#Gay

Impedimento

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R. W. Ladwig

O maior jogador do mundo luta para manter sua sexualidade em segredo, mas acaba se envolvendo emocional e fisicamente com o seu técnico.

Prefácio

Nos campos de futebol e nos vestiários o suor se mistura com a essência do esforço atlético. O universo sagrado do esporte muitas vezes é regido por uma fraternidade que é, pode-se dizer, imaculada. Sob um manto, homens de diversas origens e destrezas compartilham um vínculo indelével moldado pela paixão à bola.
Contudo, além dos lances habilidosos, existe um espaço secreto e quase inacessível no qual histórias menos proeminentes se entrelaçam. Nele não se criam crônicas de glórias efêmeras ou de derrotas amargas, mas narrativas profundas sobre desejos reprimidos e limites submersos. Muitos jogadores que exibem uma virilidade quase animalesca guardam consigo um temor sutil, uma inquietação silenciosa: a apreensão de serem verdadeiros em um cenário que muitas vezes parece intolerante às nuances da sexualidade.
Neste palco competitivo, no qual a masculinidade é celebrada em sua forma mais tradicional, as entrelinhas murmuram verdades incômodas. O futebol, apesar de sua grandiosidade e magnetismo cultural, ainda se mostra um terreno árido para aqueles que ousam desafiar as expectativas convencionais. Para os homens que se encontram em um compasso diferente, cujos corações pulsam em sintonia com o amor por outros homens, o gramado se torna um tabuleiro complexo de emoções e escolhas cautelosas.
Em meio às sombras das meias-verdades e dos olhares furtivos, o amor se torna uma semente delicada, capaz de germinar nos espaços mais inesperados. Assim como a mais improvável flor que desafia a aridez de um deserto, a autenticidade floresce em terrenos aparentemente hostis.

Prólogo

Ao longo de sua história, o “Coqueiros Futebol Clube”, também conhecido por “CFC”, ou apenas “Coqueiros”, experimentou dias áureos, glórias enraizando-se quando dois mundiais, vários nacionais e títulos de proporções diversas cimentaram a tradição do clube. No entanto, eram feitos antigos e, no mundo do futebol, viver à sombra do passado é um destino quase efêmero. Gradualmente, ao longo dos anos, a agremiação transformou-se em um celeiro infecundo, por vezes revelando novas estrelas ao cosmos futebolístico que logo partiam em busca de carreiras resplandecentes além dos limites do time.
Todavia, uma reviravolta monumental alterou o curso dessa equipe quando um filho pródigo retornou ao seio da sua casa. Não era um mero jogador; tratava-se do campeão supremo, um colosso entre os astros do esporte. Descoberto e lapidado naquele estádio e consagrado fora dele, voltou às raízes, ao time que pulsava em seu coração desde o início de sua jornada. Seu retorno não era apenas uma volta às origens, mas uma missão de reacender as brasas da glória que em outros tempos iluminaram o caminho do clube.
Assim, entre as quatro linhas do estádio que o viu florescer, o prodígio do CFC, detentor de inúmeros títulos e honrarias, decidiu encerrar sua carreira no time do seu coração. Sua escolha não era apenas um ato de encerramento; era um épico retorno, uma busca pelo renascimento de uma era dourada. Nas suas jogadas, a esperança ressurgiu, e as lembranças de triunfos antigos tornaram-se vívidas. O estádio tornou-se o epicentro de uma ressurreição, onde o passado se entrelaçava com o presente, e o amor pelo time se manifestava em gestos grandiosos de lealdade. O retorno do filho pródigo não foi apenas um capítulo no livro do time; mas a promessa de um novo amanhecer, no qual as páginas do presente eram escritas com tinta dourada.
O que o maior jogador do mundo não previa era que o time o lançaria diante de desafios mais complexos e impactantes do que meras partidas de futebol, e que mudariam o rumo da sua vida para sempre.

