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Entre Muros e Segredos cap 6

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Timberlake

As vezes somos apenas um jogo nas mãos de algumas pessoas, seja qual for a razão, apenas deixamos as brincarem conosco e foi assim que Pedro se sentiu

— É um material novo — continuou Igor.
— É, estamos pensando em trocar por ele.
— Quem indicou? O seu arquiteto?
— Não, não, ainda não chamamos um profissional para ver isso.
— É, tem que buscar um, sabe? E procurar bons pedreiros, porque não é qualquer um que coloca porcelanato.
— Como assim?
— O porcelanato é um material diferente. Tem boa resistência, sim, mas a aplicação exige técnica, e o rejunte também é especial. Eu precisei contratar um arquiteto para supervisionar a aplicação e ainda chamar um pedreiro experiente.
— Não é você que está colocando firula nisso?
— Não. Pergunte a qualquer arquiteto. O porcelanato precisa ser bem aplicado, senão perde sua resistência. A prova disso é o próprio rejunte, que não é o mesmo da cerâmica comum.
— E esse rejunte é mais caro?
— Um pouco. Mas o mais caro mesmo é o pedreiro. Encontrar um que saiba aplicar porcelanato é como encontrar um PhD em construção. Se ele sabe fazer isso, significa que se especializou e, por isso, cobra mais caro. Ele conhece o valor do seu trabalho no mercado. Agora, se você optar pela cerâmica, que é um material mais comum e, no nosso caso, de ótimo acabamento e vinda de uma boa linha de produção, não precisa se preocupar com rejunte especial e talvez nem precise de arquiteto para coordenar a aplicação. E, hoje em dia... Ixi, arquiteto está caro!
— Arquiteto e engenheiro.
— Engenheiro ainda mais, não é, Pedro?
Pedro olhou espantado para Cícero e depois voltou-se para Igor.
— Você é engenheiro, rapaz?
— Sou. Quer dizer, estou no último ano da faculdade.
— Ah, certo. Igor, disso eu não sabia...
Igor foi generoso com Pedro, dando-lhe espaço para falar e até impressionar Cícero com sua futura profissão. No entanto, Pedro preferiu se manter discreto. Igor ficou um pouco decepcionado, pois, apesar de manter o controle da conversa, seu repertório de argumentos estava se esgotando, e ele não sabia se estava preparado para outro ataque de Cícero. Preferiu se precaver, mas Pedro não ajudou. Teve medo.
— É... Nem vou falar muito disso. Pesquise com um arquiteto, ou melhor, pesquise na internet ou em lojas de materiais de construção. Veja os preços e, quem sabe, eles até tenham contatos de pedreiros especializados na aplicação de porcelanato.
— Vou pesquisar.
— E então?
— Calma, menino, já disse que não posso fechar negócio agora... — disse Cícero, rindo.
— Nós trouxemos algumas caixas para você conferir a qualidade e, o mais importante, a cor. A cor é a mesma!
— A questão, Igor, é que, ao mudar o piso, também damos uma cara nova ao restaurante.
Igor poderia argumentar mais e ainda tinha cartas na manga para isso, mas percebeu que a resposta definitiva não viria agora. Então, mudou de estratégia.
— Bom, ficaremos na cidade até o fim de semana. Não viemos para cá só para trabalhar. Seria um desperdício vir e não aproveitar as praias, por exemplo.
— É verdade. Mas Maceió também tem praias ótimas.
— Ah, não! Modéstia à parte, Maceió tem as melhores praias do Nordeste!
— Ok, não vou discutir isso. Vamos fazer o seguinte: vou chamar meu irmão, e conversamos nós dois. Enquanto isso... vocês querem almoçar aqui? São meus convidados.
— Ah, sendo assim, ninguém discute. As praias de João Pessoa são as melhores do universo inteiro!
Pedro se sentia péssimo. Além de ser um peso morto naquela conversa, agora ainda teria que almoçar na presença de Igor. Nada mais desagradável. E, por mais que a negociação tivesse sido produtiva, nada estava garantido. Para completar, após tanto tempo em um lugar desconhecido e na companhia de estranhos, uma forte dor de cabeça começou a incomodá-lo.
Eles se levantaram das poltronas e se cumprimentaram. Estavam prontos para descer as escadas e ir almoçar quando uma moça apareceu na sala. Para Pedro, era mais uma pessoa desconhecida para aumentar sua inquietação.
