#Gay #Teen

Entre Muros e Segredos cap 14

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Timberlake

Quantas vezes tentamos nos enganar, e Pedro fazia isso consigo mesmo..

Entre Muros e Segredos cap 14
Ainda no salão principal, Pedro olhou para o teto, como se pudesse enxergar através do concreto, e tentou visualizar Igor. Tomou fôlego e subiu as escadas, mas, ao chegar ao quarto, Igor não estava lá. Deu de ombros e foi tomar banho. Demorou sob o chuveiro, permitindo-se um momento de relaxamento, e depois saiu para o quarto.
Igor, por sua vez, esteve esse tempo todo na cozinha preparando o jantar: um sanduíche caprichado, feito com os mantimentos que ele mesmo comprara. Após a refeição rápida, mas reforçada, subiu para o quarto com o restante da comida que havia sobrado e com a frigideira que usou. Pedro observou a cena com surpresa e um leve arrependimento. Nada daquilo teria acontecido se não houvesse tantas rixas entre eles; talvez Igor tivesse preparado algo para os dois. Aliás, ele já fazia isso, mesmo quando suas diferenças já estavam bem delineadas. Agora, Pedro teria que cuidar da própria comida.
Desceu para a cozinha vestindo apenas cueca e começou a vasculhar os armários e a geladeira em busca de algo para comer. Encontrou salsichas no refrigerador e decidiu comê-las com pão. Colocou-as em uma panela com água e esperou o cozimento, mas não fazia ideia de como saber quando estariam prontas. Quando a água começou a amarelar, achou que já estavam no ponto. Pôs no pão e deu uma mordida. Duas mastigadas depois, percebeu que as salsichas estavam malcozidas e o pão, murcho. Cuspiu no lixo e jogou todo o resto fora. E agora, o que comer?
Revirou os armários novamente em busca de macarrão instantâneo, mas não encontrou. Não sabia o que fazer com os alimentos disponíveis, pois nem mesmo poderia fritar um ovo — afinal, não teria acompanhamento. Além disso, a cozinha, que já não era higienizada há tempos, tornava-se cada dia mais inutilizável para qualquer tipo de refeição.
Voltou ao quarto para usar o celular e pedir uma pizza. Igor, nesse momento, estava no banho. Quando Pedro já havia finalizado o pedido, o companheiro de quarto saiu do banheiro, também de cueca, e seguiu para a varanda para estender a toalha. Pedro o seguiu com os olhos e, pela primeira vez, reconheceu aquele corpo. Associou-o à noite em que dormiram juntos na van e lembrou-se de como suas pernas estiveram grudadas. No entanto, não soube interpretar o que sentia naquele momento. Não soube sequer responder a si mesmo por que se lembrava daquilo.
Igor voltou para sua cama e se sentou com as pernas cruzadas, colocou os óculos e começou a interagir com a internet. Pedro, de pé, observava-o de braços cruzados enquanto esperava a pizza.
Sem que percebessem, estavam enquadrados em uma cena homoerótica. Qualquer gay que os visse naquela situação sentir-se-ia atraído. Ambos vestiam apenas cuecas e dividiam o mesmo quarto, sem ninguém para interrompê-los ou impedir que fizessem o que quisessem. Tinham acabado de sair do banho, eram jovens, bonitos e agiam com tanta naturalidade diante da situação que pareciam acostumados um ao outro — quase como um casal bem resolvido.
Mas não eram. Estavam longe disso. E continuariam longe, se dependesse deles e dos outros.
Antes que a pizza chegasse, o celular tocou.
— Alô?
— Oi, Pedrinho, tudo bem?
— Quem é?
— Não reconhece mais a minha voz?
— Desculpa...
— É a Tati. Tudo bem, gatinho?
— Tudo. E você?
— Bem... O que você vai fazer hoje?
— Hoje? Acabei de chegar de viagem.
— É, eu sei. Sua irmã me contou. Mas está assim tão cansadinho?
Se havia algo do qual Pedro não conseguia se desprender, era seu ego quando desafiavam sua masculinidade. Mesmo sendo gay, Pedro era, antes de tudo, um homem.
— Cansado? Nunca estou.
— Hum... Gosto assim.
— No que você está pensando?
— Estava pensando em passar aí, na casa onde você está dormindo...
— Aqui no casarão?
— Sim. Só você e Igor dormem aí, não é? Acho que ele não se importaria.
— Não, acho que não.