Capítulo 1
O filho pródigo

Ao fim do jogo, a noite desceu sobre o campo como uma cortina de veludo, mas o estádio ainda pulsava com a energia exultante da vitória. Marco se destacava entre os demais jogadores, seus passos reverberando na grama verde e brilhante. Vestindo o uniforme preto e azul do Coqueiros Futebol Clube, Marco era mais do que um jogador de futebol; ele se tornara um símbolo sexual desejado por pessoas em todo o mundo.
O preto e azul, em um corte de uniforme meticulosamente desenhado para acentuar cada contorno de seu corpo escultural, conferia a Marco uma aura de virilidade indiscutível. As duas cores, em harmonia, construíam uma imagem na mente de homens e mulheres, evocando uma sensação de mistério e desejo.
O azul profundo do uniforme conectava-se de maneira hipnotizante com os olhos penetrantes de Marco, criando uma sinergia irresistível.
O calção preto, cuidadosamente ajustado, favorecia suas pernas robustas, destacando cada músculo com precisão. Além de conferir uma estética impecável, a escolha do preto gerava uma sensação de mistério, adicionando um toque de intriga ao seu visual. Era como se Marco carregasse consigo não apenas a paixão pelo esporte, mas também um enigma a ser desvendado.
Seu sorriso, agora acentuado pelas cores envolventes do uniforme, exibia dentes brancos perfeitos em contraste com a pele bronzeada. Cada movimento de Marco, cada gesto calculado, criava um contexto visual que transcendia as fronteiras do esporte. A cada jogo, e em especial a cada vitória, o estádio reafirmava o que o mundo já dizia: Marco era um ícone de sedução.
À medida que avançava pelo campo, o uniforme azul e preto não era apenas uma vestimenta esportiva; era um emblema de desejo, um convite para explorar as promessas sensuais que pairavam no ar. Marco, agora mais do que nunca, representava a fusão perfeita entre força atlética e magnetismo sedutor, deixando uma forte marca na imaginação daqueles que o contemplavam. Seus olhos, ainda faiscando pela intensidade do jogo, encontraram os refletores que arquitetavam uma auréola de glória ao redor de sua figura.
Os jornalistas se aproximaram como mariposas encantadas pela luz da lua. A melodia das perguntas pairava no ar, e Marco, com sua eloquência cuidadosamente elaborada, dançava entre as respostas, mantendo a audiência sob seu feitiço.
— Marco, uma atuação excepcional hoje à noite. Como você se sente ao liderar o time do seu coração para mais uma vitória espetacular? — perguntou um jornalista, seu microfone, uma extensão da curiosidade.
— Sempre gratificante contribuir para o sucesso da equipe. O Coqueiros é minha família, e essa vitória é dedicada a cada membro dela — respondeu Marco, com um sorriso radiante.
Os jornalistas tentaram outras perguntas, principalmente a respeito de quantas temporadas o jogador pretendia jogar no time antes de se aposentar, mas Marco fugiu sutilmente, sorrindo e acenando à torcida, não antes de jogar um jovem colega de time como alvo das próximas perguntas.
Nos bastidores daquele espetáculo, Marco era um poema inacabado, uma narrativa desenrolada em quartos escuros e encontros clandestinos. Após o tumulto, ele se retirou para o vestiário, onde a atmosfera era carregada de uma eletricidade sutil. Sob as luzes tênues, ele começou a despir-se não apenas das camadas de uniforme, mas das amarras que o prendiam a uma versão estereotipada de si mesmo.
Marco sentiu uma fisgada no músculo da perna e deitou-se em um banco, apenas de cueca, as sombras contornando sua figura esculpida. Seu olhar se perdeu no teto enquanto memórias de encontros secretos floresciam em sua mente como pétalas proibidas. Cada toque furtivo e cada suspiro abafado traçavam uma linha de sensualidade e mistério em suas lembranças.
Nos últimos dias, Marco se perdia constantemente em seus pensamentos. Em casa, onde tudo começou, ele experimentava uma sensação de exposição inédita. Entregar-se a outro homem, ali no Rio de Janeiro, onde sua presença seria ainda mais notável que na Europa, implicava um grande risco, cobrando o preço de quase sempre reprimir seus desejos e impulsos.
— Tá sentindo a perna, Marco? — perguntou uma voz masculina do corredor. Era o fisioterapeuta do time que se movia com a destreza de quem conhecia cada músculo e articulação, como se fossem notas em uma partitura. Seus olhos, sempre atentos, varriam os corpos dos jogadores em busca de sinais de tensão e fadiga.