Ele ansiava por sair dali e respirar um pouco. Desde a escola, nunca passara tanto tempo preso em um ambiente com estranhos, e, ainda assim, nunca se sentira tão desconfortável como agora.
A moça que entrara era jovem e bonita. Parecia à vontade no ambiente. Estranhou a presença dos rapazes, mas seguiu em frente.
— Oi, tio!
— Sim, Nina, este é o Igor...
— Oi, prazer — disse ela, dando um beijo no rosto dele.
— E este é o... é...
— Pedro!
— Oi, prazer, Pedro.
— Eles vieram por causa do piso.
— Ah, sim. Vamos trocar!
— Vão trocar pelo nosso piso! — adiantou-se Igor.
— Ainda não decidimos — disse Cícero, rindo.
— Ah, mas é quase certeza, Nina. Quer apostar?
— Ah, isso não sou eu quem resolve.
— Nina é filha do meu irmão. Ah, falando nisso, que horas seu pai chega?
— Já deve estar a caminho!
— Você já almoçou ou vai almoçar aqui?
— Aqui, tio.
— Então por que você não faz companhia aos rapazes?
— Ah, pode deixar.
Pedro odiou a ideia. Eles começaram a sair da sala, com Igor na frente, seguido por Nina e Pedro. Quando puderam se ver melhor, Nina se aproximou de Pedro e iniciou uma conversa com ele.
— Então, Pedro, vocês são de onde?
Pedro olhou para Nina, depois para Igor, e não sabia o que fazer. A garota ficou sem entender, e Igor teve que salvá-lo.
— Viemos de Maceió, não é, Pedro?
— Isso.
— E vocês ficam até quando?
— Não sei, o Pedro é quem manda nessa viagem!
— Bem, nós partimos hoje.
— Hoje? Mas você não disse há pouco que queria ir só no fim de semana?
— Ah, então vai dar tempo de curtirem João Pessoa.
— Ah, mais ou menos, Nina. Eu nem posso sair muito da linha, tenho namorada. Mas o Pedro não.
Eles desciam as escadas enquanto conversavam. Como homem, Igor conhecia o melhor e o pior de Pedro, mas Nina não precisava saber do lado ruim. O lado bom, ele sabia, era extremamente sedutor. Mas será que Pedro havia percebido o plano? Se não, todo o esforço de Igor seria em vão.
— O que vocês servem mais aqui?
— Ah, massas!
— É a especialidade?
— Sim, é.
— Olha aí, Pedro, você adora macarrão e derivados.
— Se quiser, eu te indico um prato...
— Ah, faz isso sim, Nina. Pedro é o homem mais indeciso que eu conheço. Enquanto isso, vou ver as carnes.
Igor se afastou dos dois e fingiu indecisão ao escolher o que comer. Pedro e Nina ficaram sozinhos, escolhendo seus pratos.
— Você gosta de molho de tomate, Pedro?
— Gosto.
— Tem com orégano e sem.
— Melhor com orégano.
— Eu também prefiro.
Pedro ainda estava irritado com todo aquele ambiente, mas, quando Nina se calou, percebeu como ela era bonita. Respirou fundo e entendeu o que Igor pretendia com aquilo. Não gostou no início e resistiu apenas por saber que era um plano de Igor. Mas, ao pensar em Nina, considerou que poderia se redimir consigo mesmo ao ficar com uma garota—como se pudesse se "desinfetar" de Igor.
Eles realmente partiriam antes do fim de semana, mas talvez houvesse tempo para ao menos um beijo.
Quando o casal terminou de escolher suas refeições, Igor também se decidiu. Demorou de propósito para que pudesse se sentar em outra mesa.
— Será que Igor não nos viu aqui?
— Ele gosta de comer sozinho.
— Ah, entendi...
— Estávamos conversando sobre o piso lá em cima. Acho que só seu pai pode dar a palavra final.
— Mas Igor pareceu tão confiante.
— Sim, mas, mesmo assim, ainda temos que esperar seu pai decidir. Se ele optar pelo nosso material, voltaremos para João Pessoa.
— Hum, entendo.
— Não sei se Igor virá, mas, como meu pai é o dono da fornecedora, eu virei com certeza.
— Vem para entregar, não é?
— Isso, para fazer a entrega do piso. Mas sabe, nunca estive em João Pessoa. Se eu vier sozinho, acho que fico mais de dois dias, só para curtir a cidade.
— Ah, seria ótimo.
— Mas vou precisar de um guia... Ou melhor, uma guia para me mostrar os lugares por aqui.
