Eu Acho que te Amo
Uma tarde chuvosa de domingo, um dia monótono. Crianças desanimadas em um pátio com um teto que contém crateras. O bom cheiro asfixiante da infelicidade.
– quietas, malditas!
Com uma barra de ferro nas mãos ela abre um buraco num quadro negro com bastante letras, muitas delas borradas.
– eu tenho uma ótima notícia, mas se não ficarem quietas não escutarão e ficarão sem almoço mais uma vez.
Além dos sons das gotas, mais nenhum som se ouvia. Comendo um belo sanduíche, ela caminha pelo pouco de piso que dá para pisar.
– uma maldita acaba de ter sua família localizada.
Todas suspiram fortemente, embora não ousassem pronunciar uma sílaba sequer.
– mais uma vez e eu não conto.
Corpos esbeltos neutros e expressões faciais ansiosas. A senhora espetacularmente gordurosa anda em círculos outra vez tranquilamente.
– digo que é uma ótima notícia porquê tenho pavor de vocês e cada vez que uma de vocês vão embora para sempre daqui é uma vitória na minha vida – enfatiza pausadamente.
Uma menina entre todas elas encontra-se de cabeça baixa.
– como as formigas constroem um formigueiro? Como os pássaros têm filhotes? Por que as crianças lá fora têm um homem e uma mulher do seu lado? – pergunta-se mentalmente.
– Catarina, sua surda maldita!
– falou comigo, senhora?
– falei com as paredes que têm o mesmo nome que o seu... claro que falei com você.
– o que a senhora deseja?
Uma outra senhora um pouco mais velha segura a que está quase surtando com a garota.
– sua sorte é que não estará mais aqui, pois senão eu te marcaria com chicotadas.
A infeliz garota não sabia o que era família, pais, mães. Arruma sua pequena mala sem saber para onde vai. As feridas das brincadeiras, maus-tratos, colegas simpáticas e apáticas. Tudo ela relembra, até voltar para o seu quarto e derramar as últimas lágrimas que ela derramará no lugar.
– eu se fosse você taria feliz.
– por que?
– porque vai ter quem te dê comida sempre que você pedir e vai te bater com cinto ao invés de chicote.
– eu não quero apanhar.
– é assim que é nas família.
– eu nunca entendi o que é isso.
– eu também nunca entendi, mas pelo que a gente viu na televisão, parece ser bom.
Em uma tarde ensolarada, um garoto observa um tabuleiro de xadrez. Ele move uma peça e, trocando de cadeira, move a peça do seu suposto rival, analisando seus próprios movimentos. Só depois de muitos minutos é que ele percebe um papel escondido embaixo do tabuleiro:
– Ares, encontramos sua irmã e estamos levando-a pra casa.
Ele deixa o papel sobre a mesa e cruza os dedos. Olha ao redor da sala. A imagem de outro garoto vem à sua mente. Um menino bem mais novo que ele, andando a cavalo, marcando gols e vencendo-o no xadrez. Uma lágrima cai de seu rosto.
Depois do sol já ter sumido, uma van chega na casa de Ares. São seus pais e Catarina, que hesitantemente desce. Os refletores dão à casa um belo destaque, o que a deixa intimidada.
– esta é sua nova casa.
Inexpressivo, Ares observa tudo do segundo andar da casa. Uma respiração forçada é sua trilha sonora. O cheiro doce e libertador toma conta das narinas de Catarina.
Logo após o nascer-do-sol, ela desperta. Tímida, levanta-se devagar e percebe que ainda está muito cedo. Caminha pelo corredor e abre a porta do banheiro, deparando-se com Ares dormindo na banheira. Ela checa se ele está com vida e não nota nada anormal. Na noite passada eles não se viram, ela foi dormir cedo. Agora que pode contemplá-lo, seu coração acelera. O garoto está usando apenas um calção. Ela nota que ele já está na adolescência. Sua língua acaricia levemente seus lábios. Suas pupilas.
– ei! Acorda por favor – pede pacientemente.
Ares acorda suavemente. Quando se dá conta da presença da garota:
– sai daqui! Você não era pra tá aqui.
– me disseram que eu tinha uma família.
– essa não é sua família.
– por que você tá me tratando assim?
– você não vai roubar o lugar do meu irmão.
– eu não quero roubar o lugar de ninguém. Péra, você tem um irmão? Então eu também tenho.
– não, ele é só meu irmão e de mais ninguém, sua puta.
Ares sai furiosamente da banheira. O coração da menina ainda tá acelerado. Aquela ofensa foi pouco perto de tudo o que ela sofreu. Mordendo os lábios, ela resolve escovar os dentes de uma vez. Logo após, desce para a cozinha. O garoto está lá, mas sai ao vê-la.
– Ares, termine de tomar seu café da manhã – pede a empregada, sem sucesso.
– por que ele tá assim comigo?
– acho que ele pensa que você veio pra roubar o lugar do irmão dele.
– é verdade que eu tenho um segundo irmão?
– meio-irmão. Seu pai se casou com outra mulher e teve um terceiro filho.
– cadê ele?
– morreu.
– nossa! E o Ares devia ser bem apegado com ele né?
– demais.
Catarina come um pedaço de pão. Desanimada, ela volta ao seu quarto pra pegar a toalha e tomar banho. Ao chegar à porta do banheiro percebe que está encostada. Impulsivamente abre a porta e flagra seu irmão nu.
– cai fora!
Os gritos eram nada. A boca aberta da menina a impedia de falar.
– vai embora sua puta!
Catarina perde o controle e tira a toalha.
– sua desgraçada, eu vou te matar.
Ensandecido, o garoto pega a sua toalha e se enrola. A menina foge para o seu quarto mas não sobra tempo para trancar a porta. Ele chega primeiro e o faz.
– eu vou te mostrar o que acontece quando se invade a casa de um homem.
– eu não invadi nada.
Ares abre o guarda-roupas e pega um cinto de couro bem grosso.
– por favor, não! Eu não fiz nada.
– você vai sofrer bem devagar.
Lágrimas derramando, passos largos e lentos, a garota vê-se numa emboscada e vem à mente uma recordação do que sua colega de quarto falou.
– sua puta, sua vadia, sua desgraçada.
Enchendo os pulmões, o garoto levanta o braço e descarrega sua raiva nela...
Comentários (3)
Passivo discreto de Recif: conto cu da porra, que merda, não sei como uma porcaria dessa é publicada
Responder↴ • uid:fi07oou1z1bastiao: que bosta
Responder↴ • uid:bemlaxsl41oNando: Que coisa é essa! Conto erótico??? Kkkkkk
Responder↴ • uid:8d5wr0q8ra4