— Pior que tô, mas nada sério. Apenas precisando de um momento pra relaxar após a partida. Já não tenho a mesma idade de antes. Nem a mesma disposição — respondeu Marco, escondendo cuidadosamente os indícios de outra batalha interna.
Os dedos do fisioterapeuta, agora como artistas de uma pintura invisível, massageavam a pele do jogador, relembrando os ecos de paixões clandestinas. Marco se tornava o protagonista de sua própria ópera proibida, uma narrativa que se desenrolava em compassos de êxtase.
— Não tem a mesma idade, mas ainda assim colocou todos em campo no bolso. Não se subestime, Marco — disse Renato, notando a tensão do jogador nas linhas do rosto.
Ao olhar para um espelho, Marco vislumbrou seus próprios olhos, poços profundos de desejos não revelados. A dualidade entre a imagem pública e a intimidade velada, como uma dança entre luz e sombra, prometia uma história que ele temia enfrentar completamente. Marco se via imerso em uma contenda interna, na qual a força de seus desejos, despertados a cada roçar da pele, rivalizava com sua determinação em manter-se inabalável.
Marco se via imerso em uma contenda interna, na qual a força de seus desejos, despertados a cada roçar da pele, rivalizava com sua decisão em manter-se inabalável e distante das tentações, que sempre se colocavam em seu caminho a um toque de distância.
No plano mental, seu objetivo era claro e focado, mas no campo físico, as barreiras se erigiam frágeis, à beira de desmoronar sob o peso do anseio. O embate travado dentro de si era uma dança complexa entre o querer e o negar, entre o impulso incontrolável e a vontade de manter-se firme. Marco reconhecia que, naquele ritmo e intensidade, talvez não mais pudesse sustentar essa luta interna, e o desfecho se aproximava com a inevitável iminência de uma ereção.
— Não me subestimo, mas tenho conhecido meus limites. Vim para dar o meu melhor, mas todos sabemos que na minha idade, quase todos os jogadores já estão curtindo a aposentadoria. — Marco esboçou um sorriso convincente, escondendo seus verdadeiros pensamentos e se levantou. Simultaneamente, o jovem que foi usado como isca para os jornalistas adentrou ao vestiário.
Davi, o mais novo integrante do time, ingressou no Coqueiros Futebol Clube com a determinação típica de quem estava buscando solidificar sua carreira no mundo do futebol. Sua contratação, inicialmente apenas mais um passo em direção a oportunidades melhores, tomou uma nova dimensão com o retorno súbito de Marco à equipe. O cenário mudou drasticamente, colocando Davi em um dos times mais promissores do país e atraindo os olhares da mídia para suas habilidades em campo.
— Vai fugir, covarde? Não faça mais isso — acusou Davi, diretamente a Marco, que inicialmente respondeu apenas com um sorriso.
Ao contrário de Marco, Davi não ostentava um porte atlético imponente. Apesar de possuir um charme inegável e traços faciais marcantes, sua constituição era mais esguia e delicada. Essas características, porém, revelaram-se ideais para sua posição de meio-campo, permitindo-lhe mover-se com agilidade e destreza nas partidas.
Dentro e fora das quatro linhas, ele mantinha uma sintonia notável com Marco, construindo uma parceria promissora que transcendia os limites do jogo.
— Fugir de quê? — perguntou Marco. — Estou te fazendo um favor. Você precisa e quer essa atenção. Qualquer um lá fora mataria para conseguir essa exposição.
— Quero glória pelos meus méritos. Não apenas pegar carona nos seus.
— Você foi responsável pelos passes dos quatro gols. Todos eles foram méritos seus também. Essa é sua função, não é?
— Sim, mas eles não ligam pra isso.
— Aí já não é problema meu. E não se engane, não são os jornalistas que você deve impressionar. E eu já te disse isso.
— Não enche, coroa. As coisas hoje não são como na sua época.
— Futebol é futebol, mas não vou ficar aqui discutindo com um pirralho que acabou de sair das fraldas. Até mais.
— Eu saindo das fraldas e você logo voltando. Vai lá dar seus perdidos.
As últimas palavras de Davi pegaram Marco de surpresa. Às vezes, ele tinha a impressão de que o garoto podia ler seus pensamentos. Sem transparecer o incômodo, deixou o vestiário.
Sob a luz da lua que espreitava pela janela do corredor, Marco sabia que sua história era um enigma, uma peça intrincada de um quebra-cabeça de desejos entrelaçados e tinha medo que isso fosse evidente.
Enquanto o estádio sussurrava os últimos ecos da celebração, seu coração, como um tambor distante, anunciava uma melodia inexplorada, uma verdade que aguardava pacientemente para ser desvendada.