— Ah, estamos aí, né?
Quem realmente precisava descansar era Igor. Ele não teve tempo para processar tudo o que havia acontecido nas últimas horas. Por um minuto, deixou de pensar na venda dos pisos, em Cícero, em Nina, em João Pessoa e focou no que havia ocorrido com seu próprio corpo. Ainda sentia suas novas sensações se acomodando. Era horrível pensar naquilo, mas necessário.
Ele nunca teve esperança de que sua primeira vez fosse perfeita, mas uma experiência vergonhosa era algo comum. Ser ameaçado de morte e enforcado logo em seguida, no entanto, era completamente diferente.
Minutos depois, o pai de Nina chegou, e a garota não perdeu tempo: subiu para o escritório com ele. Pedro olhou para Igor, que comia de cabeça baixa. Não acreditava que tudo aquilo havia sido um plano daquela mente.
Por alguns minutos, Pedro se arrependeu do que fez, mas não se dava por vencido. Ainda não haviam voltado para Maceió. Era lá que seus medos se concentravam. Se descobrissem o que aconteceu em João Pessoa, seria o seu fim.
Mas ele não conseguia pensar nisso agora. Pensava em Igor e em seu comportamento estranho: calado quando estava a sós com Pedro, animado quando cercado por estranhos.
Por fim, Pedro se sentiu aliviado por Igor não ter estragado a venda. Aliás, se não fosse por ele, tudo estaria perdido. Tudo! E Pedro sabia disso. Pela primeira vez desde que se encontraram, ele reconhecia o valor das ações de Igor.
Igor terminou seu almoço, pediu ao garçom uma taça de sorvete e esperou pelos próximos eventos. Pedro se levantou e foi sentar-se à mesa com ele.
— Você viu que o pai da menina chegou?
Igor olhou para ele, ignorou o comentário e continuou saboreando o sorvete.
— Acho que eles vão descer daqui a pouco e nos dar uma resposta.
E, de fato, não demorou muito. Nina, Cícero e seu irmão desceram.
— São eles, Igor.
— Ótimo, por que você não os cumprimenta? Vou estar com a boca ocupada!
Pedro voltou ao seu desespero habitual e se levantou.
— Pedro, é seu nome, não é?
— É sim, tio — respondeu Nina.
— Esse é meu irmão, Ronald. Somos todos Albuquerque.
— Tudo bem, Pedro?
— Tudo.
— E esse é o Igor.
— É, esse sou eu, com a boca suja de sorvete!
Igor se levantou e cumprimentou Ronald.
— Esse é o rapaz que quer porque quer nos empurrar os pisos.
— E vou conseguir, aguarde!
— Não seja tão confiante. Eu estava lá em cima ligando para o meu arquiteto, o mesmo que fez a reforma da minha casa. A ideia de pôr o porcelanato foi dele.
— Ah, então ele deve ter os pedreiros certos para a aplicação.
— Deve ter... Como assim?
— É, Ronald, o Igor estava me explicando que aplicar porcelanato não é como instalar cerâmica. A mão de obra é mais especializada.
— Mas porcelanato quase não se difere da cerâmica.
— Tem uma diferença grande. O material não é o mesmo, e o cuidado com a face que recebe o cimento é ainda maior. Pergunte ao seu arquiteto.
Ronald era muito mais sisudo que seu irmão, e Igor não conseguia ser bem-humorado com ele.
— Vou ligar para ele agora e perguntar.
Ele se afastou um pouco e pegou o telefone no bolso. Todos ficaram ansiosos pela resposta; parecia que os quatro queriam, por um motivo ou por outro, que a cerâmica vencesse. Igor não perdeu tempo.
— Nossa, que tenso. Parece até o último capítulo de novela.
— É! — respondeu Nina, rindo.
— Será que voltamos para João Pessoa para curtir as praias, Pedro?
Pedro, mais uma vez, não respondeu nada e, mais uma vez, estragou o pequeno plano de Igor.
— Bom, espero que venham pelo menos para conhecer as praias! — disse Nina.
Ronald voltou ainda falando ao telefone e parecia irritado com a resposta.
— Bom, é verdade, o cuidado na aplicação é maior. Mas é, sem dúvida, um material muito superior à cerâmica.
— Pode até ser... Bom, então ele tem o pessoal certo para a aplicação, não é?
— Não perguntei isso...
Ronald pegou o telefone novamente, mas não se afastou dali.
