidade veio em seguida. No casamento do meu irmão, eu veria Anderson pela primeira vez desde o nosso término. E não só isso: seria a primeira vez que eu, Manuel e ele estaríamos no mesmo local, sob o mesmo teto, desde que tudo desmoronou.
Minha mãe deve ter percebido minha expressão perdida.
— Tudo bem, filho?
— Tudo ótimo, menti, ajustando o colarinho no espelho.
Mas a verdade era que, por trás daquele terno impecável e do sorriso perfeito, meu coração batia acelerado. O casamento seria um recomeço para Ricardo e Letícia... mas e para mim?
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Comentários (14)
Fã do Daniel: Amei esse capítulo e ansioso para os próximos!! Concordo que o Renato tem que arrumar alguém que lhe dê estabilidade e segurança! Achei curioso o pedido do daniel e sinto que logo saberemos mais da história dele, animado por esse desenrolar, apoio o renato com ele ou com o amigo do ricardo que parece curtir mto ele! Ansioso para o próximo e acompanho como se fosse livro, que não demore pra vir os próximos!!! Obs: Virei hater do manuel, desejo tudo de ruim pra ele!!!
Responder↴ • uid:1e3wq9q0hyk3Edson: Concordo com o Marcio. O Renato precisa de alguém que lhe dê segurança na relação, o que definitivamente não se vê nem no Anderson nem no Daniel. O tal amigo de seu irmão Ricardo parecia ser um cara promissor, mas não deu as caras nesse episódio.
Responder↴ • uid:1ecxxawct80bMatheus Interior: Pena que demora muito para escrever...
Responder↴ • uid:1dus4gfkccfcMarcio: Manuel sendo o que sempre foi. Vale lembrar que ele entrou nessa relação fazendo chantagem. Chega de Anderson, Daniel, Renato tem que ficar com uma pessoa nova, tipo o amigo de trabalho do irmão, o morenão gostoso e engraçado. Precisa viver coisas novas. Vamos ver como vai se desenrolar as coisas. A parte de sexo eu nem leio mais, devo admitir, tô mais interessado nos acontecimentos pessoais. Espero que Renato dê a volta por cima e viva o novo.
Responder↴ • uid:81rj3yhhraLP: Não faz sentido nenhum o Manuel continuar sendo convidado para o casamento depois do que ele fez pro Renato. O autor só deixou ele lá pra ter um reencontro dos três no próximo capítulo. Achei meio forçado. Seria mais sensato o ricardo desconvidar o Manuel e, caso o autor queira promover esse reencontro, botar o manuel pra aparecer lá de surpresa. Meio que causando um constrangimento geral.
Responder↴ • uid:4b06ui0mzraEdson: Excelente episódio! O Manuel mostrou sua real face de mau caráter que é. Já Anderson e sua eterna ambiguidade: Num momento diz: "- Enfim, Renato…" — adiantou-se. "— Eu estarei aqui. Você pode contar comigo. Agora como primo. Somente". Noutro momento: "- Te amo." Renato está certo em curtir. Privou a si mesmo de sexo durante quase todo um episódio, e olha que o episódio se refere a meses por vezes rsrs. Agora ligou o fôda-se, ou melhor, o fôda-me rsrs, e não mais se deixou levar por essas comunicações ambíguas do Anderson, que não lhe dá segurança do que realmente deseja para ambos, se é que ele mesmo tem tal noção. Enfim, o trisal foi pro saco, Manuel é carta fora do baralho, e Renato e Anderson numa eterna corda bamba de uma relação que nunca se estabiliza, nem mesmo à distância rsrs.
Responder↴ • uid:1eo9iyojk7o6Semaj: Quando achei que seria o ultimo capítulo se abriu vários outros. A história esta andado e é fabuloso ler cada paragrafo.
Responder↴ • uid:1eprub6f3c6ypedroslr: Já to shipando Renato e Daniel
Responder↴ • uid:g62bi3m9iDre: De filho da puta a mocinho, virei fã do Ricardo, mas confesso que Daniel é puro de um gostoso e merece mais destaque na vida de Renato. Mas ansioso para encontro de Anderson e Renato ea frustração do Manoel.
Responder↴ • uid:81rdxfti8lPicalândia: Eu fiquei triste com a verdeira face do Manuel,ao se monstrar uma pessoa ruim,e em relação ao sexo entre Renato e Daniel, confesso que torço que os dois tenha algo a mais,em que Daniel se vê apaixonado por Renato e vai fazer de tudo pra viver um relacionamento com ele kkkkk
Responder↴ • uid:1csadb06gtixAntony: Parabéns por este capítulo, incrível a força e coragem do Renato, até que em fim a ficha dele caiu. Manuel tirando a máscara até mesmo pro próprio pai,espero que Pedro seja firme com ele. Seria bem legal se o Renato e o Anderson votassem novamente ,mas o problema é que eles moram distantes e como o próprio Renato diz a relacionamento a distância não segue. Mais uma vez parabéns, texto muito bem escrito .
Responder↴ • uid:1eg1yu9pmh0aBsb novinho: Perfeito
Responder↴ • uid:1e4fbrt6wlh9Hoy: Cara, esse e meu conto favorito, não demora muito pra postar kkkk quero logo ver o encontro deles
Responder↴ • uid:1esz5kcuvg4xCaiçara: Não tem como descrever como é maravilhoso, sempre fico ansioso para o próximo capítulo. Agora quero que o Manuel queime no inferno.
Responder↴ • uid:fi07cbmm4