A noite, já envolta em segredos, chamava Marco para um destino previsível. Enquanto a cidade pulsava lá fora, ele se encontrava à beira de um precipício que o atraiu para um mergulho nas águas proibidas de sua própria verdade.
Guiado por impulsos que desafiavam suas regras, Marco encontrou-se procurando por um garoto de programa. Sob o manto do anonimato, aventurou-se por ruas desconhecidas, cada passo uma escolha consciente de se perder na escuridão e, assim, acabou em um prostíbulo de rapazes, famoso pela discrição de seus serviços.
O encontro com um garoto de programa foi um enlace de desejos reprimidos e promessas silenciadas. O jovem selecionado irradiava uma beleza vibrante, sua presença pulsava com uma energia sexual latente. Dotado de uma virilidade que transcendia sua idade, ele personificava o vigor e a vitalidade da juventude. Seus traços atraentes e expressão cativante eram complementados por uma figura esculpida, realçada por nádegas generosas que acrescentava um toque de sensualidade à sua aparência. Jovem e provocante, o garoto de programa era uma mistura irresistível de charme e sedução, pronto para envolver aqueles que cruzassem seu caminho.
— Tá pronto para deixar o mundo lá fora por um tempo? — perguntou o garoto de programa, seu olhar penetrante sugerindo uma compreensão além das palavras.
— É isso mesmo que eu quero — Marco respondeu, sua voz tingida de uma mistura de ansiedade e desejo.
A noite se desdobrou como um segredo compartilhado entre dois estranhos, cada momento uma fuga temporária das amarras que o prendiam ao papel de líder incólume.
— Tá a fim de algo específico? O que procura? — perguntou o garoto, cujas palavras eram um convite à liberação de desejos há muito tempo reprimidos.
Sentindo a gravidade da situação, Marco respondeu com uma sinceridade hesitante.
— Eu quero esquecer o mundo lá fora. Mesmo que seja só por um tempo.
O garoto de programa, com um sorriso sutil, iniciou uma dança de toques e olhares que sobrepujaram as fronteiras da conversa verbal. Cada gesto era uma nota em uma sinfonia de intimidade, uma promessa silenciosa de que naquele espaço confidencial, Marco poderia ser verdadeiramente livre.
No auge do desejo, o jogador rendeu-se à luxúria que fervilhava no quarto escuro, onde sombras dançavam ao compasso de paixões ardentes. O garoto, entregue aos toques que recebia, emanava um magnetismo sensual que só alimentava o fogo daquele encontro proibido, enquanto ambos despiam algumas peças de roupa.
— Você gosta do que vê, não gosta? — sussurrou Marco, agora só de cueca, sua voz grave carregada de desejo, enquanto suas mãos traçavam caminhos pecaminosos pelo corpo do parceiro.
O garoto, incapaz de resistir ao magnetismo do seu cliente, respondeu com um gemido rouco e afirmativo, seus olhos revelando uma mistura de fascínio e entrega. Cada carícia que recebia era uma promessa de prazer, um convite para explorar territórios desconhecidos.
— Quer me sentir? Hoje sou seu — Marco sussurrou, seus lábios roçando a pele sensível do garoto, deixando um rastro de eletricidade pelo caminho.
O jovem, perdido no emaranhado de sensações, respondeu com um suspiro carregado de desejo. Era como se as palavras de Marco acendessem chamas que queimavam lentamente, consumindo qualquer reserva que pudesse existir entre eles.
As partes íntimas do jogador, protegidas pela cueca branca, passavam por toda pele macia das nádegas do garoto, que se movimentava pouco, como se fosse uma presa abatida, mas ao mesmo tempo, respirava ofegante, deixando claro o prazer que sentia naquele momento.
Com uma destreza quase teatral, Marco removeu sua cueca, expondo sua virilidade que pulsava com intensidade. O quarto, imerso na penumbra, era palco para uma dança íntima, o jogo de olhares e toques criava uma tensão erótica fulminante.
— Se você tá achando que essa noite vai ser igual a que você teve com outros caras, tá enganado — informou Marco, seus olhos faiscando com uma mistura de luxúria e desafio.
O garoto, cúmplice na criação dessa experiência única, concordou com um sorriso travesso. Cada palavra e gesto eram como notas em uma sinfonia sensual, construindo um clímax que se aproximava com cada carícia trocada.
Marco soltou um pigarreio forte e cuspiu entre as nádegas do garoto. Sem aviso prévio, penetrou seu pênis de forma agressiva e o garoto soltou um abafado e quente gemido, fazendo o outro rir e gemer em resposta.
— Me mostra o que você sabe fazer — provocou Marco, seus dedos habilidosos explorando terrenos desconhecidos, estimulando respostas arrebatadoras do garoto.
A resposta veio na forma de mais gemidos e sussurros, um diálogo íntimo que se desenrolava entre suspiros entrecortados. As barreiras da inibição eram quebradas, deixando espaço para uma entrega desinibida à paixão que os consumia.
— Tá gostando? Quer mais? — perguntou Marco, seus olhos famintos fixados no garoto, antes de se lançar na ação, intensificando a experiência em um turbilhão de prazer e êxtase.
No calor do momento, palavras e gemidos se misturaram ao ritmo frenético da batida entre os dois corpos nus, criando uma atmosfera única e intensa. O quarto, agora um santuário de sedução, era testemunha de uma dança erótica na qual as fronteiras entre desejo e realidade desapareciam em meio à sinfonia de prazer compartilhado.