— Sim, sou eu de novo. E os pedreiros, você tem os homens certos para aplicar? ... Mas eles cobram mais caro? ... Mas por que, se é só para aplicar? Não é como a cerâmica? Esse negócio de diferença é pura enrolação, não é? ... Sei... Então tá certo. Tchau.
— E aí, pai?
— Ele disse que conhece apenas um que aplica, mas que é fácil encontrar outros.
— Bom, então como faremos?
— Temos o contato de vocês. Se mudarmos de ideia, ligamos.
— Então está certo. De qualquer forma, ainda estaremos na cidade, não é, Pedro?
— Certo.
— Então até logo... Nina, Cícero, Ronald. Até mais.
Eles estavam saindo e já haviam se afastado o suficiente para conversarem, mas ainda não tinham saído do restaurante.
— Pedro, você se lembra dos argumentos que usei para convencer o Cícero?
— Lembro...
— Convença a Nina com eles.
— A Nina?
— Sim, leve-a para algum lugar!
— Como assim?
Sem responder, Igor voltou rapidamente e mudou de assunto.
— Desculpem incomodar mais uma vez, mas eu nunca estive nesta cidade. Preciso ir ao shopping comprar umas coisas para minha mãe. Vocês poderiam me dizer onde fica?
— É complicado explicar...
— Poxa, Nina, ensina pra gente?
Poderia Igor estar enganado, mas, em sua mente, ele já havia convencido Cícero e Nina de que deveriam adquirir os pisos cerâmicos. Restava convencer Ronald, mas o tempo era curto e Igor não conseguia ser simpático e bem-humorado o suficiente para conquistá-lo. Restava uma única chance, e ele, com certeza, não era a pessoa certa para essa empreitada. A ideia estava clara para Pedro; restava-lhe agir depressa!
— Bom, eu teria que mostrar em um mapa ou algo parecido.
— Você não poderia me levar até lá?
— Bem...
— Na verdade, quem vai ao shopping sou só eu. Iríamos eu, você e Pedro e, quando chegássemos, Pedro traria você de volta. Depois, voltaria sozinho para me buscar.
Igor sabia como conquistar alguém, pois passou toda a sua vida sendo conquistado, mas sem poder aproveitar. Já Pedro sabia que era conquistador, mas não tinha ideia de como controlar suas qualidades e nem tampouco usá-las a seu favor. Nina ficou mais do que tentada com a proposta de Igor e concordou.
Ao chegarem à van, Igor fez com que a garota se sentasse ao lado de Pedro, sob a desculpa de que desceria no shopping e, portanto, precisava estar próximo à porta do carro.
— Então, Nina, o que você faz?
— Faço Administração. Sabe como é... negócio de família. A gente se prepara para suceder os pais.
— Ah, quem tem experiência nisso é o Pedro.
— Ah, é?
Mais uma vez, Pedro continuou calado e, pela primeira vez, de forma sutil, Igor demonstrou sua irritação.
— Pedro, não seja mal-educado. Não está vendo que temos companhia?
— É, eu sei bem... Porque sou o único filho homem do meu pai.
— Você tem irmãs?
— Uma irmã. Ela é um ano mais nova que eu.
— Nina, desculpa perguntar, mas quantos anos você tem?
— Vinte!
— Essa fase é boa, não é? A gente está sempre fazendo alguma coisa... Namorando, saindo, se divertindo... Seu namorado também faz Administração?
— Não tenho namorado... Vire à esquerda e logo vamos ver o shopping.
— Não precisa entrar no estacionamento, eu desço aqui mesmo.
Pedro estacionou rapidamente, pois não poderia parar por muito tempo.
— Quando estiver voltando, me ligue, Pedro. Nina, prazer em conhecer você!
— O prazer é meu, Igor. Volte mais vezes.
— Ah, quem sabe? Tchau!
Igor desceu da van, atravessou a rua correndo e logo desapareceu da vista do casal. Nina se afastou um pouco de Pedro para lhe dar espaço, e seguiram de volta para o restaurante. Ele sabia que precisava puxar assunto e que deveria demorar um pouco para retornar ao Família Albuquerque, mas não fazia ideia de como proceder, até que se lembrou da viagem de volta.
— Bom, o shopping nós já encontramos. E um supermercado?
— Dependendo do que você precisa, dá para comprar no shopping mesmo.
— Prefiro um supermercado... A menos que você esteja com pressa de voltar.
— Não, não, imagina!
— É que Igor e eu voltaremos hoje para Maceió. Precisamos nos abastecer de comida.
