Ascensão das Sombras - Capítulo 3 – A Primeira Sombra
O peso do Livro das Sombras em suas mãos parecia maior do que deveria. Suas páginas negras, com símbolos arcanos que pulsavam fracamente em um brilho azul-prateado, pareciam… vivas. Como se o livro estivesse respirando, esperando por algo.
Jace sentiu o coração martelar no peito. Ele ainda estava na masmorra. O cheiro de sangue seco e pedra úmida impregnava o ar. O silêncio absoluto fazia sua pele se arrepiar.
Ele olhou para si mesmo. Sua camisa ainda estava rasgada onde Hector o ferira, mas sua pele estava intacta. Ele estava… curado.
“Isso não é possível…” murmurou para si mesmo, passando os dedos sobre a área onde deveria haver uma ferida fatal.
Mas antes que pudesse sequer processar o que estava acontecendo, um som ecoou pela caverna.
Passos.
Rápidos. Irregulares.
Jace congelou. Algo vinha na direção dele.
Ele instintivamente apertou o livro contra o peito e se arrastou para trás, pressionando-se contra uma parede rochosa. O brilho fraco das tochas iluminava uma silhueta cambaleante, arfando de dor.
Então, ele a reconheceu.
Lyra.
Seu coração pulou no peito. Ela estava viva.
Mas mal.
Seu braço esquerdo pendia em um ângulo errado, quebrado. Havia sangue escorrendo de um corte profundo na lateral de seu rosto. Suas roupas estavam rasgadas, e seus olhos estavam arregalados de pavor.
Quando ela o viu, parou abruptamente.
“Jace?” Sua voz saiu rouca, incrédula.
Ele não soube o que responder.
Lyra olhou ao redor, como se esperasse encontrar mais alguém. “C-como você ainda está vivo?”
Jace sentiu um nó apertar sua garganta. O medo e a raiva se misturavam dentro dele. Ele queria gritar com ela, perguntar por que ela não lutou por ele? Por que ela não impediu Hector?
Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um rugido ecoou pela caverna.
Um frio cortante percorreu sua espinha.
Lyra se virou bruscamente, tremendo dos pés à cabeça.
Então Jace viu.
A criatura que a perseguia.
Era um monstro diferente dos outros que enfrentaram antes – mais alto, mais humanoide, com garras finas e olhos vazios, brilhando como faróis azuis na escuridão. Sua pele era pálida como ossos antigos, coberta por fendas negras que exalavam névoa sombria.
Ele sentiu sua magia.
Densa. Opressora. Letal.
Lyra tropeçou para trás, sua voz mal passando de um sussurro. “Ele… Ele já matou os outros.”
Jace arregalou os olhos. “O quê?”
Ela olhou para ele, e agora Jace viu o desespero em seu rosto. “Hector… Dorian… Todos. Ele os caçou. Um por um.”
O sangue de Jace gelou.
O grupo que o abandonou… estava morto?
O monstro deu um passo à frente, e a caverna inteira pareceu estremecer.
Jace sentiu sua respiração acelerar. Ele não podia fugir. E, pela forma como Lyra tremia, ela também não.
Eles iam morrer ali.
Mas então…
O livro sussurrou.
Jace piscou, sentindo o som invadir sua mente. Como um eco distante, um chamado que ele não sabia de onde vinha, mas que era impossível ignorar.
Suas mãos tremiam quando ele o abriu.
A página brilhou, e os símbolos começaram a se mover sozinhos, se reconfigurando diante de seus olhos.
E então, ele leu.
"Aquele que caminha entre sombras, venha a mim."
A energia explodiu ao seu redor.
O chão rachou. A luz das tochas piscou.
E a sombra de Jace… se moveu.
Lyra soltou um grito engasgado quando algo emergiu do chão atrás de Jace. Algo alto, envolto em uma escuridão pulsante.
Jace sentiu uma conexão imediata, como se o próprio ar ao seu redor tivesse mudado. Como se ele… tivesse chamado aquilo à existência.
O monstro à sua frente rosnou, mas hesitou.
A criatura que Jace invocara levantou a cabeça. Seus olhos – negros como o vazio – brilharam por um instante antes de desaparecerem novamente na escuridão que formava seu corpo.
E então, sem um som, ela atacou.
As sombras envolveram o monstro, engolindo-o completamente. Ele se debateu, rosnou, tentou resistir… mas era inútil.
Jace sentiu. Era parte dele.
A criatura gritou uma última vez.
E então, desapareceu.
Silêncio.
Jace ficou parado, atordoado, enquanto as sombras recuavam, voltando para seu próprio corpo. Ele sentia o poder correndo em suas veias, vibrando em cada célula do seu ser.
Ele não era mais fraco.
Ele não era mais um peso morto.
Ele era algo diferente.
Lyra, ainda caída no chão, olhava para ele com puro terror.
E Jace percebeu.
Agora, ela tinha medo dele.
Ele fechou o livro, e o sussurro cessou.
Então, ele se aproximou de Lyra, olhando para ela de cima.
“Você perguntou como eu ainda estou vivo?” Sua voz era fria, controlada.
Ela assentiu freneticamente, os olhos arregalados.
Jace sorriu – um sorriso lento, calculado.
"Eu mudei."
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