Ao amanhecer, quando os contornos da cidade se revelavam, Marco, agora saciado, mas envolto em um véu de confusão, fez questão de estabelecer uma única regra: sigilo absoluto.
— Isso não sai daqui, entendeu? Sei que você me conhece.
— Todo mundo nesse país te conhece. Fica tranquilo — respondeu o garoto, cujos olhos transmitiam uma promessa mútua de silêncio.
Marco sentiu o peso da dualidade aumentar em seus ombros. A realidade do que fizera começava a se desdobrar diante dele, como as páginas de um livro revelando capítulos indesejados. O que ele não sabia é que, desta vez, seu medo transbordaria para além dos conflitos internos e temores subjetivos. Aquilo que sempre parecera um exagero, nunca culminando em qualquer forma de exposição, poderia agora se tornar uma realidade perigosa, constituindo a encarnação do seu temor mais profundo.
O quarto, ainda impregnado com a energia da noite, transformou-se em um palco de despedidas. Marco, vestindo as sombras de sua própria dualidade, observou enquanto o garoto de programa se preparava para partir. A atmosfera, antes carregada de segredos e desejos, agora se desfazia como um sonho efêmero.
— Tô indo nessa. Você sabe onde pagar. — O garoto de programa quebrou o silêncio, suas palavras carregadas de um pragmatismo que contrastava com a intensidade da noite anterior.
Marco, ciente de que cada segundo que passava aumentava o risco de sua identidade ser revelada, concordou com um aceno silencioso. Ele assistiu enquanto o garoto de programa se afastava, deixando para trás um rastro de encontros proibidos.
No entanto, no limiar entre a despedida e o anonimato, tudo tomou um rumo inesperado. Ao abrir a porta do quarto, o olhar de Marco encontrou o de Paulo, seu técnico, em uma colisão de olhares que transcendeu a privacidade confinada daquele momento.
Paulo, o experiente técnico do CFC, era um homem de presença imponente. Seu cabelo grisalho e bigode conferiam-lhe uma aura de sabedoria, enquanto seu físico robusto e musculoso atestava sua dedicação ao bem-estar físico. Sempre vestido de maneira marcante, suas roupas acentuavam não apenas sua virilidade, mas também sua determinação e expertise. Paulo era a personificação da força combinada com a experiência, um líder cuja presença deixava uma marca forte no campo e fora dele.
Os olhos de Paulo capturaram a intensidade da situação, encarou Marco com uma expressão que misturava surpresa e desconfiança. O instante se estirou como um elástico tenso, ambos os homens presos em um jogo silencioso de revelações não ditas.
O garoto de programa, percebendo a mudança no ambiente, escolheu sair discretamente, deixando os dois homens à mercê do desconhecido que se desdobrava entre eles.
Marco, sentindo o peso da exposição, viu o medo dançar nos recessos dos olhos de Paulo. Era um pavor compartilhado, mas enquanto o técnico mantinha sua compostura profissional, calma e tranquila, Marco se sentia nu diante do olhar perspicaz.
O silêncio se estendeu, opressivo como uma sentença não pronunciada. Marco, temendo as consequências de sua verdade descoberta, recuou um passo, pronto para escapar da encruzilhada de olhares que ameaçava desvendar seu mundo secreto.
— Marco… — Paulo começou a falar, mas as palavras pareciam tropeçar em sua boca.
O jogador, sem esperar pelo desenrolar da conversa, abandonou o quarto com pressa, deixando para trás a tensão não resolvida. O corredor do prostíbulo se estendia à sua frente como um caminho incerto, refletindo a incerteza que agora permeava sua própria jornada. O maior temor de Marco materializava-se diante dele. Ele fora flagrado em uma situação que expunha sua sexualidade e sua verdadeira essência, e para piorar, por alguém que o conhecia de perto e frequentava o único lugar no mundo onde ele jamais se permitiria ser exposto daquela forma: os campos de futebol.
Enquanto Marco se afastava, ele se convencia de que aquela noite tinha deixado marcas permanentes em sua vida. A dualidade que o acompanhava não poderia mais ser contida nas sombras; ela se manifestara naqueles olhares trocados, palavras não ditas e medos que agora se materializavam.
No vazio do corredor, Paulo permaneceu, absorvendo a complexidade do momento. A descoberta da verdade estava diante dele, e ele se via confrontado não apenas com a realidade do jogador que liderava, mas com a complexidade de desejos humanos que ultrapassavam as linhas estabelecidas.
Assim, no silêncio que se seguiu à saída de Marco, o lugar se tornou o cenário de uma encruzilhada de destinos, onde as escolhas de uma noite transcendiam as fronteiras de uma relação profissional e revelavam a vulnerabilidade compartilhada por dois homens, cada um lutando para compreender as verdades inexploradas que agora flutuavam no ar.