A intenção não era provocar ciúmes. Era algo muito mais incômodo do que isso. Até porque Pedro nem cogitava namorar Igor. Na verdade, antes de qualquer coisa, Pedro sequer desejava tocar em um homem. Sua homossexualidade ainda não era algo real para ele; em sua cabeça, poderia ser apenas uma fase, um momento passageiro causado pelos últimos acontecimentos.
— Então... Como eu chego aí?
Pedro indicou pontos de referência e se despediu no telefone. Vestiu-se e saiu de van. Igor continuou suas atividades, aparentemente indiferente ao que ouvira — ou, pelo menos, ao que percebera.
Quando Tatiana desceu do ônibus, Pedro já a esperava no ponto. A garota entrou no automóvel, e seguiram juntos de volta ao casarão. O casal entrou no quarto aos risos, sem se importar com a presença do internauta ali.
— Oi, Igor, tudo bem?
— Tudo, gatinha. E você?
— Tudo ótimo. Vou dormir aqui essa noite, você se importa?
— Não, não. Fique à vontade.
— Ah, obrigada.
Igor olhou para Tatiana com um estranhamento absurdo. A garota estava tão efusiva que parecia engraçada. Achou-a divertida naquela noite e até participaria da conversa, não fosse Pedro. Preferiu apenas observá-la e permanecer no seu canto.
Pedro, por sua vez, percebeu que seria necessário muito mais do que isso para irritar seu companheiro de quarto.
— Tati, você se importa com o fato de Igor estar de cueca?
— Eu? De maneira nenhuma. Vocês estão na casa de vocês. Eu sou só a visita.
— Então também não se importará se eu também ficar de cueca, não é?
— Não, não mesmo! — disse ela, animada.
Mas, quando Pedro começou a tirar a camisa, a pizza chegou.
— Eu vou buscar a pizza. Me espera, tá?
— Não vou fugir, prometo!
Pedro então a beijou rapidamente nos lábios e desceu com a carteira. Tatiana, por sua vez, sentou-se na cama vazia.
— Vocês devem adorar viver aqui, não é?
— Adorar? — perguntou Igor.
— Sim. Eu adoraria morar sozinha com uma amiga.
— Eu também adoraria morar com um amigo.
— Então, não foi o que eu disse? — Igor riu um pouco. — O que vocês dois não devem aprontar juntos...
— Nós dois juntos? Bem, eu não sou muito de aprontar, não.
— Mas o Pedro deve ser.
— Não sei, pode ser. Nunca o vi aprontando.
— Sei... Essa fidelidade masculina entre vocês homens é realmente incrível. Nós, mulheres, deveríamos aprender.
— O que quer dizer com isso?
— O Pedro deve trazer muitas garotas para cá, e você deve acobertar todas elas, não é?
— Na verdade, você é a primeira garota. Moramos aqui há pouco mais de duas semanas e ainda não tivemos tempo de criar uma rotina.
— Sei... Então não há outras?
— Não que eu saiba.
— Hum, interessante.
— Você me diverte muito, Tati.
— É? Que bom. No que depender de mim, virei mais vezes para te divertir.
— Economize a alegria para o Pedro, é melhor.
Enquanto os dois riam, Pedro chegou com a pizza e o refrigerante. Colocou a caixa sobre sua cama e a garrafa no chão.
— Eu vou pegar os copos...
— Não, Tati, eu já os trouxe. Estão nos meus bolsos de trás.
Ele então puxou os copos e abriu a garrafa. Tatiana começou a se servir de uma fatia e, ao dar a primeira mordida, perguntou:
— Igor, quer que eu pegue uma fatia para você?
— Não, obrigado, já jantei.
— Mas eu quero, Tati. Pode me dar?
— Na boca?
— Bem, eu não havia pensado nisso, mas...
— Antes, você precisa tirar a roupa, para não sujá-la.
— Ah, é mesmo, esqueci.
Imediatamente, Pedro tirou a camisa e a jogou na cama de Igor. O menino olhou para a peça de roupa e pensou: "Esse é o melhor que ele pode fazer?". Depois disso, a bermuda já estava em cima da cômoda, e Pedro de cueca.
— Bem melhor, Pedrinho.
— E você, não vai tirar também?
— Não, está um pouco frio.
— Que besteira...
— Quem sabe mais tarde?
Os dois continuaram comendo, bebendo e se beijando. Quando a pizza acabou, Pedro não pensou duas vezes: deitou Tatiana em sua cama e continuou beijando-a. Igor olhou o casal e apenas achou graça de assistir a tudo sem que o casal se importasse. Mas ignorou e continuou entretido com a internet, ocupado com os amigos e com as músicas que ouvia pelos fones de ouvido. Quando Pedro já estava bastante excitado, sem querer visualizou Igor, que estava bem ali ao lado, com o rosto iluminado pela tela do computador. Foi um pequeno flash. Sentiu-se, por fim, incomodado com aquela presença.