— Não vão passar o fim de semana aqui?
— Igor quer muito, mas é melhor voltarmos hoje.
— Por quê?
— Porque ainda precisamos encontrar outros possíveis compradores para o piso. Se começarmos a vender, aí sim poderemos nos dar ao luxo de demorar um pouco entre uma venda e outra. Por isso, se seu pai comprar, eu poderei passar mais tempo aqui quando vier.
— É... Meu pai é muito meticuloso com gastos.
— Pois é. E justamente por isso eu não entendo por que ele não compra o nosso piso...
Pedro, então, deu início ao plano de Igor: Nina precisava conhecer as vantagens de adquirir o revestimento cerâmico para convencer seu pai. O motorista não tinha muito tato para usar os argumentos de Igor, mas tinha algo que não conseguia controlar: era sedutor, mesmo sem querer.
Pararam em um supermercado, estacionaram e seguiram conversando. Enquanto caminhavam entre as prateleiras de biscoitos, Pedro, mais uma vez, conseguiu cativar uma garota sem sequer perceber. Confessou que era tímido.
Na verdade, o que o acometia era muito mais grave do que uma simples timidez, mas ele não saberia como descrever. Ficou, então, com "timidez". Nina achou tudo aquilo muito engraçado, ao mesmo tempo que se deixava envolver por suas palavras.
"Como pode ele ser tímido? É tão homem!"
— É até difícil acreditar nessa timidez. Mas, te vendo como vi hoje, não há como negar.
— Não gosto de pessoas estranhas, eu admito. Não me sinto bem.
— Não se sente bem ao meu lado?
— Você não é mais uma estranha. Se fosse, eu não teria dito que era tímido.
— Deve ser por isso que você ainda está solteiro.
Pedro parou e sorriu.
— Me senti um inútil agora.
— Ué, por quê?
— Para nós, homens, é difícil. Sempre exigem que tomemos a iniciativa. Imagina o que é para mim começar uma paquera!
— Mas você impõe respeito. Acho que algumas meninas devem ter medo de se aproximar.
— Por que eu assusto?
— Ah, porque você é grandão, tem porte. Das duas, uma: ou elas se intimidam ou se jogam. Mas as que se jogam nem sempre são confiáveis.
— Não, não são...
Pedro segurava uma cesta onde depositava os produtos que iam comprar. Nina pegou um dos biscoitos da prateleira e decidiu levá-lo.
— Posso colocar na cesta? Vou comprar para mim.
Quando ela se inclinou para pôr o biscoito, Pedro segurou levemente seu pulso, fazendo-a levantar o rosto. Eles se beijaram. Foi um beijo sutil, mas demorado. Ao fim, Nina finalmente colocou o biscoito na cesta, e continuaram as compras.
— Acho que essa foi uma das raras vezes em que tomei a iniciativa.
— Ah, é?
— Sim. Acho que eu realmente quis esse beijo.
Tudo era um jogo. Mas o jogador era Igor. Pedro era o seu joystick.
Sem perceber o impacto daquelas palavras, Nina se sentiu lisonjeada por ter feito aquele rapaz, aparentemente reservado, se arriscar por ela. Era pelo bem do próprio ego que ela precisava convencer o pai a permitir que visse Pedro outra vez.
— Chegamos!
— Sim, chegamos.
— Nos veremos de novo? Será?
— Espero que sim. Se houver outra venda de pisos pelo Nordeste... Recife, por exemplo, pode ser que eu passe por aqui. Mas ficarei pouco tempo.
— Ficaria mais tempo se vendesse aqui mesmo em João Pessoa?
— Com certeza. Mas, pelo que sei, só o restaurante da sua família tem nossos pisos. Então, o único comprador possível é seu pai. E, pela conversa dele...
— Meu pai é meio teimoso mesmo.
— Mas eu não o julgo. Só que as vantagens de comprar nossos pisos são bem maiores.
— Papai fala há muito tempo sobre fazer delivery, ampliar o restaurante...
— Pois é. Ele poderia usar a economia para isso. Nossos pisos são baratos!
— Sim, e tem também tudo aquilo que você já me disse.
— Sim... Bem, mas está ficando tarde. Por mim, eu dormiria em uma pousada por aqui mesmo. Afinal, chegamos hoje e eu vim dirigindo.
— E volta dirigindo?
— Sim. Igor não dirige.
— Não é perigoso?
— Não muito, se formos agora, durante o dia. E eu conheço bem Recife. Quando chegarmos lá, saberei me virar.