Marco recusou-se a comparecer ao treino e ficou imerso em pensamentos conflitantes durante todo o dia. Sentia-se apavorado. Naquela noite, sua residência transformou-se em um labirinto de reflexões e autopunições resultantes do encontro proibido com o garoto de programa e o flagrante de Paulo.
Sob a penumbra do quarto, Marco se via nu diante de um espelho, seu reflexo uma imagem distorcida pela culpa e pelo conflito interno. A atmosfera pesada se assemelhava à tempestade que rugia dentro de si. Caminhava de um lado para o outro, como se buscasse uma solução que, por ora, lhe escapava. As paredes pareciam sufocantes, cada canto tinha se transformado em um recordatório constante de suas escolhas.
— Que merda, Marco. Que merda! Você não aprende? — sussurrou para si mesmo, as palavras pairando no ar como uma confissão a uma entidade invisível.
Encarou-se no espelho, a visão de seus próprios olhos o acusava silenciosamente. A noção de pureza, uma ilusão que ele mesmo cultivara, agora se esvaía entre seus dedos, substituída pela mancha da indulgência.
Seu corpo, definido e forte, refletia o resultado de anos dedicados ao esporte. Músculos esculpidos delineavam sua figura, uma expressão física do poder que ele conquistara nos campos de futebol. A luz suave destacava as curvas viris, cada contorno evocando uma sensação de desejo e magnetismo.
Ao se concentrar nas nádegas firmes, Marco não pôde evitar perceber como a luz destacava cada curva, como se fosse uma escultura sensual. Seu pênis, longo e robusto, mesmo que em repouso, também chamava atenção no reflexo, algo que Marco admirava em si mesmo, mas também abominava por lembrá-lo daquilo que ele lutava para esquecer. O espelho refletia não apenas a imagem, mas uma aura de desejo e culpa que pairava no ar.
— A culpa é toda sua — resmungou consigo mesmo, determinado a encontrar uma forma de expiar seus pecados.
As autopenitências físicas começaram lentamente. Marco se ajoelhou diante do espelho, como se estivesse diante de um altar da sua própria redenção. Cada soco desferido em seu próprio corpo era um eco físico da dor emocional que o consumia.
Enquanto observava sua própria imagem, não podia ignorar o calor que emanava do seu corpo. Suas mãos, como buscadoras de redenção, exploraram seu corpo com uma intensidade que contrastava com a serenidade do ambiente.
O quarto, iluminado apenas pela luz tênue do abajur, testemunhava sua batalha interna. Cada gesto, cada expressão de agonia, era uma dança entre o desejo reprimido e a necessidade de punição. O tapete sob seus joelhos parecia absorver não apenas suas lágrimas, mas a essência mesma da sua luta.
Frequentemente, Marco se via envolto nesse dilema interno. Era um confronto consigo mesmo, como se pudesse punir a parte de si que se entregava a outros homens, buscando alívio para a culpa que o assombrava. As dores físicas, intensas como eram, eventualmente desapareciam, levando consigo as aflições emocionais. Era a maneira que Marco encontrava para escapar do sentimento de culpa, uma estratégia para lidar com um aspecto seu que sempre temera.
Enquanto a noite se desenrolava, Marco encontrava-se em um estado de exaustão física e emocional. A cama, antes testemunha de momentos íntimos, agora era um refúgio para um sono tumultuado, no qual sonhos e pesadelos dançavam juntos. Seu corpo pulsava com dor em cada parte, e o cansaço o derrubava em um sono profundo, porém, nada tranquilo.
Ao amanhecer, a casa guardava os vestígios de uma noite de conflitos. O espelho, que outrora refletia uma imagem de confiança e autocontrole, agora testemunhava a cicatriz de uma batalha travada contra seus próprios demônios. E assim, Marco emergia de sua casa, mas a redenção que procurava ainda era um horizonte distante, perdido na neblina de sua própria complexidade. Pela primeira vez, as dores internas não se dissiparam com as dores físicas. Tinha sido exposto a alguém de quem não poderia fugir, e agora, precisava encarar as consequências.