Pedro desceu da cama e desligou a luz. Ao voltar para o lado de Tatiana, olhou para Igor, esperando alguma reação, mas não obteve nenhuma. Igor continuou teclando, mas, mesmo assim, não pretendia ficar ali muito tempo, pois não queria incomodar ninguém. Fechou o computador e desceu com ele. Convencido de que já havia incomodado o bastante, Pedro dedicou atenção total à sua companheira da noite. Porém, minutos depois, Igor reapareceu no quarto e, com certo esforço, puxou seu colchão para fora do cômodo, irritando Pedro por completo.
Igor desceu com o colchão pelas escadas e o colocou sobre o banco de madeira onde já havia dormido alguns dias antes. De lá, continuou suas atividades normalmente, como se nada estivesse acontecendo. Achou até divertida a coragem de Tatiana por ter tomado iniciativa, mas não se ocupou muito com isso, pois agora poderia ficar sozinho e dormir confortavelmente quando quisesse. Pedro, por sua vez, não conseguiu mais ter o mesmo prazer de antes. Queria Igor ali, assistindo a tudo, ou irritado com a situação, mas não conseguiu.
Quando o relógio marcava quatro horas da manhã, Pedro despertou de mau humor por sentir suas pernas presas pelo corpo de Tatiana. E, se havia algo que incomodava muito o seu sono, era sentir as pernas presas. Com certo esforço, tentou se livrar da garota e sair da cama. Estava nu, mas não se importou com isso. Enquanto descia os degraus da escada, escutou o som das teclas do computador. Igor, mesmo com o amanhecer se aproximando, ainda estava entretido na internet. Pedro então passou a pisar ainda mais forte no chão, expressando seu ódio por não ter provocado nenhuma reação em seu rival.
Tanto na ida quanto na volta, Igor nem sequer percebeu que Pedro estava nu, devido ao seu total desinteresse pelo companheiro de quarto. Pedro, por sua vez, apenas foi tomar um copo d’água e voltou rapidamente para o quarto. Ao passar por Igor, olhou-o com atenção e notou que ele ainda estava de cueca, na mesma posição de sempre quando usava o computador no quarto. Nada mudava, nem mesmo sua atenção. Pedro então seguiu chateado para o quarto, deitou-se tentando não acordar Tatiana e passou os minutos que lhe restavam antes de voltar a dormir olhando para a cama vazia de Igor. Era como se faltasse algo, mesmo que fosse algo que ele sempre odiou.
Pedro e Igor esperavam ganhar uma rotina logo, algo previsível que trouxesse calma aos dias que estavam por vir. Mas parecia que nada queria ser monótono, e nem tudo estava sob o controle deles.
— Vai fazer o que hoje, Igor?
— O que você quiser!
— Hum, qualquer coisa?
— Ah, não, sem malícia, Rafinha.
— Tá bom, tá bom. Posso passar aí, então?
— Pode. Vou me arrumar enquanto você vem.
Igor foi tomar banho, tentando mais uma vez se livrar da presença desagradável de Pedro, que estava na cozinha, analisando a sujeira que eles haviam deixado se acumular. Só então caiu em si: morava ali agora e não tinha mais a mãe ou a irmã para limpar e cozinhar para ele. Precisava entender que desfilar pela casa de cueca não era sua única responsabilidade no casarão.
Sem a menor prática, pegou a vassoura e começou a varrer a cozinha—quase em vão. Sem habilidade alguma para a tarefa, acabou levantando poeira e espalhando ainda mais sujeira. O ar ficou tão poluído que precisou sair um pouco para respirar.
"Assim não vai dar certo!"
Minutos depois, voltou e, com um pouco mais de delicadeza, finalmente entendeu como a vassoura funcionava. Não chegou a limpar o chão de fato, mas, pelo menos, aprendeu a varrer.
Em seguida, passou a limpar a pia e a mesa, removendo o pó e os restos de cimento velho. Na pia, usou um pano úmido, seguido de sabão líquido, e depois enxaguou. Na mesa, fez o mesmo processo, mas com um pouco mais de força, já que era de madeira. Ainda esfregava quando ouviu alguém bater no portão.
— Igor? — chamou Pedro, sem obter resposta. — Igor, tem gente no portão!