— Bom, então...
— Então...
— Tchau!
— Até mais. Quem sabe?
Nina desceu da van e entrou no restaurante. Pedro ficou um tempo ali parado, precisava de um minuto sozinho. Não passava muito tempo sem pensar em Igor e percebeu que todas as palavras que saíram de sua boca haviam sido planejadas. Mas não por ele. Sabia que precisava conquistar a filha de Ronald, mas não sabia como. Pedro nunca precisara de tanta conversa para ficar com uma garota. E, se precisasse, logo desistia dela. Ele não era de perder tempo com estranhos. Se não se sentisse íntimo rapidamente, se afastava. E, mesmo depois de Nina tê-lo beijado, Pedro não se sentiu mais próximo dela, nem menos tímido. Apenas mais corajoso. Ele não queria desapontar. Mas a quem? Será que não queria decepcionar o pai ou Igor?
Voltou ao shopping e ligou para Igor. Em mais ou menos cinco minutos, o rapaz apareceu com algumas sacolas, entrou na van, bateu a porta e se encostou na janela. Com os próprios pés, tirou os sapatos e começou a desabotoar a calça. Pedro começou a dirigir, mas não conseguia evitar olhar para seu companheiro de viagem. Igor não tinha mais aquele pudor que sentira quando Pedro o viu nu pela primeira vez, enquanto tomava banho. Foi tirando a calça com dificuldade até jogá-la dentro de uma das sacolas, de onde pegou um short parecido com o que usara na noite anterior. Ele havia comprado outro e nunca mais usaria o antigo. Agora, estava pronto para enfrentar a viagem de volta.
Pedro sentia uma angústia crescer dentro de si. Questionava-se sobre o fato de Igor ainda não ter perguntado como ele havia se saído com Nina. Afinal, tudo aquilo era parte de seu plano, algo arquitetado em pouco tempo, mas com muito cuidado e inteligência. Como Igor poderia não se importar? Mas Pedro também não falaria. Agora, não por raiva, mas por vergonha. Não era de sua natureza iniciar conversas, e não faria isso com Igor.
A viagem seguiu até que chegaram ao posto de gasolina onde haviam tomado banho antes. Pararam. Pedro buscou sua mala e retirou roupas limpas e uma toalha. Já era fim de tarde.
— Vou tomar banho.
Igor nem sequer olhou para ele. Soltou-se do cinto de segurança e começou a cochilar. Pedro tomou um banho rápido. O banheiro parecia mais sujo que horas antes e estava mal iluminado. Saiu sem camisa, com a toalha pendurada no ombro. Estava pronto e desperto para continuar na estrada. Ao chegar à van, Igor já dormia profundamente e não acordaria por nada. Partiram em direção a Maceió.
Lá, Pedro abasteceu o carro e seguiu viagem pela noite, os faróis cortando a escuridão. A cada quilômetro percorrido, seu medo aumentava. O que Igor teria a perder se contasse a alguém o que acontecera? Ele tinha tudo nas mãos, dominara toda a venda e possuía um talento natural para convencer qualquer um de que sua verdade era irrefutável. Não só o medo aumentava, mas o ódio retornava. Era um tipo de ódio menor, mas consciente. Estava claro que Igor era um inimigo, e eles competiriam em tudo. Igor era inteligente, simpático, criativo, uma pessoa fácil de se conviver. Competiriam pelo sucesso da venda dos pisos, pela administração do futuro hotel, pelo espaço no quarto que dividiam, pela atenção de Silveira e tantas outras coisas para as quais Igor parecia mais apto.
A vantagem de Pedro era que, embora não tivesse habilidade para tudo isso, ele sabia ser competitivo (a seu modo) e aparentava ser capaz. Já Igor, pela pouca idade, ainda não conseguia evitar que as pessoas o vissem como um menino. Então, o que ele teria a perder se contasse a alguém que Pedro era bissexual? A vida?
Quando a van adentrou o casarão, Igor acordou. Pedro deu a volta no jardim e estacionou. Teriam alguns minutos de descanso, pois pareciam estar fora havia mais de uma semana. Ao parar o carro, Silveira acendeu a luz da sala, assustando os viajantes.
— Chegaram, finalmente!
— Oi, tio.
— Devo lhe dar os parabéns agora? O pessoal de João Pessoa ligou. Eles vão ficar com os pisos!
— Vão? Bom, então parabenize o Pedro. Se vendemos os pisos, foi graças a ele!

Continua...

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