No Centro de Treinamento, o vestiário ressoava com o alvoroço dos jogadores, uma sinfonia de risadas e brincadeiras que camuflavam as tensões subjacentes. Marco, imerso na cacofonia, tentava manter o disfarce que construíra meticulosamente ao longo dos anos.
— Marco, meu parça. Aquele gol de ontem foi um espetáculo! — exclamou um jogador, dando um tapa amigável nas costas do colega.
— Com certeza. Não tem pra ninguém. Marco é o cara!— disse outro, concordando enquanto todos riam.
Em meio a tantas falas, algumas piadas homofóbicas ressoavam no ar, e Marco, apesar de seu desconforto, sorria e se juntava ao coro. Ele conhecia o roteiro, o papel que esperavam que ele desempenhasse para manter as aparências.
— Ei, Marco, quando você vai arrumar uma namorada? Estamos esperando o anúncio! — provocou um jogador, tirando risadas entre os jogadores.
— Se está perguntando isso por conta da sua irmã, fala pra ela tirar o cavalinho da chuva. Foi só uma noitada mesmo, inclusive, ela é bem flexível — Marco respondeu, entrando na brincadeira.
Todos os jogadores caíram em gargalhadas. Marco cumpria bem com o esperado de um jogador de futebol como ele. Por fora, sempre sorrindo, mas por dentro, ele preferiria estar em qualquer outro lugar, falando sobre qualquer outra coisa.
Davi aproximou-se, sentou-se ao lado de Marco e seguiu vestindo seus meiões e chuteiras.
— Sabe que você não precisa fazer parte disso, né? — perguntou Davi.
Marco foi tomado por um misto de admiração e inveja ao observar a postura confiante e despretensiosa de Davi. Enquanto o jovem colega parecia fluir tranquilamente entre os jogadores, ele se sentia constantemente pressionado a esconder quem era, a ocultar seus desejos mais íntimos sob camadas de aparências e máscaras sociais. Davi, por outro lado, parecia imune às expectativas externas, mantendo-se fiel a si mesmo ainda que em um ambiente repleto de julgamentos e estereótipos. Davi tinha zero pretensão em se assumir, mas isso não era um problema, não era uma questão. Essa capacidade de autenticidade, essa habilidade de permanecer verdadeiro consigo mesmo, era algo que Marco secretamente aspirava, mas que parecia cada vez mais distante de sua realidade. Ambos compartilhavam o fardo de não serem assumidos e, embora admirasse a despreocupação de Davi, Marco também lamentava a própria incapacidade de seguir o mesmo caminho.
— Fica na sua, Davi — respondeu, indiferente.
— Sério, cara. Esses idiotas parecem uns babuínos. A metade deles tá aqui por sorte, mal jogam futebol. Eles te devem respeito. Pra mim tanto faz, mas sei que pra você é um problemão. Não se esqueça quem você é. Não existe um garoto que goste de futebol que não sonhe em ser você.
— Valeu, Davi. Tá tudo tranquilo.
A atmosfera estava carregada com uma masculinidade exagerada, uma competição não só nos campos, mas também na manutenção de estereótipos. Marco estava preso em seu próprio desempenho teatral, uma atuação que escondia os matizes de sua verdadeira identidade. Davi, o jovem jogador em ascensão, irradiava uma aura de indiferença não apenas em relação à sua sexualidade, mas também em relação a uma miríade de outros assuntos.
Enquanto os jogadores continuavam com as piadas, Paulo, o técnico, entrou no vestiário. A dinâmica mudou sutilmente, a energia focada agora na figura de autoridade.
— Boa partida essa semana, rapazes! Marco, seu último gol foi incrível. Continue assim, mas evite faltas desnecessárias ao treino! — cobrou Paulo, ganhando acenos e cumprimentos dos jogadores.
A tensão aumentou quando Paulo se aproximou de Marco, como se detectasse algo além da fachada sorridente.
— Precisamos conversar, Marco. Depois do treino, ok?
O vestiário, impregnado com a mistura de suor e camaradagem, tornou-se o palco de suspense e temor para Marco. Enquanto os jogadores trocavam piadas e risadas ainda mais homofóbicas, sua atenção foi abruptamente desviada para o técnico.
Com sua presença magnética, o treinador cortava o ar como um raio de luz penetrando a névoa da inconsciência. Foi a primeira vez que Marco permitiu que seus olhos vissem além da fachada que construíra. Paulo, não apenas como figura de autoridade, mas como homem, tornou-se um quadro de atratividade que o atormentado jogador nunca ousara reconhecer.
Por um instante fugaz, ele se perdeu na imaginação, como se o tempo tivesse congelado em uma pintura sensual. Via o técnico, nu e despido das barreiras sociais, dançando em sua mente, cada movimento uma sinfonia de desejos reprimidos. A pele, banhada por uma luz imaginária, parecia convidá-lo a explorar territórios proibidos.
A mente de Marco se entregou ao devaneio, vislumbrando detalhes que o mundo exterior nunca ousaria testemunhar. Paulo, com olhares carregados de promessas, movia-se em câmera lenta, uma dança proibida de sedução. A imaginação do jogador, há muito sufocada pela necessidade de conformidade, agora se rebelava em cores vivas e chamava atenção.
Davi, com um gesto sutil, cutucou Marco e a realidade voltou como uma maré impiedosa. Os medos, que ele vinha tentando repelir, ressurgiram como sombras assombrando sua consciência. O sorriso provocador de Paulo, que Marco vislumbrava em sua mente, desvaneceu-se diante do espectro da exposição.
Ele sacudiu a cabeça, como se tentasse afastar a miragem que momentaneamente o envolvera. A verdade, tão delicadamente encoberta pelas mentiras que ele se obrigara a viver, voltou como um soco, trazendo consigo o peso do segredo.
Paulo, alheio à tempestade interna de Marco, continuava sua rotina no vestiário. Seus olhares se cruzaram, e por um breve instante, algo passou entre eles, uma corrente elétrica de entendimento que ficou suspensa no ar.
Marco sentiu um frio percorrer sua espinha. A dualidade que ele sustentava, a necessidade de ser aceito pelo mundo exterior enquanto lutava contra seus próprios demônios internos, o consumia. Os medos, agora mais reais do que nunca, sussurravam em sua mente, advertindo-o sobre os perigos de se deixar levar pela verdade.
Assim, na encruzilhada entre a imaginação e a realidade, Marco se viu mais uma vez diante do desafio de manter a fachada. O vestiário, repleto de risadas e camaradagem, tornou-se o cenário de um conflito interno que ameaçava desvendar as intrincadas teias de sua vida secreta.
Disfarçando sua apreensão, observou o técnico mais uma vez. O olhar de Paulo, porém, era perspicaz, como se penetrasse nas profundezas da sua alma, buscando decifrar os pensamentos mais íntimos.
Ao se afastar, Paulo deixou o vestiário, e os jogadores retomaram suas brincadeiras. Mais piadas homofóbicas flutuavam no ar, mas, dessa vez, Marco sentiu um peso extra em cada palavra.
— Cara, tá tudo bem? Você tá pálido — questionou Davi, percebendo a mudança de humor do colega.
— Cansaço, Davi. Um pouco de fadiga, um pouco de idade. Noite longa, dia puxado. Vou dar um tempo antes do treino.
— Não tá com cara de cansaço. Parece que você viu um fantasma e ele não era nada bonito. Se não quer dizer o que rolou, beleza. Não vou insistir. Qualquer coisa só chamar — finalizou Davi, antes de se afastar em direção à saída.
No entanto, o olhar de Paulo ainda pairava em sua mente, e enquanto os jogadores continuavam com suas piadas, Marco se viu em um labirinto de segredos, no qual cada risada era uma camuflagem para as complexidades que se desenrolavam sob a superfície.
A verdade, enterrada sob as máscaras, permaneceria oculta, pelo menos por enquanto, e Marco sabia que precisava fazer algo para proteger sua reputação. E a resposta aos seus problemas, mesmo que ao seu contragosto, encontrava-se na sala da diretoria do CFC.