Foi até o salão principal e escutou o barulho do chuveiro. Igor ainda estava ocupado no banho, então Pedro foi ver quem era. Ao se deparar com Rafael, fechou-se em raiva, mas mesmo assim atendeu—sem abrir o portão, apenas olhando entre as brechas.
— Oi, Pedro. Você poderia chamar o Igor, por favor?
— Não.
— Por quê?
— Porque ele não está. E, se me der licença, estou muito ocupado!
— Mas ele acabou de...
— Não quero saber, Rafael. Vai embora, você está me atrapalhando!
— Mas...
— Tchau.
Pedro deu as costas, e Rafael, sem entender, ficou parado no portão, surpreso com tamanha grosseria. Pensou então em ligar para Igor, que, por sorte, acabava de sair do banheiro, enrolado em uma toalha.
— Oi, Rafa. Já chegou?
— Já. E você, onde está?
— Eu? No meu quarto.
— Pedro me disse que você não estava.
— Hã? Espera aí um pouquinho, já estou descendo.
Igor desligou o telefone, vestiu rapidamente uma camiseta e desceu as escadas às pressas. No jardim, cruzou com Pedro, que já alcançava a porta. Os dois se olharam rapidamente, mas não disseram nada. Igor continuou caminhando até o portão e o abriu.
— Vem, Rafa!
Segurou-o pela mão e puxou-o pelo braço. Pedro continuou parado perto da porta, observando enquanto Igor e Rafael passavam por ele e subiam juntos para o quarto.
— Igor, já pode soltar meu braço? Está me apertando muito.
— Desculpa, Rafa. Senta aí enquanto eu me arrumo.
— Para onde você quer ir?
— Qualquer lugar que tenha comida.
Pedro, agora duplamente irritado, também subiu as escadas. Rafael, ainda de pé, foi se sentar na cama dele, mas Igor o impediu a tempo.
— Não senta nessa cama imunda. Senta na minha.
— Imunda?
— É a cama do Pedro. E ontem ele fez coisas aí. Um nojo.
— Coisas?
— É, transei com uma mulher. Você sabe o que é isso, viadinho? — provocou Pedro ao entrar no quarto.
Rafael o olhou, surpreso e desconfortável, depois voltou-se para Igor, sem saber como reagir. Sentiu-se constrangido e profundamente atacado.
— Rafael, senta aí na minha cama. Me arrumo rapidinho.
Ignorando completamente a presença de Pedro, Igor continuou vasculhando a mala à procura de roupas.
— A gente poderia ir naquele restaurante novo da orla. Está fazendo o maior sucesso.
— É, mas dizem que a consumação mínima é de cinquenta reais.
— Besteira, queridinho, eu tenho grana.
— Ah, é? Sendo assim, vamos! Faz tempo que quero conhecer esse lugar.
— Muito glamour, não é, senhor Rafael?
— Muito!
Pedro ouvia tudo calado, sentindo-se como mais uma das paredes do quarto, tamanha a sua irrelevância ali. Dois gays juntos e tão próximos eram uma ameaça ao seu bem-estar. Era incômodo, e ele não sabia o motivo.
Igor tirou a toalha, ficando só de cueca. Depois, tirou a camiseta e pegou duas peças de roupa.
— O que acha dessa bermuda com essa camisa?
— Tá legal, mas você vai com o tênis, né?
— Sim, aquele ali. — Apontou.
— Então vai ficar gatinho.
Pedro bufou, incomodado.
— Seu pai iria adorar ouvir vocês dois de chamego aqui no quarto. Não têm vergonha, não?
Igor então se aproximou de Rafael, puxou-o pelo braço e o beijou na boca. O garoto ficou em choque ao sentir aqueles lábios tocarem os seus e não soube como reagir. Igor insistiu, enfiou a língua na boca do amigo e aprofundou o beijo, abraçando-o com força. Não restou escolha para Rafael senão dar vida à farsa criada por Igor.
Pedro, que nunca havia visto um beijo entre dois homens antes — exceto o seu com Igor — sentiu todos os pelos do corpo arrepiarem, como se um vento frio tivesse passado por ele. Sua boca se abriu, e sílabas começaram a se aglomerar em sua garganta. Mas nenhuma palavra foi emitida. Seus olhos pesavam no rosto, e sua língua secou. Não apenas o coração, mas toda a sua caixa torácica parecia ser impulsionada para frente. Diante de seus olhos, um novo mundo se abria, mas sua carne também parecia ser perfurada por uma agulha que lhe injetava medo e desesperança.
Quando Igor parou de beijar o amigo, vestiu-se rapidamente, sentou-se na cama para calçar os tênis e puxou Rafael pela mão até a porta do quarto.
— Quanto ao dinheiro, amor, não se preocupe. Ganhei uma ótima comissão na minha última venda, porque eu sim sei ser competente. Vamos!
Passaram pelo corpo imóvel de Pedro e desceram as escadas. Ganharam a rua e desapareceram.
— Igor, você pirou?
— Viu a cara dele? — gargalhou. — Parecia uma estátua grega.
— Eu vi o tamanho da mão e do braço dele. Poderia ter nos matado!
— Matava nada. Cansei de ouvir o Pedro me ameaçando disso e daquilo. Rafa, eu não vou ser um enrustido, não. Quero viver, ser feliz. Eu mereço.
— Eu sei que você merece...
— Então pronto! Não vou deixar que o mundo me impeça, muito menos o Pedro, que não significa nada para mim.
— Eu sei, eu entendo.
— Mas... você ficou chateado comigo por causa do beijo?
— Não. Até que você beija bem, sabia?
— Tonto. Você também não é nada mal. Quer namorar comigo?
— Eu e você? Juntos? Ah, você pirou!
— Mas bem que a gente poderia dar umas beijocas na frente dele mais vezes, né?
— Não. Nunca mais. Eu tenho medo dele, Igor.
— Que medo o quê, Rafa? O Pedro é um bananão, um idiota. Ele não consegue nem me destratar na frente dos nossos pais. Ele me intimidou no início, mas não mais.
— Você tem tanto ódio dele...
— Muito ódio!
— O que ele te fez para você sentir isso?
— Nada... Quer dizer, ele faz essas coisas desagradáveis, como hoje. Vive ameaçando contar para o meu pai, mas nunca conta.
— E você não tem medo disso?
— Não. Ele não teria coragem, e, mesmo que tivesse, já disse: não vou me frear mais. Nem pelo meu pai, nem pelo Pedro, nem por ninguém. Passei minha infância inteira brincando sozinho dentro do meu quarto enquanto os outros meninos da rua saíam para pular na chuva. Eu não quero mais ter medo da chuva. Se é para se molhar, que seja o corpo todo, e não só o dedo mindinho do pé!
Pedro ainda estava hipnotizado pelo beijo e permaneceu parado no quarto. Olhou para a varanda e viu a luz invadindo o ambiente, iluminando tudo. O que Pedro testemunhou não foi um beijo comum, mas sim o beijo entre dois seres magníficos. Assim como Igor um dia o viu apenas de cueca, iluminado pelo sol, Pedro assistiu àquela cena com uma mistura de sentimentos. Eles irradiavam desejo, felicidade, liberdade. O corpo dos dois tinha a silhueta desenhada pelos raios solares e, em especial, o de Igor parecia ainda mais atraente depois do beijo. Pela primeira vez, Pedro viu Igor como alguém desejável.
Desceu as escadas, foi até a cozinha, sentou-se em um dos bancos e chorou. Suas lágrimas, de alguma forma, ajudaram a lavar a cozinha.
O choro, no entanto, foi interrompido pelo toque do telefone.
— Oi, pai.
— Pedro, sabe a fossa nova lá no quintal?
— Sei. O que tem?
— Veja para mim se os pedreiros a tamparam, porque acho que não. Pode ser que chova e inunde.
— Mas é verão, pai!
— Mas também chove no verão, Pedro.
— Certo, eu vou dar uma olhada.
Mas não foi. Estava ocupado demais com suas lágrimas e com o aperto que sentia no peito. Sua solidão nunca tinha sido tão evidente quanto naqueles dias. Pedro sempre soube que era só, mas não se importava. Antes, achava normal que um rapaz como ele fosse assim. Agora, tudo era diferente. Tudo havia mudado, inclusive ele mesmo.
Seria normal que esse novo Pedro fosse solitário?
Enquanto chorava, sentado no banco da cozinha, o sabão que havia esfregado cobria toda a mesa. Com o dedo indicador, começou a desenhar sobre a espuma. Primeiro, um sol. Depois, um coração. Em seguida, passou a escrever. Escreveu a palavra “sol”, depois “coração” e, sem perceber, rabiscou um nome. “Igor”.
Escreveu “Igor” três vezes.
Nem notou.
E, por fim, esqueceu-se de cobrir a fossa.

Continua....

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  • Sex Power: Seria uma ótima ideia, fazer uma uma segunda temporada, já que (suponho eu)que o Igor e Pedro vão ficar juntos no final,e que na segunda temporada,o Igor possa viver um romance com Rafael, gosteie fiquei feliz com o pedido de namoro do Igor à Rafa.

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