O clima na sala da diretoria estava carregado, a tensão quase insuportável. Com uma expressão determinada, Marco enfrentava os diretores, cada palavra que ele escolhia pesava como uma sentença.
— Não estou negociando, quero Paulo fora da equipe — continuou, seus olhos refletindo uma resolução oculta.
Os diretores, sentados em suas cadeiras, trocaram olhares perplexos.
— O que há de errado com o Paulo? Ele tem feito um ótimo trabalho com a equipe — respondeu um dos diretores, confuso.
Marco hesitou por um momento, escolhendo cada palavra com cautela para manter seu segredo resguardado.
— Não é sobre seu desempenho no campo. É uma questão pessoal, algo que afeta o ambiente de trabalho.
— Precisamos de mais detalhes, Marco. Não podemos tomar decisões baseadas em vagas insinuações — insistiu outro diretor.
Internamente, Marco debatia-se com os conflitos que o atormentavam. A dualidade de sua vida e a necessidade de manter as aparências enquanto encarava suas próprias verdades o deixavam em um precipício emocional.
— Eu não posso fornecer mais detalhes. Apenas sei que é necessário que ele seja afastado. E espero que confiem em mim nessa decisão.
O silêncio pairou na sala, uma pausa desconfortável enquanto os diretores tentavam decifrar a enigmática demanda de Marco. A perplexidade estampada em seus rostos denunciava a falta de compreensão diante do pedido insistente do jogador.
— Marco, precisamos entender melhor a situação. Se há um problema, devemos abordá-lo de maneira adequada, não tomar decisões precipitadas.
— Se Paulo não for demitido, eu mesmo me demito. Estou disposto a pagar a multa contratual. É uma questão de princípios.
Os diretores, atônitos com a gravidade da situação, trocaram olhares incrédulos. Apesar de sua decisão aparentemente irracional, Marco mantinha-se firme em sua posição. A sala, antes pulsante de indecisões, ficou imersa em um silêncio assustador por um instante.
O impasse persistia, o peso da decisão do jogador pairando sobre todos na sala. Enquanto os diretores debatiam entre si, Marco, em meio ao desespero de uma escolha impossível, aguardava o desfecho de um capítulo crucial em sua busca pela reconciliação entre a verdade que escondia e a imagem que construíra ao longo dos anos.

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Comentários (1)

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  • Pedro: Muto bem escrito

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